“Lamento muitíssimo a morte de civis e sei que nossos soldados fazem o que podem para evitar situações desse tipo”, foi o que disse.
Uma semana antes o general comandante das forças norte-americanas (OTAN é eufemismo para essa barbárie) ao lado de “autoridades” afegãs pediu desculpas publicamente por duas ações militares equivocadas e que vitimaram outros 22 civis. Entre os mortos no bombardeio do dia 21 crianças e mulheres.
O primeiro-ministro da Holanda apresentou seu pedido de renúncia à rainha e dissolveu o Parlamento, convocando eleições gerais para dentro de um período não superior a 90 dias. A Holanda integra a OTAN e as reações populares a essa participação se intensificaram nos últimos meses. Holandeses não compreendem o que tropas do seu país fazem no Afeganistão, não aceitam os altos custos dessa presença e entendem que essa é uma guerra dos EUA. Mais uma guerra dos EUA.
Em
http://www.juntosomos-fortes.blogspot.com/
está o depoimento do militar norte-americano Mike Prysner sobre “a verdadeira razão das guerras”
É importante observar que nos Estados Unidos não existe o chamado serviço militar obrigatório. As forças armadas – vamos chamar de efetivos básicos – são formadas de voluntários recrutados na população de baixa renda, entre latinos e oriundos de países da África e da Ásia, com promessa de altos salários, benefícios de planos de saúde e aposentadorias que permitam um resto de vida tranqüilo e com qualidade.
Quem se der ao luxo de prestar atenção ao noticiário que chega daquele país vai perceber que é grande o número de veteranos envolvidos no tráfico de drogas, em crimes de violência que choca e aterroriza a própria opinião pública norte-americana e é grande o número de associações dos chamados veteranos de guerra a lutar por seus direitos e obrigações não cumpridas pelo governo.
Não são recentes as acusações sobre doenças misteriosas que atacam a maior parte dos que participaram da primeira guerra do Iraque e tampouco desconhecidas as provas que o governo usa munição de urânio empobrecido, na prática arma química disfarçada de “alta eficiência”.
Como não poderia deixar de ser e como aconteceu das vezes anteriores as “autoridades” se comprometeram a realizar uma “ampla investigação sobre o ataque à província de Oruzgan, onde aconteceram as mortes.
É o terceiro bombardeio “equivocado” de forças norte-americanas em uma semana e depois de um general dos EUA anunciar que iriam mudar as táticas para evitar que isso tornasse a acontecer.
Aconteceu na guerra do Vietnã (onde os norte-americanos foram escorraçados), aconteceu na guerra do Kosovo (antiga Iugoslávia), era freqüente no Iraque e acontece no Afeganistão. É procedimento padrão, previsto nos manuais, tal como as desculpas protocolares, de uma tropa armada formada a partir de mercenários recrutados dentro do território dos EUA e tropas regulares de países da OTAN, envolvidos no conflito a partir de governos submissos, caso da Holanda, da Grã Bretanha, da Dinamarca, num jeito de dividir os custos da guerra e ao mesmo tempo justificá-la como ação de “nações livres” contra povos dominados por “terroristas”.
O fato de agentes do MOSSAD falsificarem passaportes de países da Europa, assassinarem a sangue frio em Dubai um líder de um grupo palestino, o Hamas, não significa nada para essa gente, ou por outra, significa uma vitória nessa sórdida ação de terrorismo de Estado.
Pedido de desculpas, investigações, fazem parte do jogo, chegam recheados do cinismo que caracteriza os senhores do mundo.
É assim no Haiti e começa a ser assim na Argentina, em relação as Ilhas Malvinas.
Em torno disso tudo o petróleo, minerais estratégicos, a água, o controle absoluto do mundo em função de interesses de um país formado a partir de um complexo militar e empresarial como classificou um deles, o ex-presidente Eisenhower.
São como vampiros que necessitam de sangue sempre para sustentar-se.
O inimigo é imaginário, criado à feição dos interesses políticos e econômicos, vestido de democracia, de piedade cristã e difundido no mundo inteiro como um grande passeio na Disneyworld. Assim se transformam em inimigos “reais” aos olhos dos distinto público.
A veneranda senhora Ana Maria Braga, em seu programa matinal de todos os dias da semana, criticou aqueles que consideraram que o jogador Petkovic foi “indelicado” ao declarar, em resposta a uma pergunta da vetusta anciã, esticada a cinzel de cirurgiões plásticos e passada a ferro de botox, que as dificuldades em seu país começaram com o fim do socialismo e não antes. No socialismo, o jogador declarou, todos tinham emprego, salários, era tudo tranqüilo.
Sem mais nem menos, em seu papel de veicular a alienação em estágio quase que absoluto a senhora (não sei o milagre que fazem para mantê-la andando e falando ao mesmo tempo) declarou que se o comunismo fosse tão bom como Petkovic disse, ele não teria vindo morar no Brasil.
E indelicado teria sido o jogador.
Classificou de invejosos os que a criticam e segundo ela, querem o seu lugar.
Vade retro satanás. Num futuro bem distante um dos desafios da arqueologia será o descobrir como os humanos no século XXI conseguiram algo que os egípcios não alcançaram. Manter múmias vivas e apresentando programas de um negócio chamado televisão.
E sem nada no cérebro.
“As sentidas condolências” têm algo a ver com toda essa parafernália democrática. É a barbárie tomando formas de estupidez e idiotice e cumprindo o papel de alienar.
A arqueologia no século XXX vai ter muito o que pesquisar. Desde a veneranda Ana Maria Braga, passando pela meteórica jovem Suzana Vieira comprando jóias num shopping, a decifrar como era possível que Miriam Leitão conseguisse articular palavras em meio a grunhidos. O mistério mesmo vai ser explicar William Bonner histérico diante da falta de ranhuras no aeroporto de Congonhas, ou orgástico num dossiê falso enquanto assentava em cima de mais de cento e cinqüenta mortos num desastre aéreo.
No fim, “sentidas condolências”.
E nem falei do golpe militar em Honduras e da Anistia Internacional achando que Pepe Lobo, o presidente golpista, vai punir os torturadores, os estupradores. Se esqueceu, a Anistia, que todos foram abençoados pelo cardeal hondurenho e no dia golpe.