TERCEIRO MANDATO – PARA QUE?

Segundo o presidente Luís Ignácio Lula da Silva o presidente do Senado Federal José Sarney não pode ser tratado como cidadão comum pela história que tem. O que acontece nos territórios cedidos no governo FHC para a VALE na conversa fiada da privatização, permanece no governo Lula. O presidente acha que quem ocupou terras no Norte e na região do Pantanal e falsificou registros em cartórios de tabeliões corruptos – todos são – não é bandido.

Lula é o inventor do neoliberalismo populista. Instrumentos que poderiam ser fundamentais para o processo de formação e conscientização do brasileiro bombardeado diária e diuturnamente pela mídia mentirosa, transformaram-se em demagogia política barata para ganhar eleições no que Tancredo Neves chamava de “burgos podres”.

O Senado Federal está mergulhado em escândalos onde a maioria dos senadores não tem como limpar a sujeira dos sapatos, que dirá das consciências. O número de deputados com placa de “vende-se votos” em seus gabinetes ultrapassa de longe os trezentos pilantras a que o próprio Lula se referiu em anos passados.

Os compromissos do presidente com o tal “capitalismo a brasileira” – expressão de Ivan Pinheiro – são de tal ordem que para se ter uma idéia, o jornal independente CORREIO DA CIDADANIA, em entrevista sobre a ação predadora da VALE e outras associadas, fala através de um dos entrevistados, em “o rio Tocantins está sendo concretado”. 

Na cabeça de Lula isso é progresso, o presidente é amigo do presidente da VALE Roger Agnelli.

Governadores dos principais estados brasileiros estão atolados em corrupção, ainda mais agora, ano pré-eleitoral, cada qual buscando montar seu caixa dois com maior poder de fogo possível. Seja José Serra em São Paulo. Seja Aécio Neves em Minas. Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e mais um monte deles.

O Judiciário é presidido por um notório criminoso Gilmar Mendes. Em qualquer lugar decente do mundo estaria preso e condenado por corrupção.

Todos os envolvidos nas várias operações da Polícia Federal que resultaram em desmonte de quadrilhas de políticos, empresários, juízes, etc, etc, são candidatos nas próximas eleições, tanto para ganhar imunidade, foro privilegiado, como para lutar pela manutenção do modelo.

Corre risco de ser punido o delegado Protógenes Queiroz que achou que podia cumprir a lei e prendeu um dos criminosos mais perigosos do Brasil, o banqueiro Daniel Dantas.

Para que terceiro mandato?

Que tipo de compromisso Lula pode assumir por exemplo com a reforma agrária? A medida provisória que legitima o roubo de terras no Norte e no Pantanal?

Ou com mudanças políticas efetivas que resultem em maior e mais ampla participação popular com efetivo direito de deliberação, fugindo das decisões tomadas em pequenos grupos que controlam o País e dos quais o presidente não foge, pelo contrário, muitas vezes, quase sempre, se alia a eles?

O problema do Brasil não é terceiro mandato que Lula seja menos ruim que FHC e bota menos ruim nisso, o que não significa dizer melhor.

O institucional está falido. O modelo está podre. Precisamos de uma constituição a partir de uma Assembléia Nacional Constituinte. De um congresso popular nos moldes do convocado pelo presidente do Paraguai Fernando Lugo para fazer com que o país renasça dos anos e anos de controle de elites podres, lá e cá.

É evidente que uma eventual eleição de José Serra para a presidência da República vai significar a transferência efetiva do Brasil para os grandes grupos econômicos que hoje já detêm o controle do Estado brasileiro.

A escritura, naturalmente num cartório qualquer no Norte ou no Pantanal.

Lula tem condições de assumir um compromisso público que fale em reestatizar a VALE? Ou a EMBRAER? Ou assegurar que o petróleo do pré-sal seja explorado e comercializado pela PETROBRAS? Suspender os leilões de áreas de exploração de petróleo?

O governo Lula soa como intervalo entre uma aula e outra, daquelas cansativas, que há necessidade de muito mais que ir ao banheiro, mas respirar ar puro, longe do pó da corrupção, das grandes negociatas, do que é conseqüência do modelo, do processo de globalização imposto goela abaixo a boa parte do mundo.

O fundamental para o Brasil sobreviver como nação independente e soberana é a luta de resistência, de formação e conscientização do povo. Passa pela democratização da mídia e isso não passa pela cabeça dos caras que controlam Lula.

E nem estou falando de PT. É só um acessório nos caminhos de Lula. Eventuais pronunciamentos que possam estar soando como mais à esquerda cumprem apenas papel eleitoral.

Nem estou criticando Dilma Roussef. É íntegra.

Mas não passa por terceiro mandato, um oba oba que longe de representar avanço pode vir a ser o ponto culminante dos donos.

A disputa entre tucanos e PT é só de estilo. E uma ou outra diferença. No fundo não diferem muito.

O resto, DEMocratas, a infinidade de partidos vem a coté e atrelado aos cargos que seus principais líderes ganham em troca de voto, de apoio ou de silêncio e essa é uma hora em que as ações dessas agremiações, digamos assim, valem mais um pouco. Seja tempo de tevê, seja um votinho aqui, outro acolá.

Terceiro mandato é um equívoco embora, no fundo, possa estar querendo sinalizar para a necessidade das mudanças que Lula não fez e nem vai fazer e que certamente irão explodir como necessidade nos próximos anos, quando o garrote estiver asfixiando os que hoje acham que a solução está em descansar assistindo o Faustão aos domingos.

A realidade histórica é outra. E se não atentarmos para isso esse imenso gigante sul americano vai cair em garras nada democráticas ou num caos também nada democrático.

Mas como dizem que do caos nasce a ordem....

Pois que nasça a desordem se a ordem for essa que está aí.

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