Sempre defendi a dignidade dos homens. Naquelas famosas rodas de discussão com as amigas, o discurso jamais mudava. As palavras formavam um recheio de boas recomendações e ataques azedos às mulheres. Nunca me esquivei de encher a boca ao soltar o verbo defensivo. No entanto, os fatos me fizeram um pouco imparcial. Eis que surge a sinceridade. Os amigos que me perdoem, mas preciso admitir as nossas escorregadas.
A história começou com um telefonema num sábado ensolarado de outono. Era um grande amigo com um convite irresistível. Uma festinha com as amigas do tempo da faculdade. Não tinha nada demais. Apenas mais um divertimento à vista. Mesmo assim, procurei uma boa desculpa para desmarcar o compromisso já firmado com a namorada: disse que estava indo ao sítio para uma reunião de família. Ok. Tudo certo.
No carro, em direção à festa, cuidados mais do que necessários. Vidros fechados para disfarçar a mentira. E assim começou a peregrinação da falsidade. Passamos na casa de mais dois amigos. O esquema: nada diferente. Os óculos escuros ajudavam a trazer mais tranqüilidade para a perigosa operação. As desculpas? Jogo de futebol, uma tarde de estudos para a prova da faculdade e uma visita na casa da avó.
Para as namoradas, o adiamento de um encontro. Para nós – homens mentirosos – a festa. E sabe que os reis da mentira até que foram bem recebidos no churrasco?! Saborosos pedaços de picanha no prato, boa conversa, ótimas companhias. O sorriso de felicidade momentânea fazia parte da aparência de bom moço. Os celulares foram desligados para não dar brecha à dolorosa verdade. Normal para uma situação de risco como aquela.
Mas o relógio da parede da cozinha já denunciava o próximo passo: a estrada. Era hora de voltar. Abraços ali, beijos acolá. Tchau. Pela estrada, um festival de histórias que marcaram aquele sábado (nem tanto) inesquecível.
Tudo certo mesmo até o primeiro celular ser ligado. Segundos depois, ele tocou.
Primeira desculpa (com a voz melosa).
- Ah, amor, estava jogando bola; por isso, que desliguei o celular.
Segunda desculpa (bem rápida e, talvez, incontestável).
- No sítio onde eu estava não pegava celular.
Terceira desculpa (uma pergunta com a resposta nas entrelinhas).
- Como posso me concentrar nos estudos com o celular ligado?
Quarta desculpa (um pouco forçada, mas que deu certo).
- Tive que dar atenção à minha avó. Achei melhor desligar o celular!
O final de cada história foi feliz, como sempre. E nós, homens, somos mesmo cachorros – como sempre.
- Vinícius Novaes
- Vinícius Novaes