PARA QUE SERÃO CONSTRUÍDAS SETE BASES ESTRANGEIRAS NA AMAZÔNIA?

“PERGUNTA ÓBVIA: SE A GUERRILHA ESTÁ DERROTADA, PARA QUE SERÃO CONSTRUÍDAS SETE BASES ESTRANGEIRAS NA AMAZÔNIA?”

César Benjamin é o autor dessa pergunta óbvia. Editor da Contraponto, doutor honoris causa da universidade bicentenária de Aragua, na Venezuela, num artigo com a pergunta acima desmistifica todo o processo de instalação das sete bases militares dos EUA na Colômbia, a pretexto de combater o narcotráfico.

De um modo geral quando as pessoas estão histéricas ou em estado meio que cataléptico é costume dar uma sacudida, uns arrancos e tentar assim trazê-las de volta à realidade.

Brasileiros, de um modo geral, precisamos de uns trancos para que possamos dar conta da realidade que nos cerca. O artigo de César Benjamin, a moda dos antigos éditos dos monarcas, deveria ser leitura obrigatória para cada um de nós.

Está ali, num texto de duas ou três laudas todo o diagnóstico preciso e correto dos fatos. Estão lá os dados necessários à percepção dos reais interesses norte-americanos em montar sete bases militares na Colômbia.

Amazônia é a palavra chave. O controle das reservas de água doce, a capacidade de intervir e alterar as matrizes energéticas e a biodiversidade. Em suma. O que o mesmo César Benjamin, em dezembro de 2002, chamou de “século da recolonização”, em palestra feita na cidade mineira de Juiz de Fora. Se o século XX significou o fim das colônias européias em continentes como África, Ásia e mesmo América Latina, o atual é o da “recolonização”.

O fim da União Soviética e consequentemente da guerra fria pressupunha desarmamento. Ocorre o contrário. Os Estados Unidos desenvolveram o projeto guerra nas estrelas, publicamente revelado no governo Reagan e nunca o poder militar de uma nação foi de tal ordem que pudesse representar para nações soberanas em qualquer parte do mundo a ameaça que hoje representam norte-americanos.

E nunca se imaginava que um governo que se anunciava de mudanças na ordem fascista de Bush se atirasse com tal agressividade como vem fazendo o governo Obama em práticas políticas dessa ordem.

Sem favor algum um dos grandes pensadores da esquerda brasileira – por mais que a palavra esteja desgastada –, César Benjamin, além da pergunta chave, do por que das bases, relembra a transformação da guerrilha em partido político e as expressivas vitórias conseguidas nas eleições que disputou, até que o que o autor chama de “forças poderosas” iniciaram um processo de “assassinatos seletivos”, matando três mil e quinhentos integrantes da União Patriótica, partido no qual havia se transformado a guerrilha na Colômbia.

E entre os assassinados o candidato presidencial e todos os que obtiveram mandatos populares. Lembra ainda que mais mil tentativas de assassinatos foram feitas e essa prática levou ao renascimento do movimento de guerrilha.

A paz na Colômbia fracassou, o próprio César Benjamin participou de negociações a convite do governo colombiano à época, por conta de interesses de grupos fáceis de serem identificados. Os mesmos que, hoje, associados ao governo Uribe e aos EUA, continuam assassinando lideranças populares e têm na guerrilha o pretexto para a possível primeira intervenção militar ostensiva dos EUA nessa parte do mundo, a América do Sul.

É crescente a participação norte-americana tanto por tropas regulares como por tropas “terceirizadas” (comuns no Iraque) em território colombiano. São os velhos mercenários sem pátria e sem causa. Ou por outro, o dinheiro como causa.

É evidente que a guerrilha superestima sua força. Mas é óbvio que se estão derrotadas, “para que serão construídas sete bases estrangeiras na Amazônia?”

Como não resta dúvida que a guerrilha não tem, neste momento, nenhuma alternativa de paz, até porque não há como confiar em qualquer acordo com governos como Uribe. Nesse contexto é um movimento legítimo de resistência.

Outro aspecto de suma importância no artigo de César Benjamin é a referência ao “golpe midiático” que “transformou” a guerrilha em instrumento do narcotráfico. O narcotráfico está no governo da Colômbia.

Nessa história toda como fica o Brasil? O governo Lula piscou e piscou feio ao lado do governo chileno na tentativa dos países da UNASUL (União de Nações Sul-americanas) de condenar os Estados Unidos pela disposição de montar as sete bases militares e território colombiano. Chile e Brasil se abstiveram sob a alegação que é um problema da Colômbia com os EUA e não cabe condenar ou não.

Lula, mais uma vez, na hora agá, sentou em cima e nossas tropas continuam no Haiti, oprimindo e participando do processo de recolonização daquele país.

Não é uma questão de meios termos. Por trás da ação pelo controle das reservas de água doce, da biodiversidade e da intervenção nas matrizes energéticas, existem os golpes de estado e curso contra os governos de Hugo Chávez, Rafael Corrêa e Evo Morales (Venezuela, Equador e Bolívia). Como no descarado apoio ao golpe em Honduras se tem mais dois alvos diretos. A Nicarágua e El Salvador.

Há toda uma política voltada para o controle da América Latina pelos Estados Unidos. E há dois momentos que definem essa realidade. Basta que nos recordemos da frase do general Golbery do Couto e Silva, um dos artífices do golpe militar de 1964, sobre movimentos de “sístole ou diástole”, fechamento ou abertura, como ele próprio explicou à época, para dizer que, em qualquer modelo político, o modelo econômico seria sempre o mesmo e ditaduras aconteceriam à medida das necessidades desse voraz apetite do poder econômico.

A democracia no Brasil, nesse aspecto, não trouxe nenhuma mudança significativa, exceto na no neoliberalismo populista de Lula, ou na tentativa de inventar o “capitalismo brasileiro” (constatação de Ivan Pinheiro), como se isso fosse possível.

O segundo momento, a importância do Brasil, definida na frase de Nixon ao tomar conhecimento dos guetos de tortura do governo do ditador Medice. “É lamentável, mas ele é um bom aliado e para onde se inclinar o Brasil se inclinará a América Latina, temos que apóia-lo e fechar os olhos a isso”.

Honduras é uma síntese do processo político vivido na América Latina. É, portanto, uma etapa decisiva na luta de resistência.

A correlação de forças é desigual. Elites econômicas e políticas brasileiras são como elites colombianas, hondurenhas, argentinas, uruguaias, são elites, portanto apátridas.

Os meios de comunicação estão sob controle desses grupos. A própria Conferência Nacional de Comunicação, convocada para repensar o modelo brasileiro, em mãos de meia dúzia de famílias, já tem a presença da Fundação Ford, a mesma que ajudou a pensar a doutrina de segurança nacional vigente nas décadas de 60, 70 e boa parte da de 80 no século passado.

Tinha o pomposo nome de Comissão Tri-lateral, ou AAA (América, Ásia e África). Foi aplicada em cada um desses continentes, o exemplo mais vivo é da guerra do Vietnã.

Sobre ser leitura obrigatória para cada brasileiro, falo do artigo de César Benjamin, é mais ou menos como o direito de conhecer a realidade sem a mistificação de veículos como GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE MINAS, RBS, ESTADO DE SÃO PAULO, ÉPOCA, etc e a partir daí optar por resistir ou aceitar passivos o estupro e a recolonização.

Um novo PR – ponha-se na rua – dos tempos que D. João VI chegou ao Brasil e a corte ia requisitando as casas que abrigaram desde d. Carlota Joaquina, até condes, duques, barões, marqueses e áulicos.

Por que as bases, se a guerrilha está derrotada? Não é o que dizem?

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