Federico Felini dizia que pizza ou "é napolitana, calabresa, se colocam requeijão e frango não é pizza, é coisa de americano".
Marlene Dietrich era bem mais radical. Para a extraordinária atriz "catchup é coisa de americano para comida sem gosto. Se você põe catchup não come nada, não sente gosto de nada, só o do catchup".
Um antigo boêmio brasileiro, com o advento do milho verde em todo e qualquer prato dito sofisticado costumava dizer que "milho é um acepipe se bem usado. Do contrário é comida de galinha".
A "fúria" do governo italiano com a decisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de conceder refúgio a Cesare Battisti soa como aquelas tragédias cômicas (é isso aí), pré Mussolini, nas quais a platéia jogava toda a sorte de objetos possíveis e às mãos, exigindo a presença da atriz mais bela da troupe e de preferência com as pernas de fora. Não precisava saber cantar, só mostrar as pernas. De preferência próximas das de Gina Lolobrigida.
Se levarmos em conta que o primeiro-ministro da colônia norte-americana chamada de Bota é Silvio Berlusconi, dublê de duce e banqueiro, toda essa agitação ganha ares de espetáculo em casa de banho do antigo império romano.
Tinha um negócio de senador cortar os pulsos. Se a moda pega no Brasil ia ser uma limpeza.
Sarney então, certamente iria recitar um dos seus livros enquanto o sangue se esvaia. Pobres maranhenses, imersos na monarquia da família. E ao final proclamar "que grande escritor perde o mundo". Registre-se que o auditório estaria vazio, ninguém agüenta tanta besteira.
Mais ou menos temos Berlusconi lá, Sarney cá.
Não sei se Sarney toca harpa. Berlusconi toca juros e festas regadas a cachos e cachos de uvas e outras variedades, outros cachos.
Há uma espécie de inércia dos italianos diante da nova realidade. O país de Verdi é colônia dos Estados Unidos.
Tem catchup e mostarda para todos os lados. E pizza com requeijão e frango.
Um dos últimos telegramas de embaixadores norte-americanos no Brasil mostra que os EUA tentaram interferir junto ao governo brasileiro para que fosse concedida a extradição de Olivério Medina, ex-padre e integrante das FARCs. Era uma jogada política do megatraficante Álvaro Uribe, ex-presidente da Colômbia, principal colônia do conglomerado terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A por aqui.
Há pouco mais de um mês o jornal THE GLOBE em sua versão brasileira O GLOBO, esqueceu-se que quando da prisão de Fernandinho Beira-mar a mídia podre e privada do Brasil noticiara que o dito cujo fora preso junto a guerrilheiros das FARCS. Trocava drogas por armas. Ao tratar do assunto mês passado disse com todas as letras que Beira-mar foi preso com paramilitares de extrema-direita, força de apoio de Uribe, trocando drogas por armas.
A mentira tem pernas curtas é o que dizem.
Quando tentaram interferir junto ao governo brasileiro para obter a extradição de Olivério Medina os norte-americanos alegaram que se tratava de um "terrorista". A ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - classifica as FARCs como "força insurgente", vale dizer rebelde. Esse negócio de terrorismo é coisa de americano, que nem catchup para tornar tudo com um gosto só e ao sabor dos seus interesses.
Cesare Battisti foi julgado à revelia na Itália, condenado a prisão perpétua com base em delação premiada. Dois dos seus ex companheiros de luta armada imputaram a ele os "crimes" cometidos pela organização. Os caras estavam presos e Battisti não, logo, safaram-se.
A lei brasileira estabelece que a decisão final sobre extraditar ou não cabe ao presidente da República. Nem com os fundos que entraram pela porta dos fundos de seu gabinete o ministro (ministro?) Gilmar Mendes conseguiu mudar o que dispõe a Constituição.
A decisão do ex-presidente Lula baseou-se num parecer da AGU - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO - "é um ato de soberania do país", como disse o ex-ministro Celso Amorim e pronto, sem catchup e sem mostarda. Arroz com feijão na percepção simples do direito.
Não há nada no tratado de extradição entre os dois países, Brasil e a colônia norte-americana chamada ainda Itália, que justifique a extradição de Battisti. Pelo contrário.
A decisão italiana de chamar a Washington, quer dizer Roma, seu embaixador, lamentavelmente não foi seguida ainda pelo novo ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Trazer de volta a Brasília o embaixador brasileiro.
Não há o que negociar, não há o que discutir e a atitude do ministro Cesar Peluzo de esperar fevereiro para que a corte (é o fim, mas é) decida o que fazer, é no mínimo estranha e não tem nada a ver com um magistrado que se pressupõe brasileiro.
A exceção de grupos minoritários na Itália e do governo histriônico e fanfarrônico de Berlusconi não há nenhuma contestação ao direito do País de conceder o status de refugiado político a Battisti.
A Itália abrigou o banqueiro Salvatore Cacciola por um bom tempo e nem tomou conhecimento dos pedidos feitos pelo Brasil e olha que Cacciola é criminoso comum.
Ah! Mas é banqueiro, parceiro de Berlusconi.
O grande problema do governo italiano são as eleições vindouras. É preciso um escalpo para a sociedade do espetáculo e a tentativa de Berlusconi de se manter no poder.
Estamos atingindo o estágio de sociedade das tragédias e em alguns casos das comédias.
A Itália, definitivamente não é mais um país sério, nem mais país é. Colônia norte-americana, cercada de bases por todos os lados e saquinhos de catchup e mostarda.
O que se espera, o mínimo, é que o novo chanceler brasileiro tome posse e ponha fim a essa história antes que tenhamos a guerra das pizzas contra o arroz com feijão. Se isso acontecer é preciso estar atento, pois Gilmar Mendes e César Peluzo são quinta colunas.
Tomara que não existam outros, ou outras.