O presidente do Comitê Organizador Local, José Maria Marin, participa do balanço da Fifa sobre a Copa das Confederações. Foto: Agência Brasil
Em 2012, o evento e as empresas patrocinadoras tinham apoio da maioria da população. O que mudou?
Para alguns, pode ter sido uma surpresa a desaprovação a empresas que estavam simplesmente patrocinando uma competição esportiva de alcance nacional, mas os novos tempos exigem também novas posturas e atenção às demandas da sociedade.
Um estudo divulgado pela empresa Nielsen mostra que os consumidores demonstram reprovação às empresas que anunciaram seus produtos e serviços durante a Copa das Confederações em junho último. A rejeição à realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil também atingiu níveis inéditos.
O que surpreendeu os pesquisadores foi a mudança de percepção dos consumidores. Em 2012 a Copa no Brasil era apoiada por 71% dos entrevistados; 67% também apoiavam as marcas patrocinadoras do evento. Na época apenas 3% rejeitavam as marcas que se vincularam à Copa e 33% consideravam o evento um mau negócio.
Ao final da Copa das Confederações, a mesma pesquisa constatou que o apoio à realização da Copa caiu para 45% e o apoio às marcas patrocinadoras desabou para 32%. Ao mesmo tempo, a rejeição ao evento subiu para 22%. A pesquisa foi feita com 1.420 pessoas em São Paulo e nas seis cidades sede da Copa das Confederações.
Entre as razões para essa virada na opinião dos entrevistados estão as suspeitas de superfaturamento na construção dos estádios, a ausência de obras de infraestrutura e as manifestações de rua, que questionaram os gastos públicos para bancar a competição.
Grandes empresas e corporações privadas sempre tiveram e vão continuar a ter – imagina-se por muito tempo – influência sobre a vida das pessoas. Basta lembrar que existem conglomerados multinacionais maiores do que países (caso seus valores de mercado fossem comparados com os PIBs de algumas nações mais pobres e outras nem tão pobres assim).
Mais do que questionar esse poder, é preciso fazer com que a iniciativa privada seja capaz de assumir compromissos muito além do que faziam num passado recente, vinculado estritamente ao seu negócio. Quero dizer o seguinte: empresa que ainda olha para o seu próprio umbigo está ligada a um mundo ultrapassado. Quem pensa que pagar impostos, cumprir as leis e obedecer aos ditames da legislação trabalhista já está cumprindo de maneira satisfatória para o que se espera dela, pode começar a rever seus conceitos, pois o resultado será a perda gradativa de espaço ou até mesmo a falência.
Um mundo cada vez mais conectado e informado exige progressivamente das empresas um aumento também crescente em suas responsabilidades sociais e ambientais. Os que eram chamados de stakeholders, ou públicos de interesse como acionistas, clientes e governos, hoje podem ser estendidos a todos os setores sem distinção.
Uma sociedade mais organizada, como já está ocorrendo, irá cobrar dessas organizações uma posição muito mais proativa de participação e inserção nos grandes temas. Algumas delas já demonstram sensibilidade suficiente para cumprir um papel protagonista nesse novo cenário enquanto muitas, infelizmente, ainda resistem a compartilhar responsabilidades com governos e sociedade civil organizada.
A definitiva inserção do setor privado na busca de soluções e enfrentamento dos grandes problemas brasileiros certamente será um caminho sem volta e as possíveis resistências vão trazer, conforme revelou a pesquisa sobre a Copa do Mundo, um grande risco ao próprio mundo dos negócios.
Alcançar um mundo melhor, mais justo, equilibrado e sustentável, portanto, deve ser entendido e encarado como uma responsabilidade e dever compartilhado indistintamente por todos os setores.
* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e palestrante e consultor na área ambiental.
** Publicado originalmente no site Carta Capital.