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Na arena do Senado, estamos assistindo o maior festival de mentiras do mundo, e como diriam alguns antigos, quiçá de todas as épocas.
Os personagens que por lá estão passando, choramingam e juram, pela alma dos parentes mais queridos, que jamais, em tempo algum, praticaram os crimes de que estão sendo acusados.
Expressões sobrenaturalmente espantadas tomam conta de suas faces, ficam vermelhos, suam, gesticulam raivosamente em nome da honra ferida, ficam com a voz embargada, entram num estado de pausa, passam a mão pelo rosto, a cabeça entre as mãos, e, alguns começam a chorincar e verter as lágrimas da inocência.
Choram e sorriem despudoradamente à vista de todos.
Vivemos na era dos Renans e Rorizes. Tudo o que está abaixo da escala social e econômica destes senadores não tem validade nenhuma. Eles são o exemplo dos intocáveis da sociedade brasileira. Renan se referiu a amante, e a filha, como "chatices de sua vida pessoal", e todos no senado o ouviram em silêncio, inclusive as parlamentares do sexo feminino.
O senador Roriz é um caso fantástico, pois sendo reconhecidamente um milionário, resolveu pedir uma ninharia emprestada ao dono de uma companhia aérea, pagou 300 mil por uma novilha e ficou discutindo pelo telefone a divisão de mais alguns trocados a ser efetuada no escritório de outro safado.
Roriz fez um discurso da tribuna do senado e chorou o tempo todo, vertendo as lágrimas da sua hedionda mentira. Muitos tiveram que se ausentar do recinto para ir ao banheiro vomitar.
Como vivemos sob as leis dos Renans e Rorizes, garanto que a culpa disso tudo vai ser da jornalista e da filha do Renan, que não deveria ter nascido e da novilha de ouro do Roriz, que não deveria ter uma aparência tão enganosa.
Renan e Roriz tem uma coisa em comum além da letra "R' : ambos adoram vacas e novilhas.
Este velho truque do choro continua sendo o preferido dos mentirosos e ladrões, pois não existe nada melhor para tocar o coração do ser humano do que o pranto.
Na minha opinião, chorar em público deveria ser proibido, porque o ato de verter lágrimas, entremeadas de soluços, é uma coisa tão tocante e poderosa, que acaba se transformando numa arma.
O ser humano só deveria chorar para si mesmo, e, tal como se faz uma oração, o choro deveria ser feito como se faz um ato de fé.
O choro falso deveria ser punido com a morte !
Tenho certeza que seria fundamental para o engrandecimento da sociedade ocidental fazer do choro numa explosão mística, transformando o ato laico de chorar numa passagem que nos levaria aos deuses.
Chorar de mentirinha em público seria um pecado capital perante as leis divinas, e crime inafiançável na lei dos homens.
Nas sociedades que respeitassem o choro, deveriam ser criados Choródromos, onde as pessoas poderiam se refugiar e chorar à vontade.
Lembrando um fantástico presidente da Petrobrás, que queria mudar o nome da empresa para Petrobrax, poderíamos escrever “Xoródromo”.
Seria um choro mais universal.
Tenho certeza absoluta que, aqui no Brasil, isto seria um sucesso total, pois iriamos ver o nosso povo cheio de esperança, e sempre de alma lavada pelas próprias lágrimas.
Os Choródromos nada mais seriam do que longos paredões, que poderiam ser feitos de paralelepípedos ou de pedras de São Tomé, onde encostariamos os nossos rostos, e as duas mãos, ou cotovelos, e chorariamos à vontade.
Seria proibido o comércio de lenços nas imediações, pois as lágrimas teriam que ser enxugadas com as mãos.
Como Brasília é considerada uma àrea mais mística que política, pois vários templos maravilhosos foram erguidos na sua periferia, e a maioria dos políticos vive no mundo da lua, poderiamos fazer uma grande campanha popular para transformar o prédio do Senado Federal num grande templo do choro.
Os senadores usariam a câmara dos deputados, que está de bom tamanho para o tipo e quantidade de trabalho que as várias quadrilhas de politicos fazem por lá.
O primeiro grande choro falso no Senado, tal como fez o Roriz nos dias de hoje, foi proporcionado pela Regina Borges, diretora do Prodasen, e pelos Senadores na época José Roberto Arruda, que renunciou para não ser cassado, e atualmente é o governador eleito de Brasilia e Antonio Carlos Magalhães, eleito senador depois de ter renunciado por causa desse escandalo, onde eles choraram a valer, e juraram que jamais tinham feito, ou mandado fazer a espionagem no painel eletrônico do Senado. Dias depois, choraram novamente, destra vez para dizer que estavam arrependidos de terem arrombado, ou ordenado tal ação.
Esse histórico de choro mentiroso e falso, mas lucrativo, nos leva a eleger o Senado Federal do Brasil como o templo mundial do choro de todos os corruptos.
Na época, as lágrimas da Regina Borges foram tão convincentes, que muita gente já queria a beatificação da referida dama, e muitos choramingaram com ela, como foi o caso do Senador Eduardo Suplicy, que descobriu uma ligação genealógica entre a arrombadora do painel do Senado e o Dalai Lama.
Os repórteres dos Telejornais, dão a vida para mostrar um entrevistado aos prantos no vídeo. Enquanto a pessoa não explode em lágrimas eles não tiram a câmara do rosto da mesma.
Tudo isto que falo, não é nada de novo, pois lá em Jerusalem, há mais de dois mil anos, existe o muro das lamentações, onde todo povo alí da região chora e se lamenta sempre que tem vontade.
Como existem muitas brigas depois dos jogos de qualquer esporte, uma boa solução para acabar com esta violência, seria colocar Choródromos dentro dos estádios, pois o choro real seria um bom aniquilador de instintos criminosos.
Resumindo, vamos chorar só para nós mesmos, para não chorarmos na hora de protestar contra os corruptos que choramingam para nós, a fim de receberem o nosso perdão e nosso voto, e poderem continuar a roubar e gastar, tranquilamente, o dinheiro que nos roubaram, fruto de nosso trabalho, suór e lágrimas.
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NOTA 1:
RENAN E RORIZ
BRASÍLIA - O líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), encaminhou ofício
nesta sexta-feira à Secretaria da Receita Federal requerendo a abertura de
processo de fiscalização nas transações financeiras relativas à compra e venda
de gado e de propriedades rurais efetuadas pelos senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Joaquim Roriz (DF), no período de 2004 a 2007. [...]
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/06/29/296573541.asp
NOTA 2:
Regina Borges
Era diretora do Prodasen (departamento de processamento de dados do Senado) na época da cassação de Luiz Estevão (junho de 2000). Disse em depoimento aos senadores que foi procurada pelo ex-líder do governo José Roberto Arruda (PSDB-DF), que lhe teria pedido a quebra do sigilo da votação da sessão de cassação de Estevão. Regina declarou ainda que Arruda afirmou estar pedindo a listagem de votação a mando de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), então presidente do Senado. A ex-diretora do Prodasen afirmou também que o próprio ACM lhe telefonou para agradecer a lista.[...]
www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/quebra_de_sigilo-regina.shtml
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