Napoleão Bonaparte tinha à sua disposição um jornal para contar suas vitórias militares, políticas, enaltecer sua genialidade e alguns dos seus críticos diziam que se não fosse imperador, certamente o general seria editor de jornal.
A percepção da importância da imagem. O controle da comunicação.
Quarenta milhões de norte-americanos não dispõem de qualquer cobertura de saúde pública. É o dobro da população de Cuba. A nação mais rica e poderosa do mundo não consegue fazer o que a ilha faz. Há um documentário de Michael Moore devastador sobre o assunto.
Falta de recursos? Não. Iniciativa privada.
O presidente dos EUA Barack Obama parece que resolveu enfrentar o seu primeiro round real para deixar de ser só o presidente oficial e exercer o cargo lato senso. Ser também o presidente de fato. Grupos privados da área de saúde, laboratórios, todas as quadrilhas se mobilizaram e em protestos contra Obama. Acusam-no de socialista.
O grande problema das quadrilhas que formam o que conhecemos como empreendedores, empresários, banqueiros, latifundiários é que mesmo quando mostram conhecer garfo e faca como utensílios para facilitar o ato de comer, é que são ferozes, sem medida na ferocidade ou na insânia com que agem em defesa de seus privilégios.
Se querem um exemplo brasileiro dou dois. A senadora Kátia Abreu, latifundiária e corrupta de carteirinha e o senador Artur Virgílio. Deveriam ser obrigados a usar focinheira pelo alto risco que oferecem ao País e aos brasileiros. Não sei nem se o Butantã tem o antídoto, acho que não foi ainda descoberto. São picadas como as de FHC e José Serra. Letais.
E nem sei se o projeto de reforma da saúde do presidente Obama contempla todos os norte-americanos, ou é mero paliativo, um exercício de malabarismo para uma no cravo e outra na ferradura, afinal Obama sofreu uma baita queda nos índices de aprovação do seu governo e precisa optar. Ou é presidente, ou é garçom, ou pintor, ou não é coisa alguma só um produto de marketing. O branco que lava mais branco ainda.
O que sei é que a comunicação é hoje o principal desafio dos seres humanos para preservar, sem aspas, perspectivas reais de construção de um mundo alternativo.
A que? À fome, às guerras, a violência e a barbárie das classes dominantes, a transformação do ser humano em objeto de consumo.
Um dos principais fatores da derrota militar e política dos EUA na guerra do Vietnã foi a comunicação. O tráfico de drogas entre governantes do antigo Vietnã de Sul, a tortura de presos políticos, a corrupção, a violência das tropas norte-americanas, o uso de armas químicas, as mesmas práticas e procedimentos que usam nas guerras do Iraque e do Afeganistão, com a diferença que no Vietnã esses fatos vieram a público com tal intensidade que não houve como sustentar uma guerra sem sentido. E além do que esbarraram na extraordinária capacidade de resistência e luta do povo vietnamita.
Qual o sentido da extrema boçalidade do Estado de Israel contra o povo palestino?
E o que as pessoas sabem disso além daquilo que é impossível esconder?
Os grandes veículos de comunicação hoje são instrumentos do poder. Na prática o poder os descobriu muito antes de Napoleão. O caminho percorrido pelas classes dominantes foi apenas o de aperfeiçoar os mecanismos de controle apoderando-se da espinha dorsal da comunicação. E aprisionando os espíritos das pessoas.
É só tomar o Brasil como exemplo. O que são redes de tevê, jornais, revistas, a chamada grande mídia? Parte do processo político e econômico de um mundo onde a prostituição infantil incomoda menos que a reação de arrozeiros do estado de Roraima, contra decisão que os expulsa de terra que roubaram a indígenas.
O chamado agronegócio no Brasil custa algo em torno de 97 bilhões de reais aos cofres públicos e gera 97 bilhões em exportações. Ou seja, os cofres públicos, vale dizer o cidadão financia o latifúndio que a senadora Kátia Abreu vocifera e transpira em cada discurso que faz na chamada Câmara Alta e a mídia transforma tudo isso em progresso, crescimento econômico, patriotismo, etc, sem que esses compromissos sejam honrados, pelo simples fato que esse poder predador (em todos os sentidos, o ambiental nem se fala e nem se pode medir sua extensão, seu alcance) tem o poder de acuar governos no torpe e podre jogo de poder.
O constitucionalista Pedro Estevam Serrano disse em entrevista que o Brasil tem dois poderes, “o do estado e o da mídia”.
Os grandes veículos de comunicação não vão dizer nunca que os pequenos agricultores do Brasil foram responsáveis por ganhos reais (em todos os sentidos, políticos, econômicos e sociais), até porque custaram e custam bem menos que os grandes latifundiários. São responsáveis por 60 bilhões de reais do PIB agrícola deste ano e receberam apenas oito bilhões de financiamentos. Pouco mais de 10% do que oferecerem com resultado. O total desse PIB é de 153 bilhões de reais.
A Constituição do País determina que os índices de produtividade sejam revistos, na prática a palavra correta seria reexaminados de dez em dez anos. A última revisão/reexame foi feita em 1975. De lá para cá nenhum presidente conseguiu enfrentar a bancada ruralista (latifundiários) e fazer cumprir a Constituição.
Lula prometeu ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) que promoveria a revisão dos índices. Isso, lógico, mostraria a absoluta improdutividade de grande parte do latifúndio, da turma do agronegócio. Depende de barganhar com essa gente (ele entende assim, tem entendido assim) para que sejam aprovados projetos ou medidas de interesse do seu governo (caso do pré-sal, por exemplo). E essa gente quer continuar que a terra seja fator de lucro.
Se a fome grassa, não é problema deles, o lucro também grassa, isso sim, é o objetivo desse doentio e acendrado patriotismo.
Como afirma um especialista no assunto, que durante anos trabalhou na fiscalização de projetos na agricultura e na pecuária para agências de financiamento, a turma do agronegócio “é capitalista na hora do lucro e socialista na hora do prejuízo”.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, em resposta à promessa do presidente Lula assinou o decreto de revisão dos índices de produtividade e o encaminhou ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes que disse que é contra.
Há necessidade que o decreto seja assinado para que vigore a partir de 2010.
Ministros, até que Lula decida o que vai fazer, em tese são delegados do presidente da República. No caso de Stephanes parece que não.
É dono e senhor do “negócio” e o presidente mero espectador do seu próprio governo.
O controle da informação, a concentração de veículos de comunicação em mãos de poucos e a aberração que permite conglomerados como a GLOBO, ou imprensa marrom como a praticada por VEJA, todo esse conjunto, faz com que o pato seja o cidadão comum, o que paga as contas das campanhas eleitorais da senadora Kátia Abreu. Patriótica e democrática.
E acredite que o MST seja o responsável por todos os males que afligem os “pobres” latifundiários.
Por que não uma CPI sobre o agronegócio? O quanto custa, os danos que causa ao País, ao meio-ambiente, por extensão à saúde? Por que não trazer a público todo o emaranhado de financiamentos e rolagem de dívidas de bandidos que operam o setor, mas segundo a bandida VEJA, são geradores da nossa “felicidade”?
E porque não explicar que o Brasil é o maior “consumidor” de agrotóxicos do mundo, na esteira desse progresso sujo e desumano?
Desde que VEJA inventou a vaca que dá leite com sabor morango, chocolate, baunilha, etc e a GLOBO se construiu como porta-voz da barbárie militar, ou que seus miquinhos amestrados, assim tipo Miriam Leitão, despejam mentiras para ludibriar e alienar os brasileiros, a grande mídia é só um instrumento das classes dominantes.
Aceitar ou não que seja assim, continue a ser assim é uma questão de preferência. Há quem goste de cair de quatro e há quem goste de andar com a cabeça erguida. É simples assim, por mais ingênuo que possa parecer.
É um dilema para Lula. Quem governa, ele Lula ou Reinhold Stephanes?