Há vários meses o crescimento da violência e a ineficiência do aparelho de segurança do estado eram claramente os principais fatores para o início de um clima de pânico que se alastrava junto à população capixaba.
Traficantes e marginais adolescentes, estes, generosamente tratados como “menores em conflito com a lei”, assumiam o comando das escolas implantando o terror. Alunos e professores não escapavam das agressões físicas e viviam sob a ameaça de morte. Não foram poucos os registros de disparos de arma de fogo em salas de aulas ou nos pátios de recreio, além das vítimas de armas brancas.
Esse tempo de terra sem lei começou logo após a exoneração do secretário da Segurança, Rodney Miranda, ex-delegado da Polícia Federal, envolvido numa história até hoje não muito bem explicada de “grampo” em telefones de jornalistas da Rede Gazeta, a mais poderosa empresa de Comunicação local.
A região metropolitana do estado, composta de cinco municípios vizinhos à capital, Vitória, foi totalmente dominada pela bandidagem. Assaltos, furtos, seqüestros, roubos de carros, homicídios, estupros, invasões de residências, tudo acontecendo em plena luz do dia. Ou melhor, nas 24 horas de todos os dias.
Incapaz de encontrar alguém de casa que pudesse reagir no comando das polícias, o governador Paulo Hartung, numa tentativa desesperada, trouxe de volta para ocupar a Secretaria de Segurança o policial que havia exonerado. Rodney Miranda chegou falando alto. Toda polícia nas ruas trabalhando em conjunto, civil e militar, com apoio da federal e, se necessário, com a convocação da Guarda Nacional. Lei seca, bares fechando as 10 h, barreiras nas principais vias das cidades para identificação dos ocupantes de veículos e revistas rigorosas.
Nos primeiros dias os moradores das comunidades da região metropolitana sentiram uma sensação de alívio. Parecia que o pesadelo havia terminado. Na segunda semana da operação policial já era notados a volta das crianças as praças e parques das cidades, também foi regularizada a freqüência dos alunos nos colégios. A paz reinava novamente.
Inocentes os que acreditam que a criminalidade pode ser vencida com entrevistas espalhafatosas, divulgação de números de estatísticas, desfile de viaturas e homens armados como se estivessem partindo para uma guerra. Bandido mergulha, mas não morre afogado, e volta para a praia quando baixar nova calmaria.
Mais quinze, vinte dias e os finais de semana retomaram a normalidade, um assassinato aqui, outro ali, um jovem motorista drogado invadindo calçadas e espalhando a morte, mulheres assaltadas e violentadas quando iam ou voltavam do trabalho, retomada do comércio de drogas nos educandários, novas guerras pelo controle dos pontos de tráfico.
BANHO DE SANGUE
Na última semana o noticiário da imprensa mostrava que os municípios da grande Vitória haviam sido lavados de sangue:
MC Dione, 19, e um amigo que não foi identificado pela polícia, aparentando a mesma idade, foram executados friamente, a tiros, muitos tiros;
Maciel de Assis, 24, fugitivo da Justiça, assaltante profissional, foi morto no meio da rua com 11 disparos. Segundo os investigadores, disputa por ponto de venda de drogas;
Com cinco balas na cabeça a polícia encontrou o corpo de Sebastião Oliveira Benfica, 30, mais um assassinato para entrar no rol de crimes insolúveis;
19 ASSASSINATOS, TRÊS TENTATIVAS DE HOMICÍDIOS, DEZENAS DE AGRESSÕES COM VÍTIMAS, GRAVES LESÕES CORPORAIS.
Esta foi apenas uma parte da violência que voltou a imperar no Espírito Santo. Faltaram espaços na imprensa para noticiar os acidentes de trânsito causados pela irresponsabilidade de motoristas embriagados ou drogados. Apurado cinco vítimas fatais e muitos feridos, alguns em estado grave. Assaltos, estupros, invasão de residências, roubos de carros, guerras de quadrilhas. A criminalidade fez a festa no Espírito Santo.
A REVOLTA DO FUNK
Na tarde de terça-feira, as galeras do Funk fizeram manifestação em frente a sede da Assembléia Legislativa estadual exigindo a retirada de uma Lei de autoria do deputado Theodorico Ferraço, que prevê em seus artigos maior rigor para concessão de licenciamento de casas do gênero e torna obrigatória a vigilância permanente dos aparelhos policiais para fiscalizar e fechar os estabelecimentos irregulares, além de, tornar permanente a rotina de revista dos freqüentadores, sem depender de denúncias. Os líderes do movimento, ocupando os microfones de trios elétricos, ofendiam os deputados e o secretário de Segurança, protestando direitos civis e prometendo reagir à altura caso prosseguissem as perseguições aos funkeiros.
Esse é o país onde nós sobrevivemos, aquele no qual, desordeiros desafiam os poderes constituídos e afirmam que são eles “os donos do pedaço”.
PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL É ACUSADO DE GOLPE DE R$ 6,8 MILHÕES
Só faltava mais um escândalo banal para amenizar os efeitos das notícias policiais. Vamos aos fatos:
Nome do indivíduo: Marcos Lopes Pimenta. Profissão conhecida: servidor público ocupante do cargo de Procurador da Fazenda Nacional. Deveres e obrigações: defender o erário público.
Pois saibam os leitores que esse senhor acima de qualquer suspeita, freqüentador das altas rodas sociais, sempre muito bem vestido e tratado, um gastador inveterado, melhor seria dizer esbanjador, FOI DENUNCIADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL COMO CHEFE DE UMA PODEROSA QUADRILHA QUE DESVIAVA DOS COFRES DA NAÇÃO MUITOS MILHÕES DE REAIS.
O golpe era o seguinte. Usando dos poderes e facilidades que lhe estavam reservadas pelo cargo, ele entrava no sistema de controle de devedores da Fazenda Nacional e, simplesmente, fazia desaparecer todos os registros. O devedor “mais sujo do que pau de galinheiro” voltava a gozar da reputação de um personagem honesto e cumpridor das suas obrigações, exemplo de cidadão.
Claro que o “mágico” se beneficiava de generosas recompensas dos beneficiários dos seus favores. O Ministério Público não esqueceu de providenciar companhia para o ilustre e inocente procurador (vai continuar sendo por muitos anos), também indiciando pelo mesmo crime poderosos empresários e comerciantes.
IMPUNIDADE
O triste da notícia é que oficialmente já foi anunciado à imprensa estadual que os acusados vão responder as ações em liberdade. Os primeiros depoimentos à Justiça deverão acontecer no final deste ano, isso é, acontecerão se não acontecerem adiamentos e acidentes de percurso na tramitação dos processos.
NOTÍCIA FELIZ
A única notícia boa que posso comentar hoje é o aniversário desse poeta da vida, um guerreiro que enfrenta os combates mais difíceis e os inimigos mais temíveis com inteligência, que consegue preservar a lembrança e o amor pelas coisas mais belas deste mundo.
Estou falando do amigo Jose Milbs que comemorou mais um ano de vitórias no comando seguro do nosso querido jornal O Rebate.
Ao companheiro, se mais não posso lhe oferecer, aceite meus sinceros votos de longa vida, prosperidade e de toda felicidade que você merece.
