DOCUMENTOS SECRETOS – DITADURA MILITAR/TUCANOS – HONDURAS

A revelação pública de documentos do governo Nixon nos EUA (1969/1971) mostra a cumplicidade do governo ditatorial do general Garrastazu Medice com o golpe militar que derrubou o presidente constitucional do Chile, Salvador Allende.

A conversa entre Medice e Nixon ocorreu em nove de dezembro de 1971 no salão oval da Casa Branca e dela participaram o secretário de Estado Henry Kissinger e o general norte-americano Vernon Walthers, à época designado comandante em chefe das forças armadas brasileiras. A presença de Walthers se deu por essa razão, o comando que exercia no Brasil e pelo fato de falar português.  Ou vice versa, o comando era por falar português.

Medice concordou com todos os planos para derrubar o governo de Allende (primeiro governo marxista eleito pelo voto direto na América Latina) e não só se dispôs a participar no que fosse necessário, como estender o procedimento a toda essa região, evitando governos de esquerda.

Há um aspecto importante nesse fato. Os documentos são oficiais, foram liberados pelo Departamento de Estado através de um setor próprio. A liberação obedece a uma lei norte-americana que torna públicos determinados documentos secretos após um tempo de preservação por interesses da segurança nacional. Tudo bem.        

O aspecto importante, para além da conhecida e pública participação dos governos do período da ditadura militar em ações golpistas e de repressão na América Latina, é a submissão dos militares brasileiros a um comando norte-americano. A um general dos EUA.

Vernon Walthers foi adido militar em Brasília nos anos 60, assumiu o comando das forças armadas brasileiras tão logo chegou ao País e operou todas as decisões do golpe militar que derrubou o governo Goulart. Suas ligações com o Brasil e o fato de falar português foram fundamentais, sem contar sua característica de oficial de inteligência, lotado em boa parte de sua carreira na CIA. Chegou a ser vice-diretor da agência. 

Walthers, na IIª Grande Guerra era o oficial de ligação entre as tropas dos EUA e a FEB (Força Expedicionária Brasileira) e já ali começou a ser montada a deposição de Vargas em 1945. Um dos subordinados diretos de Vernon Walthers era o general Castelo Branco, primeiro presidente do período ditatorial.

O que tem de importante nisso, o que isso significa? Que o tal patriotismo e nacionalismo das forças armadas brasileiras é balela, não existe. A nota divulgada pelo Clube Militar há cerca de dois dias mostra que permanece, na maioria da tropa, esse sentimento de ser parte das forças armadas norte-americanas. Pensam, agem como quer Washington e se subordinam ao comando do Pentágono.

O fato de um general àquela época falar português, Walthers, hoje seria insignificante. Muitos oficiais norte-americanos o fazem e pior, muitos oficiais brasileiros falam inglês fluentemente para estar próximo dos reais comandantes.

As forças armadas brasileiras não se recuperaram ainda do expurgo de milhares de oficiais, sub-oficiais, sargentos e praças à época do golpe. Os que tinham de fato compromissos com o Brasil e com a legalidade constitucional.

Pimenta da Veiga é um desses políticos padrão Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, ou o novo “milionário” (às custas do dinheiro público) Aécio Neves. Bebe nas águas de FHC e José Serra, dois notórios funcionários de fundações norte-americanas e designados para o Brasil.

Quando do Congresso Nacional Constituinte, eleito em 1986, propôs emenda ao projeto inicial de Constituição que obrigava a liberação de documentos considerados sigilosos vinte e cinco anos após o fato e em determinadas circunstâncias, 50 anos após o fato.

Ao procurar o deputado Amaral Neto para pedir sua assinatura no texto da emenda que estava propondo, Amaral, de extrema-direita e corrupto, chamou-o de louco e disse que aquilo era uma temeridade, afinal o cidadão comum ia ter acesso, num determinado tempo, a documentos oficiais que no interesse do clube de amigos e inimigos cordiais do mundo institucional deveriam permanecer ocultos, bem guardados.

Amaral Neto ouviu de Pimenta a seguinte explicação –“isso não vai passar, estou apresentando para fazer média com alguns setores, pode assinar sem susto” –. Lembrou à época os velhos tempos da UDN que vociferava contra o aumento salarial de deputados e senadores, mas depois, no voto, secreto né, votava a favor. Ou seja, complementava com deputados e senadores a maioria necessária.

A realidade da América Latina foi descrita, por mais exaustiva que seja essa citação, pelo general Golbery do Couto e Silva, um dos artífices do golpe de 1964, ligado a Castelo Branco e aos irmãos Geisel. “Há momentos de sístole e momentos de diástole. De abertura e de fechamento”. A frase justificava, para o general, o golpe contra o governo Goulart e mais que isso, bem mais, definia a natureza política do modelo a ser seguido pelos países latino-americanos em períodos ditatoriais ou chamados democráticos, como agora.

Vale dizer, pouco importa, vai ser sempre a mesma coisa. Subordinação aos interesses norte-americanos.

A realidade da AL hoje preocupa e assusta os EUA. Não existe um governo popular apenas, como o de Allende, ou o de Jango. Países como a Venezuela, o Equador, a Bolívia, o Paraguai, a Nicarágua, El Salvador e mesmo em determinados momentos Argentina, Uruguai e o próprio Brasil, escapam do controle de Washington. No caso específico da Venezuela, do Equador e da Bolívia, Chávez, Corrêa e Morales se juntaram à revolução cubana para construírem nações livres e soberanas, ao arrepio do modelo beba coca cola, coma McDonalds, adore a Disneylândia e seja feliz para sempre. Sem se esquecer de acreditar no JORNAL NACIONAL e pedir a bênção ao “bispo” Edir Macedo.  Seja um Homer Simpson e pague o dízimo.

O governo anterior, Bush, tentou em 2002 derrubar o presidente da Venezuela num golpe fracassado. A idéia que Obama pudesse iniciar uma nova era nas relações com a América Latina, onde esse fantasma de golpes militares fosse definitivamente afastado, não passava, como não passa, de quimera, de ilusão fabricada pela mídia controlada também.

O golpe em Honduras tem esse caráter. Foi montado e financiado pelo governo dos EUA, como se sustenta no governo dos EUA. As declarações de Obama a favor da democracia naquele país não se materializam em atitudes efetivas e Honduras vive um período de repressão, prisões, assassinatos de lideranças políticas de oposição, tortura, todo o processo que vivemos durante os governos militares entre 1964 e 1984 e a América Latina como um todo.

Honduras é um sinal de alerta. Semana passada o presidente Lula retirou da pauta de votação do Senado, através de suas lideranças, a mensagem presidencial contendo o acordo que inclui a Venezuela no MERCOSUL. Seria derrotada a pretensão já votada e aprovada em outros países. Tucanos e Democratas, parte do PMDB, com salário pago entre outros pelo Departamento de Estado, Fundação Ford, empresas do esquema FIESP/DASLU, latifúndio e os discípulos de Edir Macedo e da GLOBO iriam votar contra.

O papel que Médice exerceu, ele e os presidentes/ditadores, de subordinação aos interesses de Washington se repete nos dias de hoje na aposta que os EUA fazem em empresários, banqueiros, latifundiários e políticos controlados e dirigidos segundo esses interesses. Boa parte das forças armadas, mesmo silenciosa, apóia e isso fica claro quando generais como Augusto Heleno se manifesta a favor de arrozeiros contra índios e VALE contra interesses nacionais na Amazônia.

A liberação dos documentos desse período presidencial nos EUA, a prova da participação brasileira em golpes de estado na América Latina, o golpe em Honduras, as políticas terroristas dos EUA, mesmo com o disfarce de negro e bom moço do presidente garçom Barak Obama, a soma de tudo isso, mais ou menos parece um quebra cabeças em que o final é trágico para os povos latino-americanos. 

E o fato de Obama ser mero garçom nesse processo não significa que ser garçom seja mero. Garçons são de extrema importância para a normalidade em todos os sentidos. Pelo que significam e pelo que representam. Obama é a ovelha branca. 

Não contavam com a resistência em Honduras. Imaginavam que passadas uma ou duas semanas o povo hondurenho aceitaria o governo títere. A barbárie dos generais supostamente hondurenhos, mas atentos ao hastear da bandeira dos EUA para perfilarem-se em curiosa posição de joelhos e submissão.

O “dá ou desce” de Edir Macedo sobre o dízimo dos seus fiéis. O padrão global de qualidade na mentira. Toda a extensão da mídia dita grande, podre e corrompida, é isso aí.

Essa teia que nunca deixou de existir e faz da América Latina um alvo prioritário do terrorismo capitalista. Daí as bases na Colômbia, os ensaios para uma base no Recife (se os tucanos ganharem as eleições de 2010 é no dia seguinte). FHC  assim que tomou posse mandou para o Congresso a lei de patentes, foi votada em inglês sem a tradução e liberou a Amazônia para o que chamam de SIVAM, processo de controle da região pelos EUA.

De tudo isso há uma outra grande realidade. Num dado momento vai ser necessário confrontar essas forças. A resistência pacifica e de formação e organização populares, de conscientização passa por enfrentar desafios imensos, talvez o maior deles o da comunicação. Mas passa.

Como é luta de resistência, haverá um momento em que à semelhança de um assalto que o assaltante vai empurrando a vítima com a faca espetada na sua barriga, não haverá mais espaço para recuos. Só um grande muro.

E aí a opção vai ter que ser simples e bem direta. Lutar ou lutar. Do contrário é morrer, não importa que permaneça vivo. 

É outra frase batida e surrada, mas pela sua precisão. “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
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