Como ratos de laboratório, presos por vontade própria, homens e mulheres dos vários “Big Brothers ” espalhados pelo mundo da televisão, encaram a tortura do isolamento de maneira risonha e prazeirosa, oferecendo ao público o tesúdico “strip-tease” de uma extinta privacidade, e montam uma farsa subjetiva sem precedentes na história da bisbilhotice universal.
Todos nós estamos sendo filmados, ludibriados e amestrados.
Tempos atrás, o apresentador oficial do “Big Brother da Globo”, Pedro Bial, definiu toda a diretriz do programa, quando perguntou a uma das cobaias que estavam enclausuradas na casa-palco, se ela “costumava andar nua dentro de casa”.
É a bisbilhotice chegando ao seu gráu máximo, sem limites. Daí em diante, tal qual Calígula, todos sabem que tudo será permitido.
Quando o programa for patrocionado por alguma marca de papel higiênico, a pergunta deverá ser “quando você senta na privada fica completamente nú, ou nua?”
Após a resposta, o apresentador dirá “ainda bem que você usa papel higiênico Amor Macio”, frase que virá acompanhada daquela risada falsa e debochada.
Estamos chegando onde os homens que controlam o poder universal sempre quiseram, à beira do inferno tecnológico, para que possamos mais facilmente vender e mostrar o nosso inferno gratuitamente, sem nenhum constrangimento pessoal, sem nenhum abalo da nossa esquecida dignidade.
A existência de todos vai se transformando num inferno virtual, mas ele chega em forma do mais belo paraíso real, repleto de corpos tesúdicos, sempre risonhos, que só pensam em não serem eliminados da vida, e, em contrapartida, lutar pela eliminação dos que estão atrapalhando o caminho rumo à fortuna e a fama, que nos levará à uma forma de felicidade egoísta, fruto da alegria ocasional e masturbante dos nossos sentidos, onde só conta o que nós queremos, sem nenhuma participação solidária com o próximo.
“Sorria, você está sendo filmado !”
Com esta simples frase espalhada pelos quatro cantos do mundo, os poderosos bisbilhoteiros que dominam o universo começaram a dar o seu recado, de forma alegre e inocente, para que ninguém fique nervoso e amedrontado.
Todos nós passamos a ser atores, ou atrizes, focalizados, filmados e gravados no palco da vida cotidiana, desfilando alegremente na passarela do universo, sem reclamar, mas sempre sorridentes.
No início dessa história ninguém se importou muito com o aparecimento de camêras em tudo que é lugar público mesmo sabendo que está aparecendo gratuitamente nos vídeos anônimos, sendo bisbilhotado dos pés à cabeça. Tudo parecia tão normal e inocente que não valia a pena protestar contra esta invasão.
Ademais, a desculpa dos bisbilhoteiros, é de que tudo é feito para que as pessoas tenham mais segurança nos locais onde estão sendo filmados, pois aquela câmara irá separar o “bem” do “mau”.
A frase “Sorria, você está sendo filmado”, é encontrada em tudo que é lugar que frequentamos. Em alguns lugares os bisbilhoteiros ainda não arranjaram motivo para colocarem as suas câmeras, como por exemplo nos banheiros públicos.
Qualquer dia elas chegarão lá, a pretexto de coibir os abusos que estão acontecendo, pois os banheiros públicos masculinos andam cheios de adoradores do “pênis” alheio, e ficam horas dentro do recinto, respirando a amônia do ambiente, com o intuito de “filmar mentalmente” o “pênis” do próximo. Com toda esta tecnologia atual, e a queda dos muros da nossa privacidade, seria bom que ao entrarmos apressadamente nestes “toiletes” públicos, ficassemos olhando bem para o teto e paredes, a procura da câmera indiscreta, pois, com certeza, você não lerá nenhum anúncio visível dizendo “Sorria, você está sendo filmado”.
Antigamente, por curiosidade, ainda procurávamos o local onde estava a pequena câme,ra, mas nos dias de hoje nem perdemos tempo, pois já somos artistas tarimbados, e não nos importamos mais com as filmagens diárias e contínuas do nosso corpo e dos nosso atos.
Todos nós somos filmados. A privacidade é coisa do passado.
Quando entramos dentro do carro, ele estará sendo filmado, no meio de grandes engarrafamentos. Se cometermos uma infração, a nossa “placa ou identidade motorizada” será filmada, e teremos que pagar a nossa multa. Muito justo.
No Big Brother da televisão, a “privacidade” de cada uma das cobaias que consegue se classificar para participar do programa, rende “um milhão de reais” e muita fama ao “sortudo” que não for eliminado.
Para chegar ao mosteiro dos Big Broothers na televisão, as cobaias passam pela análise e julgamento de psicólogos, psiquiatras, estilistas, marqueteiros, fotógrafos, administradores, representantes de organizações comerciais que estudam e pesquisam os hábitos dos consumidores, fonoaudiólogos, etc.
Elimine tudo aquilo que não deixa você feliz, esta é a filosofia que o público telespectador vai adquirindo com o desenrolar do programa. Nâo usam o diálogo para afastar a pedra que está no caminho. Simplesmente a eliminam.
“Eliminar” é a palavra chave.
Crianças e jovens vão percebendo logo no início do trágico “Big Brother” de suas vidas que a única maneira de sobreviverem vai ser eliminando o próximo.
Seus pais não estão de acordo com o seu namôro?
“Elimine-os !”
Sua avó náo lhe dá dinheiro para comprar o tóxico?
“Elimine-a !”
Seus filhos choram muito ?
“Elimine-os !”
Esposo ou esposa atrapalham o seu romance proibido?
“Elimine-o ou elimine-a !”
Hoje em dia todos sabem o que você está fazendo “online”, ao vivo. Sua vida particular é vista e gravada em videos, para que as pessoas no futuro não se esqueçam tudo o que de “mau” você fez. As coisas boas são deletadas, pois elas ocupam muito espaço na memória, e não interessam a ninguém.
O bem não dá audiência.
Antigamente, o pessimista dizia que a única coisa que iria restar depois da morte seriam os ossos, assim mesmo quando não eram cremados. Só bisbilhotavam a história de nossa vida muitos anos depois de estarmos mortos. Era preciso morrer para que os bisbilhoteiros tentassem descobrir aluma coisa sobre nós estudando os ossos enterrados a milhares de anos.
Nos dias de hoje, se você deixar uma guimba de cigarro no cinzeiro, qualquer um pode pegar e descobrir tudo sobre você, graças a bisbilhotice feita no seu DNA. Cada ser vivo que habita a Terra possui uma codificação diferente de instruções escritas na mesma linguagem do seu DNA. Estas diferenças geram as diferenças orgânicas entre os organismos vivos.
Alegre-se, o futuro chegou !
Sorria, você está sendo filmado !
- Wilson Gordon Parker