MAGALHÃES PINTO – BANQUEIRO E COVEIRO (DA DEMOCRACIA)

No vôo que os levava a Montevidéu para o encontro com João Goulart, em 1968, Carlos Lacerda e Juscelino conversavam sobre a FRENTE AMPLA e a certa altura da conversa Lacerda disse a JK que se sentia constrangido por ter sido opositor de Jango desde o episódio do manifesto dos coronéis em 1954, passando pela Carta Brandi, até a tentativa de impedir a posse de Goulart em 1961 e, por fim, o golpe de 1964.

Não sabia como apresentar-se ao ex-presidente. Não sei o que JK disse em resposta, mas qualquer coisa como “não se preocupe, tudo vai dar certo”.

Ao chegar ao local do encontro Lacerda assustou-se com os braços abertos de Jango a convidá-lo a um abraço e pode entender então a grandeza de um homem público como Goulart. “Governador, eu não lhe tenho ódio, o senhor sempre me criticou e o fez pela frente. Ódio tivesse eu esse sentimento, teria do governador Magalhães Pinto que na manhã do golpe me ligou dizendo que cairia comigo”.

Não foi só Magalhães que ligou a Jango dando solidariedade. Petrônio Portela governador do Piauí e José Sarney no Maranhão, também ligaram para Goulart. Com uma diferença. Magalhães sabia que as tropas estavam a caminho do Rio e a ligação a Jango fora para despistar e tentar mostrar uma realidade que não existia. Estava comprometido com o golpe desde o primeiro momento. Portela e Sarney recuaram logo, à tarde, quando viram que o presidente seria deposto.

Magalhães e Lacerda disputavam a convenção da UDN que indicaria o candidato presidencial em 1965 e Lacerda custou a perceber que as elites econômicas preferiam o governador de Minas. Quando começou a sentir essa realidade tentou antecipar a convenção, mas o golpe liquidou as suas e as esperanças de Magalhães.

Lacerda não entendeu que Magalhães era banqueiro e banqueiros não têm nem pátria e nem sentimentos. São só banqueiros, a mais sórdida e vil das ocupações do ser humano.

“Em 1704, é internado em Saint-Lazare um certo abade Bargedé; tem setenta anos e foi preso para que seja tratado como outros insanos; sua principal ocupação era emprestar dinheiro a juros altos, enriquecendo-se com as usuras mais odiosas e mais ultrajantes para a honra do sacerdócio e da Igreja. Não foi possível convencê-lo a arrepender-se de seus excessos nem a acreditar que a usura era um pecado. Insiste em ser um avarento... Foi totalmente impossível descobrir nele algum sentimento de caridade” – A HISTÓRIA DA LOUCURA, Michel Foucault, pág. 136, Ed. Perspectiva, 2008 –.

Servem, banqueiros, a toda a sorte de trapaças e bandalheiras possíveis, em qualquer tempo e em qualquer lugar onde quer que se estabeleçam ou plantem suas casas de usura.

A idéia que dividir o Brasil em dois caso houvesse resistência ao golpe de 1964 foi conversada por Magalhães Pinto e figuras do governo dos EUA. Minas se transformaria no Brasil e traria consigo estados como São Paulo, outros mais que aderissem ao golpe, sendo esse monstrengo reconhecido como o Brasil de fato.

Em tempos atuais, a hipótese de resistência, supondo-se que Bush fosse o presidente dos EUA, levaria o governo daquele país a classificar os resistentes, defensores da legalidade democrática, como terroristas.

Magalhães e Lacerda mantiveram a disputa prevista para a convenção da UDN mesmo após o golpe, apostando numa presidência civil a curto prazo. Lacerda acabou engolido pelos seus companheiros de golpe, seu estopim curto contribuiu para isso e Magalhães não. Ao perceber que o estupro era inevitável relaxou e tirou todo o proveito possível, afinal, era banqueiro.

As elites econômicas do Brasil sempre foram preconceituosas. Para elas o Nordeste é um peso. A Amazônia um trambolho a ser explorado em parceria com o capital estrangeiro e o Centro-Oeste mais ou menos por aí.

A versão que se aproxima de Magalhães nos dias de hoje é José Arruda Serra, ex-governador de São Paulo, candidato da nova cara da UDN, o PSDB, à presidência da República, ameaça a integridade territorial do Brasil, a soberania do País e aos brasileiros.

Arruda Serra não é banqueiro. É empregado de banqueiros. Nem todo empregado de banqueiro é como Arruda Serra. Pelo contrário, bancários são tratados como se escravos fossem. Arruda Serra é um tipo de empregado diferenciado. Capacho, carrega pasta.

Numa realidade de tempo e espaço diferentes da de Magalhães Pinto, propõe um Brasil voltado para interesses das elites paulistas e preconceituosas de regiões mais desenvolvidas do Brasil, subordinado aos EUA e ao que os EUA significam.

O mundo gerido a partir de um Centro, um Império, uma nova forma de Idade Média, a da tecnologia da destruição. O fantástico arsenal norte-americano. Insano, mas que destrói o mundo cem vezes se necessário for.

A cobiça que o Brasil desperta está na ordem direta das possibilidades de nosso País se transformar numa potência capaz de rivalizar-se com essas elites, com esse Império.

Hoje mesmo li um texto de um militar brasileiro, supostamente brasileiro, nasceu aqui apenas, criticando a política externa do atual governo. Celso Amorim não caiu de quatro diante do Império.

Não bateu continência como bateram em 1964 e continuam a bater boa parte dos líderes militares quando toca “Oh Susana!.”

Apostam em Arruda Serra porque apostam numa forma diferenciada de golpe, mas se necessário for, mostram os dentes gorilescos como já o fizeram.

As elites brasileiras imaginavam em torno de 1964 que vivíamos uma fase semelhante à de 1864 nos EUA. Nosso atraso, no pensar dessa gente, era a que estávamos defasados cem anos em relação ao “irmão” do Norte e deveríamos nos atrelar a ele para que pudéssemos ter uma Broadway.

Ou uma Hollywood. As multidões que lotavam os cinemas para assistir aos filmes de Oscarito e Grande Otelo eram as “incapazes de compreender Bing Crosby”. Não que Crosby seja ruim, nada disso, mas Oscarito e Grande Otelo eram fantásticos na nossa realidade. Elites torciam o nariz.

Magalhães Pinto foi um dos políticos mais sórdidos, traiçoeiros e corruptos do Brasil. Transformou o Banco Nacional (anos depois consumido pela fraude) num dos grandes do País à custa de dinheiro público.  Protagonizou uma situação absolutamente surreal, só possível numa ditadura. Interditado judicialmente pela família continuou presidente do Senado. Foi ministro das Relações Exteriores do governo de Costa e Silva e signatário do AI-5.

Não abandonou a idéia de vir a ser aceito pelos militares como o presidente civil do Brasil após o golpe e só no final de sua vida, já carcomido e sem forças, resolveu num espasmo de falsa dignidade disputar a presidência pela via indireta sabendo que perderia.

Era uma obsessão.

Os dois lados sombrios de Magalhães Pinto estão presentes em José Arruda Serra. Carrega em si, o candidato tucano, uma espécie de múltiplas partes de políticos deformados em todos os sentidos. É um monstro do laboratório capitalista.

Tem doses de Jânio Quadros embora abstêmio. Tem o cinismo traiçoeiro de Magalhães Pinto e a peçonha de Carlos Lacerda.

É um protótipo montado pelo latifúndio nacional controlado pela MONSANTO. Pelos grandes empresários padrão FIESP/DASLU e pelos banqueiros daqui e d’além mar.

Resta sendo um coveiro da democracia, como o foi Magalhães Pinto.
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