Mulheres de Nossa História

SUPER-MULHERES QUE FIZERAM NOSSA HISTORIA DESDE 1830

Se toda cidade tivesse a obrigatoriedade de registrar em sua trajetória histórica as mulheres que deram sua existência em prol da própria existência das cidades, acho eu que tudo seria mais belo em suas memórias. Elas, através dos tempos fizeram com que a sociedade e coisas se presenteassem nas suas lembranças e ações através dos tempos. Bibliografar suas presenças, impor sua lembrança, tentarei, ao nomeá-las.

Nesta crônica, falo em muitas destas figuras e nunca é demais retornar ao assunto porque, afinal se não fossem essas mulheres nenhum de nós estaria aqui para escrever ou ler.

QUE CADA UM FAÇA SUAS BIOGRAFIAS

Sula, Zizinha Moura, Titinha, Nhasinha (Alice Lacerda), Ilda Ramos, Jacyra Durval, Myrsys, Thereza Pereira da Silva, Anita Parada, Lia Koop, Sonia Rocha, Delza, Santa Lobo, Cici Mathias Netto, Honorina, Arlete Pinto, Dioneia, Dinorah, Eleosina, Cirene, Flavinha, dona Senhora, Inês Patrocínio, Etelvina Quinteiro, Dolores Soares, Santinha Marques Monteiro, Carmen Sólon, Inezita Garrido, Consuelo, Julita, dona Afifi e dona Fifi, dona Elisa, Durvalina, Detinha, Amelia Brasil, dona Cota, parteira dos Cajueiros e mãe e Tinho Pedro Muleta, Letícia Peçanha e Letícia Carvalho, Albertina, Ecila Lacerda, Brandina, Pastora, Noca, Lala e Lilinha, dona Ermita. Zilda Aguiar, Angélica, dona Dega, Nilza Mello, Berenice, Elea Tatagiba, Lopelina, Henriquieta Marotti, Iza Franco, dona Delzinha, Maria K, dona Zélia da Bicuda Pequena, dona Oscarina, Santinha Santos, Suraya, Zenita e Zelita, Maria Drumond, Aracy Pareto, Iracy e Erecê, dona Lola, Estelita Lima, dona Maria Castro, Ilda Barreto, Marieta Peixoto, Maria Jose e Emilia Peixoto, dona dada, Wanda Gil e dona Rita, Irene Santos, Dalila Colares Quitete, Anita Franco, Totinha, dona Cota, dona Pequena Almeida, Alvina Prata, Conceição Prata, Carmem Quaresma, dona Concy e dona Duia, Ivone Manhães Coelho, Maday, dona Nefta, Judith Cabeleleira, Maria Lucia Piersant, Izaura e Conceição Ramos, dona Domingas, mãe de vovô, Palmira, Lucia Magalhães, esposa do nosso Lealdino do Morro do Viaduto, Maria Jose Guedes, dona Iracy Quaresma, Zezé, mãe de Ducha da J. Koop, Pepenha Sueiro, Luiza Parteira da Barra, Altina Parteira do Centro, Adelayde Bastos da Silva -a mãe dona- que nasceu em l830, morrendo em l947 sendo raiz dos Silvas, Tavares, Ribeiros e Almeidas que habitaram e formaram as raízes desta cidade.

Dona Carmelinda Mattos, Maria Oliveira, mulher de Constancio que todos os ferroviários dos anos 40 sabem de quem falo, Neuza da Silva França do Miramar, Dona Artemia, Léa Macedo, Zezé Madureira. A busca por tentar tornar eternas as presenças destas mulheres na história de Macaé não tem sido fácil.

Embora suas presenças vivas tenham sido, em sua maioria nos anos onde a cidade tinha poucos habitantes, longe de facilitar a minha busca, se torna uma missão muito desconfortável porque muitas senhoras podem ficar no fundo frias no meu esquecimento. Se algumas não forem citadas que sejam debitadas mesmo ao esquecimento porque não me move nenhum objetivo que não seja contribuir para a história que vivi no convívio com elas ou ouvindo delas por outras pessoas que me foram afetivas.

Tentarei, no entanto, ao invés de nomear com bibliografias estas mulheres históricas, na medida do possível apenas colocar seus nomes na evidência de suas passagens na vida da comunidade macaense.

Se alguma não for descoberta quero que seja entendido como esquecimento do autor, que, afinal, trabalha com sua própria mente e fatos que vivenciou ou que lhe foram passados ao longo de sua vida.

A continuação das nominações futuras e merecedoras das novas mulheres que estão forjando a vida da cidade, nos últimos anos, com a chegada do desenvolvimento(?) fica para outros memorialistas.

As parteiras

Macaé, até final dos anos 60, engatinhava uma vida pacata, com idas e vindas de seus poucos habitantes. Ruas desertas, poeiras, cadeiras nas calcadas, " bom dia, boa tarde e boa noite" faziam parte do cotidiano. Muitas mulheres formavam as nossas raízes. Muitas vindo de cidades e vilas vizinhas como Conceição de Macabu, Carapebus, Quissama, Glicério, Frade, Sana, Trapiche, Cachoeira de Macaé, Bicudas, Airys, iam se juntando as famílias que aqui residiam.

Parentescos eram comuns à grande parte dos habitantes. Além do que as parteiras, em grande número nesta época, recebiam da maioria dos moradores as beijadas nas mãos em forma de benção. Era uma maneira afetiva das crianças cumprirem ordens maternas na identificação de quem os fez chegar ao mundo.

Parteiras da Barra do Rio Macaé, do Centro da cidade, de Imbetiba, da Aroeira e da Boa Vista eram reverenciadas afetivamente, da forma mais linda que uma cidade pode oferecer a quem o fez nascer.

Com o crescimento da cidade e a chegada de enfermeiras e médicos, elas foram se tornando extintas na ação de seu trabalho, mas jamais deixaram de estar presentes nas memórias de todos que tiveram o doce privilégio de conhecê-las. É o caso de dona Durvalina, dona Elisa, dona Altina, dona Luiza e outras tantas que habitaram esta cidade de curta memória.

Usar os ternos de linho branco, passados e lavados por Pepenha, negra esposa de Sueiro, era um orgulho para os senhores comerciantes dos anos 40 e 50. Que os diga seus descendentes. E o orgulho de ser abençoado por alguma das nossas parteiras? Que falem quem tem mais de 50 anos.

'Educando, sorrindo, ensinando, educando....

A luta dos ferroviários por melhores condições de vida e trabalho tinha sempre lado a lado, ombro a ombro, mulheres como Neuza França, Maria de Constâncio, Carmen de Walter Quaresma, e outras que, com a memória aberta, relatarei.

O trabalho árduo de alfabetizar dezenas de homens rudes, saídos das fornalhas e fornos de Imbetiba, depois de um trabalho subumano nas garras do capitalismo inglês era feito pelas professoras que se dedicavam a ensinar a estes homens um pouco de leitura e carinho. E era dona Calmerinda Mattos que abria junto com seus cadernos, lápis e borracha o seu coração informando a todos estes bravos homens rudes dos anos 40 e 50 que havia um mundo também para quem soubesse ler e escrever.

Dona Calmerinda marcava sua existência de uma professora, não formada, na formação de gente que deu origem a várias descendências de Macaé. Como ficar fora da lembrança o trabalho social e humano que dona Zezé, mãe de Ducha, fazia no anônimo de sua vida? Ela, Neuza, Carmem e Maria de Oliveira estavam sempre ombro a ombro com seus companheiros na batalha por melhores condições de trabalho e vida.

O sacerdócio na educação deve ter suas origens no trabalho carinhoso de dezenas de mulheres que cimentaram a vida da comunidade de Macaé. Hilda Ramos, Letícia Carvalho, Dona Madalena de seu Chisto, Jacyra de seu Paulino Durval, Lia Koop, Dionéa, Dolores Soares, Letícia Peçanha, Berenice, Elea Tatagiba, Henriqueita Marotti, Iza, Zélia, Angélica, Santa Lobo de Cacheira de Macaé, Dalila Colares Quitete, Nefla ou Maria José de seu José Carlos formavam, com outras dezenas de mulheres professoras, o áureo cultural que ornavam as mentes de milhares de jovens macaenses nestes anos de alegres encantamentos. Sucessoras de outras mestras como Thereza Pereira da Silva, Anita Parada, Lucia Gama, os pilares da educação de nossa cidade sempre estiveram fortalecidos pelos dotes humanos destas mestras que, no esquecimento de algumas, deixo para outros reescreverem fatos não relatados.

Pequenas escolas isoladas, outras em casas das próprias mestras, era o comum nestes anos que precederam o progresso (?). Os acordes do piano de dona Honorina, de Inês Patrocínio, de Carmen Sólon, Maria Jose Borges Guedes ou de Flavinha de seu Manduquinha, ainda devem sonorizar sonhos em muitas cabeças macaenses embranquecidas pelo sereno da vida. Feliz seria toda cidadezinha de interior que pudesse passar para seus filhos as histórias que busco fazer vivas neste meu livro. Era hora de desligar as televisões e sentarem nas saudosas cadeiras nas calcadas e desfilar o cotidiano lindo dos imaginários vividos. Mulheres Raízes que derem uma cidade de quase 200 anos merecem ser imortalizadas e reverenciadas longe das homenagens frias do social. Apenas pelo esquentamento de trabalhos com o social de suas existências.

Delza, Terezinha Loureiro, Noca, Sila, Santinha de doutor Marques Monteiro sobressaiam nas esquinas da vida desta cidade com atendimentos sociais e afetivos que suas presenças faziam fluir. Detinha, a fiel companheira de nosso Tonito, a baiana de Salvador que nas nossas ruas ainda caminha com sua altivez e beleza.

Onde poder deixar de fazer vivas as presenças destes vultos que nunca morrem? Mulheres que fizeram nossa historia como dona Zezé Madureira do Jorge Costa do O REBATE que tive a honra de suceder num tempo em que jornal se fazia letra por letra. Gente anônima. Mulheres felizes e que nos eram apresentadas como antecessoras de outras que fizeram tantas outras vivências. Dona Dega, Delzinha, Oscarina, Pastora, onde se podia ver a estampa da fidelidade e do afeto familiar no transbordamento de seus olhares e cumprimentos.

Gente que passeava em nossos corações e nem sabia que estava formando a essência de uma geração forte e decididamente macaense. Inezita , Amélia, Magda, Etelvina,Zilda Aguiar, Albertina, Brandina, Lala e lilinha, Cici Mathias Netto, Gilda Correia, Arlete Pinto jamais poderiam imaginar-se essência de uma cidade que ficaria pequena nos anos 2000, mas que jamais deixaria que as suas raízes ficassem encobertas no subsolo de uma terra não fértil. Embora regadas com poucas águas, algumas até com o suor ou as lágrimas das saudades, estas senhoras se juntaram a tantas outras na formatação de uma cidade que nunca deveria ter saído de sua pureza e beleza.

Nos acordes da Lyra dos Conspiradores e da Sociedade Musical Nova Aurora, ainda ressoam nas mentes as imagens de mulheres que souberam sobressair-se numa época de puro machismo e paternalidades. Dona Lola, Marietta Peixoto, dona Cota, Alvina e Conceição Prata se juntavam à dona Pquena Almeida, a mãe de Bonga e a esposa de seu Murteira para a formação de novos elos na corrente desta cidade que ainda não tinha chegado ao seu Sesquicentenário. Morgadinha de Benedito Lacerda, Ondina Lacerda, Doca, dona Nefla, Domingas Almeida e Domingas, mãe de Vovô e Arthur faziam o caminhar diário por nossas ruas sem se aperceberem que estavam fazendo história, que estavam espalhando à genética que iria viver e reviver-se no desabrochar do século do progresso. Dona Palmira, Dona Irece Meirellis, Judite Cabeleireira, Sara de seu Selino, pilares de famílias inteiras de descendentes faziam parte deste pequeno grande mundo de uma cidade de pouca lembrança.

Oneida Terra, na busca de entender uma luz maior que vibrava na mente de seu filho, criou uma instituição que honra toda uma comunidade. Usou o nome do consagrado Pestalozzi e presta, com seu trabalho um lindo favorecimento a centenas de pessoas carentes. A década de 80 primou-nos deste belo trabalho de Oneida.

E Beth Neves que transformou o aprendizado do Reik em maneira de levar a doutrina do amor e da fraternidade em seus toques sutis de uma luminosidade que só pessoas dotada destas energias podem irradiar e fazer se presente. Mulheres mães, companheiras como Edith, Alice e Talita, trilogia de uma genética de mulheres que deixam sua marca na presença de atos que dignificam qualquer passado e fazem brotar saudades nas lembranças.

Elas também são artistas

As telas de Sônia Rocha, Anatalia, Rozanea Pimenta, Maria K., Carmen Lygia e Consuelo jamais deixarão de existir no formato de suas representações do belo sem que se possa esquecer que foram feitas no calor das energias que sempre existirão em Macaé desde os primórdios da nossa arte. Aqui repousa as manifestações artísticas de Takaoca, Olive, Waldemar da Costa, Nilton Carlos, Jojo, Renaut e tantos outros que, ao sol de nossos verões e ao vento das ilhas souberam colocar nas telas, como estas senhoras o privilégio que poucas cidades pode oferecer no belo de sua geografia. Feliz o Belegard por ter visto na nossa geografia este singular belo. Raízes, mulheres e senhoras de uma cidade Pura como bem o disse meu amigo Paulinho Mendes Campos, quando de sua vinda atendendo ao chamamento do O REBATE . Paulinho, Jose Carlos Oliveira, Olga Savani, Jaguar, Alberto Reis, Egberto Ginsmont, Geraldinho Carneiro, faziam parte do júri do 1 o .Festival de Música que, no final dos anos 60, o jornal O REBATE realizou.

O ano era mesmo de 68. O olhar de Paulinho foi lhe dando a dimensão da cidade que ele nunca tinha visto. Como todo escritor que se ilumina, mesmo estando na presença de multidões, a mente de Paulo Mendes Campos lhe clicou, quando de seu comentário em jornais do Rio de Janeiro, a visão de Macaé como cidade pura. Esta pureza ele foi vendo ao olhar as ondas mansas de imbetiba, ao contemplar as bravias dos Cavaleiros e, ao fitar com recordações de sua própria infância em Minas Gerais, o caminhar de moças e rapazes no centro da cidade, quando tomava café no Belas Artes com Ary Duboc, seu velho amigo de boemia, nas ruas também calmas de Ipanema. A visão de cidade pura que Paulinho retratava tinha e tem muito a haver com estes relatos de gente dos anos 40, 50 e 60 nesta cidade.

Progenitora

A respeitável presença de dona Ermitã Ferraz nas nossas ruas, seu vulto, alto, caminhando pela rua do meio, indo e vindo no comércio fazia desta senhora o que de mais belo se podia esperar. Responsável pela criação e mãe de outros tantos ela nos deixou o legado de uma vida e uma genética que espalharam por toda a comunidade sua descendência. Macaé nos anos de 60 ate final de 70 se podia mesmo se considerar uma cidade Pura. Mesmo com a destruição de imbetiba, berço de nossas historias e alegrias, vulto de mulheres continuavam a bailar nas mentes de historiadores e amantes do belo. Jane Martins Marialva Neto, Maria Helena Pereló, Lenice Sucena, Dagnar Pereira (Mazinha) se faziam presentes nos desfiles como nossas pirmeiras " Miss Macaé ". Sonia Rocha, miss Bahia, sucessora de Marta Rocha, ainda não tinha chegado em Macaé quando estas senhoras desfilavam. Era mesmo uma cidade pura esta Macaé, hoje capital nacional de petróleo (?).

As praias ainda tinham ondas com cheiro de maresia no Forte e na Imbetiba. Os cocos que boiavam eram de algum mergulhador gozador que defecava enquanto se sentia só no nadar solitário. A defecação multinacional, saída dos navios ancorados em Imbetiba turvou as límpidas ondas e jogaram para o fundo da lembrança o fim triste de uma linda praia. As aulas de dactilogria, muito antes do computador que escrevo, deleto gente e crio imagens, eram ministradas no velho casarão do seu Gastão. Dona Myrss, dona Nancy eram as presenças em nossas horas de aula no asdfg....;lkjh...

Bons tempos da Hemintgon. Enquanto elas iam fiscalizar outros alunos a gente olhava furtivamente, nos enganando, por debaixo da viseira afim de sair logo do asdfg e Passar para outros exercícios. Mulheres vivas em lembranças, como dona Dioneia de Jorginho Itaperuna, seu filho gênio que nos deixou saudades.

Cidade de mulheres à frente de seu tempo. Contadoras, comerciantes, companheiras, mulheres. Nice Moura, Guiomar, Luiana, Conceição, Mary Jacaré, Iolanda França, Estelita Lima ou dona Senhora. Mulheres que iam á luta e voltavam para a luta da casa com filhos e companheiros. Merendeiras, professoras, enfermeiras, comerciantes, vendedoras de sonhos como a meiga e doce Julita, sogra do meu companheiro Waldyr Tavares. Mulher líder como dona Elmira, nossa eterna mãe maior. Enfim, vou rebuscar esta minha cabeça e tentar escrever mulheres de nossa historia, desde Adelaide Bastos da Silva em 1830, passando pelas aulas de Santa Lobo e Alice Lacerda em Cachoeira, até os dias que antecedem a chegada do Petróleo. Alice Lacerda depois iria abrir em sua residência aulas juntamente com Pierre, onde Angélica, Ecila e Moacyr do Carmo dariam os primeiros passos no abc de suas vidas. Beirava o ano de 1920 estes últimos fatos. Os Muros, os Lins e os Francos eram educados, nesta mesma época, em Cachoeira de Macaé, Bicuda e Areia Branca por Santa Lobo.

Mais tarde chegaram Iza, Zélia e outras para dar seguimento a esta linda missão educacional. Ana Benedita, Irene Meirellis, dona Cirene, Déa Coelho, Ivonildes Souza, Leda Marques e Vanilde, pacientemente iam fazendo de suas vidas as histórias de nossa vivência educacional.

Curando chagas

Sula Vieira nestes anos 60 e 70 fazia de suas madrugadas uma profissão de fé e amor ao próximo. Das pernas de homens simples possuidores de chagas incuráveis ela, com o divino manejo de dedos docemente leves iam transformando em amor às horas de descontração de tantos quantos destas chagas eram portadores. Gases, água e uma voz saída de seu interior com preces ajudavam a mais um dia de caminhada pelos que iam, em filas, ao Centro Pedro, em busca de afeto. Sula cantarolava, fazia preces, brincava com estes pobres navegantes humanos, lindos em seus olhares de gratidão por esta santa senhora. Sula não morreu, ela VIVE ainda em todas as mentes que tiveram o privilégio de vê-la neste planeta de sofisticadas loucuras e de poucas caridades reais.

Acolhedoras

Abrigando gente, se fazendo por mãe de todos e com a divisão de seu alimento com tantos quantos iam em sua casa, lá estava dona Santinha Marques Monteiro. Foi ela que presenteou a cidade de Macaé com a queridíssima Waltina, companheira de Cezar Jardim. Waltiva era tão linda em seu interior e tinha um olhar tão meigo que aí por toda a cidade você pode se esbarrar com seus descendentes. Chicão que o diga, não é, meu velho amigo? Macaé deveria mesmo fazer algum histórico de suas mulheres, principalmente de senhoras como Santinha e Waltiva. Abrigou dezenas de jovens solitários por algum período de suas existências como o próprio autor que escreve esta longa crônica. Maria Helena Salles e Ana Maria, para não falar de outros tantos que eram misturados com seus filhos, Geraldo e Alicinha, e abraçados como filhos também. A história de uma cidade se faz com gente deste quilate e não com fantasias ocasionais em matérias pagas em jornais de épocas. A verdadeira história de uma cidade, não se escreve com 30 ou vinte anos de existência. Ela está cimentada na busca de atos e fazeres que romperam os 50 anos e ficaram gravados nas mentes de forma indelével.

Por isso é que mulheres, companheiras e contemporâneas se sobressaem de forma livre, cristalina e doce quando se procurar referir-se a estes vultos femininos da historia de Macaé. Que outros façam suas historias daqui 40 anos. Estas, no entanto é a nossa história.

Jacyra, a guerreira

Sempre alheia ao que lhe pode ocorrer, mulheres se sobressaem em vários setores do mundo macaense. Um dos muitos exemplos foi o de Jacyra Campos. Deixou de lado, casa, visinho, parentes e um grande círculo de amigos em São Gonçalo, RJ. Pegou a filharada, um montão de crianças, colocou tudo debaixo de braço e disse : "Vou começar tudo em Macaé" . Aprendeu bater foto, abrigou uma imensidão de criança, seus e os que criava e veio fazer a cabeça de seu companheiro Lívio, que se empenhava em lutar pelo povo como jornalista e fotógrafo. Guerreira, Jacyra espalhou sua saga de mulher e os frutos ela colheu ainda em vida com netos e bisnetos.

Ajudando aos explorados

Quando o médico Julio Olivier atendia os humildes nos anos 20, ele o seu irmão, também médico, Nelson Olivier, por detrás deles estava uma forte mulher, dona Marietta Olivier, companheira de Julio que dizia aos seus ouvidos: " vai, Julio, atenda a todos . São tão pobrezinhos, nem dinheiro pro remédios eles têm" . Num destes atendimentos à pobreza de Macaé. Nos anos 20, Julio, foi encontrado sentado num banco de jardim da Praça da Igreja Matriz. O padeiro, pensando que ele descansava, tentou acordá-lo. Estava morto o "Medico dos Pobres de Macaé" tentando ser acordado por um simples padeiro de nossas ruas.

Era assim com Maria Aparecida Costa com o Humanista Manoel do Carmo Lozada nos anos 60. E com dona Santinha com o Sanitarista Marques Monteiro nos anos 60. Mulheres macaenses sempre no empurrão das ações sociais de seus companheiros.

Embaixadoras da cidade

Mulher, companheira, amiga mulher. Nicle, esta mulher macaense que impulsionava o escritor Luiz Lawrie Reid em suas beneméritas ações caritativas. Nicle Reid um nome desconhecido na historia de Macaé. Também pudera. Ela nunca quis aparecer. Nem quando seu marido, o macaense Luiz Reid fez doações para a construção de nosso maior estabelecimento, ela quis deixar sua presença. Apenas dizia que em cada mãe que tivesse visto o filho estudar num colégio amplo arejado e, de preferência gratuito, ela estava presente. Dona Nicla participava de nossa história no dia a dia da paulicéia, onde morava. Mesmo depois de Luiz Reid ter deixado este mundo ela mantinha contato com Macaé através de cartas e lembranças desta terra, que ela amava e fazia questão de citar sempre em suas andanças pelo mundo. Nicla Reid, uma mulher de nossas histórias. Uma mulher esquecida por tantos e muitos que deveriam lembrar. As poucas vezes que os Reids vinham em nossa cidade procuravam se deliciar com as belezas de nossa culinária que ela, Nicla, não se fartava de elogiar em São Paulo. Ela e Ecila, minha saudosa mãe, pareciam até representantes da cidade em São Paulo, de tanto que falavam em nossos doces e pessoas. Manjar de pudim com laranja da terra, de goiaba, de carambola, catada no quintal, batatadas de batata doce, Pernambucano, Rocambole, Bombocados, os cristalizados de Abacaxi, morango, abóbora, enfim eram estas belezas que, chegadas em São Paulo eram servidas nas mesas dos amigos e escritores que iam visitá-las em suas casas. Doces de mamão, jaca, caju, amendoim e fruta pão completavam todo o ornamento macaense nas tardes da paulicéia.

Para que não se percam

Nota: Estas mulheres, pinçadas nas memórias do autor, estão presentes na vida da cidade e seus descendentes competem biografá-las para a história. Minha parte estou fazendo e, repito o que escrevi no corpo da matéria: se alguém esqueci e sei de que o fiz com muitas, que sejam debitadas a memória. Que alguém se lembre e faça como eu o fiz...

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