"NÃO POSSO PARTICIPAR DE UM CIRCO PÚBLICO"

A atriz Elizabeth Taylor, de 77 anos, amiga de Michael Jackson recusou o convite da família do cantor para “dizer algumas palavras no seu enterro”. Deu uma explicação direta e simples – “não posso participar de um circo público” –. A despeito de ter evitado maiores críticas aos funerais de Jackson, Elizabeth Taylor não deixou de dizer que não concorda com o caráter de espetáculo que cercou o fato.

Os principais jornais e sites da internet destacam o fato de milhões de pessoas em todo o mundo terem podido acompanhar ao vivo e em tempo real todo o “show”. Uma legião de astros dos mais variados setores do show busines e do mundo dos esportes tiveram participação direta. Ou cantaram, ou leram mensagens louvando a trajetória de Michael Jackson.

No Staples Center, em Los Angeles, Califórnia, 17 mil pessoas assistiram a tudo. Os ingressos se esgotaram rápido. Redes de tevê transmitiram ao vivo para todo o país e diversas partes do mundo. A polícia isolou as áreas do entorno e um caixão dourado com o corpo de Jackson foi colocado no centro do ginásio. Milhares de pessoas que não dispunham de ingressos ficaram do lado de fora apenas assistindo e ouvindo em telões.

Um dos vídeos mais assistidos dentre todos que falam de Michael Jackson é de uma rede de tevê exibindo o interior do rancho onde o cantor morava. Num determinado momento da transmissão uma sombra passa por uma porta. Segundo a legião de fãs de Jackson seria o próprio cantor.

”O mundo é um palco no qual homens e mulheres são apenas atores. Fazem sua entrada, sua saída, e a cada homem, em seu tempo, cabem vários papéis.” A afirmação foi feita há séculos por William Shakespeare.

A cerimônia sacralizada. Segundo Grotowsky, responsável por uma das muitas escolas teatrais da história, “alimenta uma atmosfera de comunhão com o artista”.

O chefe, o messias aguardado por espectadores ávidos da ilusão que como um deus ex machina que chega e se volta para as angústias dos mortais. Goebbels tinha consciência disso ao montar “as óperas” nazistas. Gigantescas engrenagens que se moviam em êxtase à chegada desse deus. 

Para Roger-Gérard Schwartzenberg a “decoração do poder é a mesma do teatro”. “Fortalecido por essa luxuosa maquinaria, o ator heróico compõe seu personagem fora do comum vivendo na extravagância. Como monstro sagrado”.

Não terá sido por outra razão que os funerais de Michael Jackson se encerraram com a canção “We are the world.”

O presidente deposto de Honduras Manuel Zelaya parece ter caído na armadilha norte-americana anunciada e definida pela secretária de Estado Hilary Clinton desde o princípio da semana próxima passada. Zelaya, segundo as agências de notícias da chamada grande mídia, aceitou a mediação do presidente da Costa Rica Oscar Arias, prêmio Nobel da paz.

Arias anunciou que na quinta-feira começam as conversações sobre a crise hondurenha com a presença do presidente deposto e do presidente imposto Roberto Michelletti. 

Há alguns anos atrás a Coca Cola anunciou que mudaria o sabor clássico da bebida. Ficaria mais ou menos semelhante ao da Pepsi Cola, seu mais próximo concorrente. Os caras da Pepsi não vacilaram. Em todo o mundo exibiram anúncios sugerindo adversários que se encaram sem que um músculo da face se mova por anos a fio e ao final decretam – “eles piscaram primeiro.” A Coca voltou atrás.

Mais de cinqüenta hondurenhos tombaram sob as balas dos militares golpistas. Cerca de 900 pessoas estão desaparecidas e pelo menos 800 é o número de feridos. Desde a deposição de Zelaya manifestações diárias ocorrem em todo o território hondurenho pleiteando a volta do governo constitucional. O mundo inteiro condenou o golpe de políticos, elites e militares.

Em momento algum o observador menos atento que seja, deixou de perceber o envolvimento dos chamados porões do governo dos EUA no golpe. CIA e os grupos ligados a Bush. Ao ex-vice-presidente Dick Chaney, um dos mais tenebrosos políticos dos tempos atuais.

As relações entre os EUA e Honduras sempre foram marcadas por absoluta submissão das elites e dos militares hondurenhos a Washington. O nacionalismo e o patriotismo desse tipo de gente terminam numa medalha por bom comportamento e algumas malas de dinheiro. Não é diferente no resto da América latina.

Dias antes do golpe estavam previstas manobras militares conjuntas e navios da marinha dos EUA estão em águas territoriais de Honduras. A suspensão das manobras não significa que essas relações entre senhores e escravos tenham mudado.

Qualquer general hondurenho fica de quatro a um grito de Washington.

Essa repetição crônica do patriotismo canalha é crônica também na história do país e da América Latina. Vivemos isso em 1964.

Roland Barthes parece descrever a pantomima que golpistas exibem. O faz em “les maladie  du costume de théâtre”. “A terceira mazela do costume teatral é o dinheiro, a hipertrofia da suntuosidade, ou pelo menos sua aparência”.

“Plumas, veludos, lantejoulas. Peles, sedas, penachos. Diademas, colares, jóias. Todos esses ornamentos de teatro encontram um equivalente no palco político. Uniformes agaloados. Bastões de marechais. Medalhas. Broches de condecorações. Faixas, cruzes, estrelas, palmas. Ordens presas a berloques ou sotoars. O traje dos ditadores das décadas de 20 a 40, a maneira com que se vestem hoje o marechal Amin e o imperador Bokassa deixariam pasmado até um encarregado de guarda-roupa de teatro. Aliás, todos esses trajes de gala revelam um indiscutível pendor pelo disfarce, pela máscara, quando não pela mascarada, que nos traz de volta ao teatro e à comédia de transformações” – Roger-Gérard Schwartzenberg, “O Estado Espetáculo”, Difel, 1978 –.

O presidente imposto aos hondurenhos é um velho aliado e sócio de Dick Chaney nos “negócios”. Chaney, verdadeiro guru de Bush, é um dos mais frios e pérfidos políticos dos dias de hoje. Ligado a grupos sionistas e intransigente na defesa do estado terrorista de Israel, articulou e comandou à distância o golpe. 

Democracia, liberdade, respeito à Constituição, suprema corte, são meros adereços a esse conjunto de farsas. Barak Obama é só um ator que não pode mudar o script. É vítima e ao mesmo tempo cúmplice dele.

Negociar princípios significa que quem o faz está disposto a vender a honra por um preço que seja razoável. Olhar para o lado é pior, é fingir que não está vendo a realidade. Trinta dinheiros?

Não há o que negociar no caso de Honduras. A democracia ultrapassa o presidente Zelaya e funda-se na vontade popular. 

Nos milhares de hondurenhos que saíram às ruas com o risco das próprias vidas e foram vítimas da barbárie de militares e policiais. 

Esse enredo de acordo já estava desenhado por Hilary Clinton diante da impossibilidade e da falta de poder e vontade do governo Obama para ir mais além de uma condenação formal à patriotada de generais corruptos e empresários e políticos idem.

Elites empresariais, banqueiros, latifundiários são apátridas. E amorais. Em qualquer lugar. Militares tendem em sua maioria a se acreditarem luz divina em marcha de passo de ganso. 

O que o circo fez foi apenas trocar a suástica e as engrenagens por tecnologia de ponta, sem esquecer o poder da borduna.

E Dick Chaney nem isso. Consegue ser um Nosferatu que transita com facilidade nos porões de Washington e com profundas raízes em Wall Street.

Bem fez Elizabeth Taylor que preferiu guardar para si a dor da perda, a ir a “um circo público”.

Zelaya não tem que ir a Costa Rica. Nem deve. Em respeito ao seu povo.

Quem sabe meditar sobre a sempre citada, mas eterna frase de Fernando Pessoa. “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Não se trata só de coragem. É dignidade.

Se cruzar a porta para negociar terá jogada a sua fora. Existem bens inegociáveis. E neste momento Zelaya detém o respeito de seu povo. Não é negociável. Esse trem, dignidade, como se diz em Minas Gerais, não tem plástica que dê jeito.

Obama, Hilary, Chaney, Michelletti, essa gente está apenas no palco. Obedece a ordens do grande diretor do espetáculo, o monstro capitalista. Não têm princípios e nem escrúpulos. Vivem e fazem o show. Só, mais nada. São transitórios, porque permanente busca ser o modelo.

E não importa que seja Honduras, um pequeno país da América Central. Cuba é uma ilha e dá lições aos norte-americanos desde 1959.

Importa que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Do contrário deite-se numa mesa de sinuca como se bola fosse e aceite as tacadas e as encaçapadas. É preciso ter estômago para engolir esse jogo. Chamam isso de mundo real.  Hilary não se importa com blow jobs que tenha que engolir. Quer é estar no centro do palco. E assim é Obama.   
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