Tomou essa atitude depois de consultar por telefone o general Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército – denominação da época à força militar do Nordeste, com sede em Recife –. Justino, até um determinado horário, foi “legalista”.
Na tarde do mesmo dia 31 de março percebeu que as forças golpistas estavam conseguindo apoio da maioria dos comandos militares e na manhã de 1º de abril lançou nota pública dando apoio ao golpe e lamentando que o governo Goulart tenha tomado rumos contrários à democracia e ao arrepio da constituição.
Esse tipo de punhalada, em menor escala, Sarney havia dado anos atrás no cacique político do ex-PSD de seu estado, Vitorino Freire, pulando para a antiga UDN. O comportamento de Sarney nunca foi diferente desde o momento que decidiu ingressar na política.
Com o golpe militar e das elites econômicas em 1964 tratou de alinhar-se aos donos do País e o fez com extrema maestria. Saiu do governo para o Senado e lá permanece até hoje com um breve intervalo na presidência da República, um dos mais trágicos governos da história do Brasil. O governo do “boi no pasto”. O tal plano cruzado.
Nesse meio tempo presidiu a ARENA – ALIANÇA RENOVADORA NACIONAL – partido que sucedeu a UDN e alguns afiliados menores no espectro da direita brasileira. O partido da ditadura no simulacro de democracia que os militares e elites arrumaram para disfarçar a barbárie do período.
Sarney, cujo nome é José Ribamar (virou Sarney por conta do hábito que os empregados de seu pai, Nei, tinham de chamá-lo de filho do sir Ney). Sorte de milhares de Ribamar que existem no Nordeste brasileiro.
Em 1984, quando da candidatura de Tancredo Neves à presidência, nas últimas eleições indiretas no País e na perspectiva do primeiro presidente civil na abertura lenta e gradual do general Geisel (atropelada pela cavalgadura chamada Figueiredo), acabou candidato a vice-presidente, presidente em decorrência da morte de Tancredo.
Tomou uma esculhambação de Figueiredo, polido como rinoceronte, quando foi comunicar ao general que iria deixar a ARENA, a essa altura PDS e ingressar no PFL para a aliança com o governador de Minas.
Ouviu calado, pediu desculpas, saiu de cabeça baixa, tudo no seu estilo de administrar as realidades políticas em proveito próprio e da família.
Quando foi tomar posse em lugar de Tancredo, já no hospital, recebeu a faixa das mãos de outra figura. Figueiredo recusara a passá-la a antigo subalterno. O último ditador saiu pela porta dos fundos do palácio pedindo que “me esqueçam”.
Foi outro episódio de “democracia consentida”. O presidente da Câmara, então Ulisses Guimarães, deveria ter sido empossado presidente da República até o restabelecimento do eleito, Tancredo Neves. Arrumaram um jeito jurídico para empossar Sarney, Ulisses era demais para os militares. Não tinha o hábito de dobrar a coluna e nem de servir de tapete para generais golpistas.
O Nordeste brasileiro viu florescerem dois grandes “coronéis” no período da ditadura militar. Antônio Carlos Magalhães, na Bahia e José Sarney, no Maranhão. O “carlismo”, como é chamado o grupo de ACM, hoje se esfacela em muitas facções, mas sobram ainda ACM Filho, senador na vaga do pai e ACM Neto, filho de Luís Eduardo Magalhães, ex-presidente da Câmara e falecido no governo FHC.
O poder desses dois era de tal ordem que quando da morte de Luís Eduardo Magalhães o então presidente FHC estava em visita oficial à Espanha e interrompeu a visita. Veio para o velório do deputado. Retornou à Espanha depois.
Outra figura pusilânime como Sarney, FHC consultou os assessores mais diretos sobre se deveria vir ou não e ouviu em resposta que ACM fazia questão disso. Não vir significaria dificuldades no Congresso. Veio correndo, largou Juan Carlo de Bourbon para lá e veio.
O prefeito da cidade de Ficarra, na Sicília, Itália, pegou parte do seu salário e em comum acordo com os funcionários públicos, parte dos salários desses e fizeram em comum uma baita aposta na loteria com prêmio em torno de 300 milhões de euros, quase um bilhão de reais. Segundo ele, cansado de esperar pelas verbas do governo federal, o chefe é Berlusconi, decidiu pedir ajuda à padroeira da cidade e tentar a sorte na loteria. Acha, como acham os funcionários, que as chances de ganhar são maiores que as chances de receber as ditas verbas.
Patrizia D’Addario, em entrevista em Roma, disse que não recebeu um centavo de Berlusconi para participar das festas no palácio do primeiro-ministro e que dormiu com ele de graça em troca da concessão de uma licença para um prédio no qual tinha interesse em Bari. Patrizia foi indicada por Berlusconi como candidata do seu partido ao parlamento europeu e só não conseguiu obter a vaga por conta dos protestos da mulher de Berlusconi.
Sarney não tem necessidade nem de jogar na loteria e nem de preencher vagas no parlamento com eventuais acompanhantes. Bastou nomear toda a família, amigos da família, namorados, namoradas, enfim, um monte de aquinhoados com empregos vitalícios e quinhões políticos de dois dos estados brasileiros, já que resolveu ampliar seus horizontes e virou senador pelo Amapá.
E repartir essas benesses com outros senadores, inclusive seus críticos como Tasso Jereissati e Artur Virgílio. Tasso é “coronel” dos novos tempos, os tempos da tecnologia, do marketing e Virgílio nunca conseguiu sequer chegar a cabo. Mas se fartaram nos negócios desde que entraram na política. E entraram com o primeiro deles que aportou no Brasil ao lado do almirante Pedro Álvares Cabral.
É de tal ordem a farra no chamado modelo institucional, democrático, cristão o ocidental brasileiro que o presidente do antigo Supremo Tribunal Federal é Gilmar Mendes, funcionário da STF DANTAS INCORPORATION LTD.
Cassar Sarney, ou exigir da figura que renuncie à presidência do Senado para não macular a Casa é no mínimo achar que o povo é trouxa e acham isso mesmo, tanto que são senadores. É o caso de Pedro Simon. Bucha e estrebucha contra a corrupção no País, pede a saída de Sarney, mas senta em cima na corrupção no seu estado o Rio Grande do Sul, onde se alia à turma.
E fica caladinho.
O “coronel” José Sarney existe no Maranhão e na versão tecnologia de ponta em São Paulo, no esquema FIESP/DASLU. Vem na forma de José Serra, como veio antes vestido de FHC.
Ou na fantasia “viagens fantásticas do marujo Aécio”, do governador de Minas.
São máfias no estilo antigo e máfias no estilo moderno, contemporâneo.
O modelo permanece intocado. Em última instância quem vai definir isso em caráter primeiro é Gilmar Dantas Mendes e aí fica tudo do mesmo jeito.
A saída ou não de Sarney é só uma questão de acordo, exatamente, de acordo entre as máfias. Do senador perceber que está encurralado e cumprir o pacto de honra entre criminosos. Não abrir a boca, não denunciar ninguém.
A mídia faz sua parte. Crucificou Sarney, continua a crucificar e silencia quanto aos novos chefões, ou possíveis novos chefões. É parte do esquema e parte fundamental para iludir o trouxa cá embaixo.
Esse negócio de honra sumiu do País quando Artur Virgílio usou a palavra, a expressão, em sentido lato, pleno, para exigir que tal senhora viesse a habitar o Senado, no pós Sarney. Putz! Marconi Perillo, pilantra tucano com trocentos processos?
E ele Virgílio, vai ficar lá? Não muda nada.
O “coronel” José Sarney é só o nervo exposto de um modelo falido, literalmente. Nada mais que isso.
Ou será que ainda existem incrédulos que acham que Tasso Jereissati é um exemplo de probidade? O cara é bandido de quatro costados.
A porta de saída? Refundar o Brasil. Do contrário continuaremos em berço esplêndido, fornidos dessa democracia hipócrita e irreal e acreditando que Deus fala pela voz de William Bonner no JORNAL NACIONAL e aquela moça que está viajando o Brasil para falar de suas fotos na PLAYBOY, a tal de PRI, ex-BBB, é a prova de quem quiser chega lá.
É só determinação, vontade de vencer. Vai daí que acaba sendo o futuro.
Vale dizer, sem futuro.