Pronto. Encontrei. Estou vivendo aquele período conhecido como inferno astral. Sabe? Demorou um bocado de tempo, mas descobri do que se trata. Uma busca rápida pela internet e uma pesquisa em alguns livros de astrologia já foram suficientes. Eis o resultado: inferno astral é o mês que antecede o aniversário.
Imaginei. Só podia ser isso mesmo.
Faltam poucos dias para eu completar mais um ano de vida. O que seria para muitos motivos de comemorações, para mim, são apenas dias de lamentações, surpresas e questionamentos. Como tudo passou voando. Meu Deus! Parece que foi ontem o dia que pisei pela primeira vez numa escola. Tenho também a impressão que foi na semana passada a grande descoberta da adolescência, o meu primeiro beijo, a primeira desilusão amorosa, a namoradinha do colégio... Estou ficando velho!
A sensação de envelhecer não é nada agradável. É uma dor que não afeta o corpo. Estranho. Sinto meus pensamentos fervilhando, a ponto de entrarem em erupção a qualquer momento. Os neurônios parecem estar numa briga constante, sem fim. Dói a alma. Os questionamentos cutucam tudo o que você sempre acreditou. Sua fé deixa de ser verdade. As crenças simplesmente param de existir a cada vez que o pensamento invade nossas certezas de uma vida inteira.
Acho tudo muito estranho: por que comemorar mais um ano de vida se, a cada ano, a morte fica mais próxima? Que cultura mais estranha! Seria a ‘festa da experiência adquirida’? Sinceramente, não sei responder. Hoje, essa é a plena verdade. Todos esses questionamentos martelam minha razão. A cada ano temos menos tempo de vida e, mesmo assim, maior é a cobrança e a falta de tempo... tempo de viver. Que coisa de louco!
Repensar a vida e fazer planos são metas difíceis. E isso a nossa própria existência nos cobra. A busca por um sentido deixa tudo sem mais sentido ainda. Pode reparar. Ao passar dos anos os sonhos parecem ficar mais turvos, se não imperceptíveis, invisíveis. A vida passa e a indefinição aumenta. É como se fosse uma novela às avessas: ao invés do desenrolar rumo ao final, tudo se enrola a cada capítulo. Tem hora que tudo marcha ao contrário.
Não gosto mesmo de fazer aniversário. Admito. Também não sei se pensarei desta forma num futuro (breve ou não). A certeza é que estou vivendo o meu inferno astral e suas angústias, depressão, sensação de azar, dúvidas que soam no compasso da eternidade... Será tudo isso pra sempre?