Entender a situação do goleiro Bruno, do Flamengo, não é tão difícil assim. Jogadores de futebol de grandes clubes são transformados pela mídia em deuses intocáveis. Faz parte do espetáculo pão e circo.
Por enquanto existem indícios, hipóteses. Supõe-se que o goleiro e sua mulher tenham assassinado a mãe de um filho de Bruno fora do casamento. Esse tipo de comportamento de jogadores não é incomum. Adriano já havia acorrentado a ex-namorada a uma árvore na favela onde nasceu e lhe aplicado uma surra. É suspeito de ligações com o tráfico.
No DEM a situação é mais complicada. O partido em tese é o herdeiro único da antiga ARENA. Virou PDS, PFL e terminou DEM. Reúne a direita da direita no Brasil. E atrelou-se ao PSDB aparentemente uma direita mais polida, mais arejada (se é que existe direita arejada).
Quando teve seu nome indicado para candidato tucano à Prefeitura de São Paulo José Arruda Serra vetou a indicação de Gilberto Kassab, atual prefeito da cidade, para seu companheiro de chapa. Alegou que Kassab trazia consigo alguns processos por irregularidades no desempenho de mandatos públicos e sua suposta homossexualidade poderia ser um transtorno na campanha.
Arruda Serra pensava em sua adversária, Marta Suplicy, autora do projeto que permite a união civil entre pessoas do mesmo sexo e temia perder essa fatia do eleitorado. Só não contava que a própria Marta fosse se enterrar com declarações preconceituosas sobre Kassab. Em duas oportunidades. Em 2004 e em 2008.
À época engoliu o vice indicado pelo DEM e acabou se acertando com Kassab de tal forma que preteriu a candidatura de Geraldo Alckmin, de seu partido, para privilegiar e reeleger o DEMocrata. Os corruptos sempre se entendem é só definir a parte de cda um.
São unha e carne hoje.
O xis da questão hoje é que uma das preferidas do DEM é a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, envolvida em irregularidades diversas, respondendo a processos por desvio de recursos públicos para sua campanha e uma série de crimes que incluem trabalho escravo.
Kátia Abreu foi útil quando Arruda Serra se viu ameaçado pelo Arruda original, pouco antes do ex-governador de Brasília vir a ser preso. Foi com a senadora que o candidato tucano viajou para Davos, a pretexto de participar do fórum econômico e onde acertou os ponteiros com José Roberto Arruda, longe de holofotes brasileiros. Deu as garantais que o ex-governador precisava para tranqüilizar-se quanto ao seu futuro. A presença de Kátia Abreu foi fundamental, avalizou a palavra de Arruda Serra.
Evitou que o ex-governador jogasse lama no ventilador e complicasse a vida do paulista.
Ser indicada vice do candidato tucano em pleno naufrágio significa acelerar o processo. Mais ou menos como colocar os pés em um bloco de cimento, esperar secar e pular no mar.
O preço que o PSDB paga pelo seu fisiologismo, é um partido sem cor, fisiológico na genética e na essência, não tem tamanho. O maior deles carregar o DEM. O outro arranjar lugar de “conselheiro” a doze mil por mês, para Roberto Freire, o ex-honesto.
O principal é ser PSDB.
Eleições no chamado mundo cristão, ocidental e democrático viraram espetáculo. Os marqueteiros são os diretores. Recebem os candidatos e os lapidam segundo as conveniências ditadas por pesquisas qualitativas e truques de mágica televisiva principalmente. O que se fala numa campanha não tem a menor importância desde que represente avanço, votos, ganhos.
Como vai ser o governo é outra história. FHC foi assim nas duas vezes em que foi eleito. Em 1994 escorado no Plano Real adotado no governo de Itamar Franco e em 1998 no golpe branco da reeleição comprada a peso de ouro junto a deputados e senadores.
Era o projeto original de Collor, mas o alagoano não conseguiu conter o “entusiasmo” diante dos cofres públicos. O tucana sabia disfarçar e conseguia que as pessoas olhassem para o outro lado enquanto metia a mão e vendia o Brasil.
Na prática o que se tira de proveito numa eleição dita democrática é muito pouco, ou quase nada.
Nas eleições presidenciais de outubro deste ano o dilema é um só. Evitar o retrocesso com uma cada vez mais difícil vitória de José Arruda Serra. Consciente que qualquer retrocesso custará muito sangue, suor e lágrimas ao trabalhador brasileiro.
Os efetivos e reais avanços e conquistas só serão possíveis a partir do movimento popular e da organização efetiva da classe trabalhadora. Da ocupação de espaços, tanto quanto de se impedir que esses espaços fiquem cada vez mais curtos já que o governo Lula trouxe avanços, mas não o bastante para um processo de mudanças políticas e econômicas capazes de transformar as estruturas arcaicas no campo, por exemplo, ou a invasão de empresas predadoras, o capital especulativo.
Se ganhamos contornos mundiais de potência, a reforma agrária esbarrou na famigerada política de alianças que resulta em apoio a um candidato desqualificado em todos os sentidos, caso de Hélio Costa em Minas Gerais. Ou escora-se em sobreviventes do período pré-jurássico como o senador José Sarney.
A vitória de Dilma Roussef que vai se delineando em cima do prestígio e do carisma do presidente Lula vai significar exatamente isso. Evitar o retrocesso. À medida que salva a PETROBRAS, certamente privatizada num governo Arruda Serra.
Ou evita um posto de pedágio em cada esquina de cada rua do Pais inteiro.
Terminada a Copa do Mundo inicia-se o processo eleitoral, fica agudo a partir de meados de agosto e Arruda Serra já percebeu que com Kátia Abreu e FHC não vai a lugar nenhum, até porque, ele próprio, é um desses políticos que se costuma chamar de pesado.
Não consegue disfarçar o cinismo, a hipocrisia, o mau caráter genético, seus compromissos com elites econômicas anti-nacionais e a vocação para estremeliques patrióticos quando vê a bandeira dos EUA.
É como a caravela que FHC encomendou para festejar um aniversário da independência do Brasil. Sequer saiu do porto, afundou antes disso.
Imagino o que seja uma reunião para acertar os ponteiros entre o DEM, o ex-presidente e a cúpula tucana. E nem vamos levar em conta que parte da cúpula tucana já descolou da candidatura Arruda Serra. Percebeu que o navio não está só a deriva, está indo a pique.
É a máfia com cores de legalidade.
Bruno é só produto desse mundo de fantasia, de espetáculo.