GERAÇÃO PERDIDA

Fala-se muito no Brasil em educação como salvação nacional. É certo que o conhecimento, adquirido através da educação, compõe um dos pilares do desenvolvimento juntamente com os poderes econômico, político e bélico de cada país. Entretanto, não basta um diploma, pois é necessário que esse instrumento habilite para vida. Não são suficientes testes, onde um x colocado aleatoriamente é muitas vezes simulacro de aprendizado. É danoso para o próprio aluno passar para série mais adiantada sem estar preparado. É totalmente errado não se incentivar a leitura. É certo transmitir conhecimento através da repetição do que já foi adquirido intelectualmente pelo homem, mas se não houver criação e recriação do saber, continuaremos atrasados em relação aos países do Primeiro Mundo. Não basta copiar, é necessário raciocinar.

Educação é também algo mais complexo do que aquilo que se adquire na escola. Começa na família. Significa o aprendizado de valores. No grupo familiar o indivíduo inicia sua distinção entre certo e errado, e a escola deve dar seguimento à "socialização" que os pais transmitiram ou devem transmitir.

Mais tarde o jovem interagirá de forma mais expandida com a sociedade. Freqüentará amigos, encontrará novos grupos no trabalho, na igreja, no seu entorno de modo geral. A influência social será constante sobre sua mente ávida de exemplos a seguir, sua necessidade de caminhos a descortinar. Presa fácil das influências, ele não será imune ao que seus sentidos e percepções alcançarem. A TV, a propaganda, os modismos, as drogas, a violência, a falta de oportunidade de trabalho, o desrespeito à vida, a ausência de valores que o guiem, a desagregação familiar, a impunidade, serão fenômenos mais ou menos maléficos conforme for sólida ou não a educação recebida no lar e depois na escola.

A criança e o jovem se miram no espelho de sua realidade e o refletem. E aqui aparece a dificuldade de se educar, pois como é difícil aos pais dizerem aos filhos no Brasil de hoje: "Sejam honestos". Não mintam ". Busquem o seu bem e o dos outros através de condutas éticas". "Esforcem-se". "Estudem". Conquistem uma profissão, pois através dela terão a gratificação social em forma de empregos e remunerações" . "Façam-se respeitar através de sua conduta irrepreensível". Não transijam nunca com as pequenas trapaças, pois elas os farão sucumbir às grandes. Prezem sua pátria e os símbolos nacionais, pois a pátria é nosso lar ampliado. Respeitem as autoridades constituídas, pois delas vêm os exemplos de honradez, desprendimento e busca de bem comum.

Imagine-se tentar transmitir esses valores aos jovens do Brasil de agora. Eles haveriam de considerar tudo hilário, se não achassem que seus pais ou professores tinham enlouquecido. Afinal, o que assiste a geração atual?

Dirão alguns que o mesmo que sempre se assistiu, especialmente na esfera política. Que corrupção por corrupção, sempre fomos corruptos. Que as leis nunca funcionaram no país do dá-se-um-jeito. Violência sempre houve, assim como a "arte" de passar os outros para trás. Nunca nos faltou malandragem nem comportamentos desonestos tanto na esfera privada quanto pública.

Tudo isso é verdade e todos estão cansados de saber. Contudo, o que causa profundo mal-estar aos verdadeiros educadores é a podridão moral, que vinda dos Poderes constituídos se exacerbou de forma nunca vista nesse país, contaminando toda sociedade. Se o péssimo exemplo vem de cima, o que esperar dos debaixo? Para que esforço e honestidade se estão se dando bem mensaleiros, sanguessugas, golpistas, malandros que se safam facilmente de CPIs, de operações policiais, como esta última e estarrecedora Operação Navalha? Pior. Os transgressores não estão nas favelas ou bairros pobres, mas nos palácios. Nivelam-se na bandalheira, partidos políticos, deputados, senadores, ministros, juizes, pessoas em cargos importantes. E a tendência é o agravamento de tal situação por três motivos principais: falta de oposições; aumento da impunidade; a crença de que o presidente da República não é o responsável em última instância pelo que acontece em seu governo, o que levará a ele e aos seus companheiros se perpetuarem no poder incidindo nas mesmas práticas.

Se a corrupção impede o progresso do país e lesa o povo, outro grande malefício desse governo é ser responsável pela perda de pelo menos uma geração em termos de valores. Num país onde as mais altas autoridades se nivelam por baixo e se igualam a trambiqueiros, sem que nenhuma punição lhe seja aplicada, cada um faz o que quer: da interdição de estradas à quebradeira do Congresso, da destruição de terras produtivas à invasão de hidrelétricas. E o dinheiro público que poderia estar sendo aplicado, inclusive, para a melhoria da Educação, se perde nas badernas e nos fabulosos lucros dos "donos do poder".

Por isso mesmo, e apesar de todas as dificuldades, mais do que nunca é preciso educar as novas gerações. Está na hora de começarmos a discutir como fazê-lo. E, sobretudo, é preciso saber como fazê-lo.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS