A AMÉRICA LATINA – UNIDADE SEM EUA E CANADÁ

O ex-secretário de Estado do governo George Bush, primeiro mandato, general Colin Powell, considerava de extrema importância a ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – a partir de uma ótica exclusivamente norte-americana. “Um mercado de um trilhão de dólares”.
 
A decisão de aceitar o acordo, o novo bloco, foi fechada, no caso do Brasil, por Fernando Henrique Cardoso e Bil Clinton. À época a proposta do presidente dos EUA era mais ousada. Sugeriu a fusão das forças armadas de seu país com as do Brasil para a futura criação de um tratado para o Atlântico Sul. Versão da OTAN por essas bandas. FHC aceitou a idéia, mas ponderou que era preciso esperar um pouco mais, até que os militares brasileiros pudessem ser completamente domesticados.
 
O governo Lula excluiu a ALCA de sua agenda. A assinatura do acordo prevista para 2005 não aconteceu.
 
A partir daí o governo dos EUA iniciou uma série de negociações diretas com países latino-americanos e obteve alguns acordos de livre comércio, como com o Chile, por exemplo, a Colômbia, países naturalmente alinhados com Washington sem qualquer tipo de restrição.
 
A ALBA – ALIANÇA BOLIVARIANA DAS AMÉRICAS – proposta pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez levou os governos de Bush e agora Obama a buscar formas de neutralizar a possibilidade de que os países latino-americanos escapem ao controle de Washington e se constituam em bloco político e econômico autônomo.
 
O golpe militar em Honduras foi conseqüência da adesão do presidente Manuel Zelaya a ALBA e as pressões sobre governos da América Central tiveram e têm esse objetivo. Frustrar a criação de um bloco latino-americano.
 
A eleição de um presidente ligado a Washington no Chile, o controle sobre a Colômbia, o Peru e países centro-americanos como Costa Rica, República Dominicana e outros, tudo isso produz avanços na política de recolonização dessa parte do mundo, mas é fundamental para os propósitos dos EUA que o Brasil se submeta.
 
Nas antigas escolas primárias os professores costumavam dizer que se alguém tampasse a Rússia européia com as mãos, o que sobrava do mapa da Europa era insignificante do ponto de vista territorial. O mesmo raciocínio vale para a América Latina. Se tampado o Brasil, para os EUA o resto não tem tanta importância, exatamente porque o Brasil pode ser pólo de unidade latino-americana, vale dizer sem os norte-americanos, sem o Canadá (a rigor, extensão do território dos EUA).
 
No caso específico do Brasil se acresce o peso político e econômico do País.
 
Lula escapou das garras norte-americanas ao inventar o que Ivan Pinheiro chama de “capitalismo a brasileira”. Buscou caminhos próprios sem mudar a essência da estrutura político e econômica do Brasil.
 
A idéia de Chávez, a ALBA, evoluiu, ganhou consistência e qualquer cidadão medianamente informado sabe que um acordo de livre comércio com os EUA liquida com perspectivas futuras para a América Latina.
 
Está claro, ficou evidente no golpe de Honduras, que a OEA – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS – é apenas uma instituição, dentre tantas, onde os EUA exercem seu poder imperial sobre essa parte do mundo.
 
Há alguns anos atrás o governo mexicano protestou contra a decisão de uma empresa dos EUA de construir um depósito de lixo nuclear num município mexicano. O caso, nos termos do NAFTA (acordo de livre comércio entre o México, o Canadá e os EUA) foi parar numa corte judicial dos EUA, onde a empresa tinha sede e o governo do município mexicano condenado a indenizar a empresa por prejuízos com os atrasos no projeto.
 
É esse tipo de livre comércio que os EUA desejam.
 
As granjas Carroll, ponto de partida do vírus da gripe suína, tentaram operar em dois estados dos EUA e foram expulsas. Alojaram-se no México e o resultado está aí.
 
Não existe uma legislação uniforme para os países que integram o NAFTA, mas o poder econômico de duas grandes nações (Canadá e EUA) e um depósito de restos, o México.
 
O que pretendem com toda a América Latina é isso.
 
No Brasil apostam numa vitória do governador de São Paulo José Collor Arruda Serra. Retoma toda a pauta de negociações do governo FHC interrompida com a eleição de Lula.
 
Arrochar ou não vai depender dos resultados eleitorais no Brasil. E mesmo a vitória da candidata Dilma Roussef mantém uma barreira imensa de dificuldades, conseqüência das concessões de Lula para seu “capitalismo a brasileira”. Uma travessia difícil e que só vai ser possível com um governo que tenha características populares e busque a integração latino-americana. Se é latino-americana não inclui e nem pode incluir o Canadá e os EUA.
 
O processo de privatizações do governo FHC foi muito mais que a simples entrega de empresas estatais, públicas, a iniciativa privada. Foi a transferência da autonomia, digamos assim, do Brasil, em várias questões estratégicas para empresas estrangeiras, mesmo levando em conta que o capital majoritário possa ser no papel de empresas e acionistas brasileiros. Elites econômicas não têm pátria. Ou por outra, o dinheiro é a pátria dessa gente. Seja Eike Batista ou Ermírio de Moraes, qualquer um deles.
 
É o caso do fim do monopólio estatal do petróleo, aprovado no governo FHC. O Brasil detém mais de 51% do capital votante da PETROBRAS, mas a maioria das ações preferenciais é de grupos estrangeiros. Uma forma solerte de controle.
 
O pré-sal  desperta o apetite de empresas norte-americanas para a brasileira, uma das maiores do mundo que com toda a certeza virará PETROBRAX num eventual governo Arruda Serra.
 
É outro exemplo.
 
Um compromisso latino-americano, um bloco político, econômico, que avance em questões fundamentais, estratégicas como a reforma agrária, o controle do subsolo, das reservas minerais, de água, de petróleo, a perspectiva de geração de tecnologias a partir dessa visão, é a alternativa para que possamos sobreviver como nação independente.
 
Do contrário, breve, seremos apenas um México a mais.
 
É por isso que investem contra Chávez, contra Evo Morales, mas é principalmente pelo peso do Brasil que apostam as fichas na eleição de José Collor Arruda Serra.
 
A retomada da agenda FHC de BRASIL para BRAZIL. 

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