O xaveco

Sempre achei que o xaveco fosse uma coisa tipicamente masculina. Errei. Confesso: eu tropecei nos meus próprios pensamentos machistas. As minhas certezas transformaram-se num equívoco bárbaro. A vida me fez enxergar que o mundo não gira em torno da “suprema” vontade masculina.
Vou contar como cheguei a essa conclusão.
Há um tempo conheci uma moça pela internet. Aos poucos, fomos nos descobrindo como dois adolescentes vivendo a plenitude da primeira paixão. Tudo muito lindo. Flagrei-me, várias vezes, acessando o seu álbum virtual para admirar seus olhinhos apertados, sua boca maravilhosa...Acho que eu estava apaixonado.
Mas chegou o momento que nem mesmo as longas conversas pelo telefone tranqüilizavam os meus batimentos cardíacos. A vontade de conhecê-la era enorme. Resolvemos, então, marcar um encontro. Peguei o carro e fui para São Paulo. Combinamos de nos encontrar num final de tarde no parque Trianon, na incansável avenida Paulista.
Ao vê-la pude confirmar tudo o que eu imaginava. Linda. Maravilhosa. Conversamos por longos minutos, talvez horas. O tempo, para mim, havia parado naquela tarde de outono. Quando não havia mais palavras, rolou um beijo. Delicioso. Senti-me como um personagem de final de filme. A sensação de perfeição poderia ser muito bem traduzida na canção Kiss Me, do grupo Sixpence None The Richer.
No entanto, a realidade foi diferente. Infelizmente. Durante um abraço apertado ela balbuciou palavras estranhas a um ouvido masculino. Disse que eu era o homem de sua vida, que queria passar o resto do tempo comigo, que éramos almas gêmeas, que gostaria que morássemos juntos... Fiquei surpreso (e desconfiado) com tantos verbos diretos para um primeiro encontro. Era a primeira vez que eu estava sendo “xavecado”.
Sou um machista barato. Eu não aceitei as palavras que a linda moça me disse ao pé do ouvido, de forma romântica, naquele fim de tarde paulistana. Fui covarde, talvez. Eu me esquivei de um xaveco feminino por puro preconceito. Mulher também pode “xavecar” um homem, oras bolas!
Pena que essa conclusão chegou tarde demais.
Minha paixão foi-se embora. Evaporou-se através do suor frio que escorria pelo meu rosto. O encanto havia simplesmente acabado. Um egoísmo – de pura masculinidade, certamente – fez um provável promissor relacionamento ir ralo abaixo. Eu recusara as doces palavras de uma mulher puramente por achar que ela deveria, apenas, ouvir às minhas cantadas. Por ter dito tudo aquilo, duvidei de seus sentimentos. Triste engano. O machismo não me deixou acreditar na transparência feminina.
E a confirmação da derrota me chegou por e-mail dias mais tarde. Ela disse que não sentiu tanto entusiasmo de minha parte. “É melhor eu tentar te esquecer mesmo, afinal, parece que você não acreditou nos meus sentimentos”. Achei melhor nem responder. Fiquei em silêncio.

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