RIO CENTRO – A PATRIOTADA INCONSEQUENTE

Dyvni Carvalho Barros, major reformado do Exército, em depoimento prestado a procuradores da República do chamado Grupo de Transição, admitiu ter ido ao local do atentado do Rio Centro, logo após tomar conhecimento do fracasso da ação terrorista, para sumir com provas. Dentre elas uma granada em poder do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morreu na hora (a bomba detonou sobre seu colo) e uma pistola. Em seu depoimento o major afirma que o Exército escondeu as armas.
O atentado não está coberto pela lei da anistia. Ocorreu anos depois que a mesma foi sancionada e entrou em vigor.
Os procuradores ofereceram nova denúncia à Justiça e novos nomes aparecem. Ao lado do sargento Guilherme Pereira do Rosário e do então capitão Wilson Machado (que estava ao lado do sargento e ficou gravemente ferido) surgem os generais reformados Edson de Sá Rocha e Newton Cerqueira. Integravam o núcleo de planejamivaento da ação terrorista e outros já falecidos. O núcleo operacional incluía o sargento Rosário, o capitão Wilson Machado e o delegado do Espírito Santo, Claudio Antônio Guerra. Os outros dois denunciados são o general Newton Cruz e o major Divany Carvalho Barros.
A denúncia inclui desde formação de quadrilha, tentativa de homicídio doloso e fraude processual. O atentado ocorreu em 30 de abril de 1981 e seu objetivo era matar o maior número de pessoas (vinte mil) que participavam de um show no Rio Centro, atribuindo a culpa a forças de esquerda e permitindo espaços para um golpe dentro do golpe, pondo fim à chamada política de abertura inaugurada no governo Geisel e seguida por seu sucessor João Figueiredo.
Custou o cargo de chefe do Gabinete Civil ao general Golbery do Couto e Silva, que dentro do governo defendeu a punição dos culpados e foi vencido pelos que defendiam que o caso fosse, como foi, abafado.
O general Freddie Perdigão Ferreira, já falecido, era o elo de ligação entre os grupos encarregados de planejar o atentado terrorista e os grupos executores, que dispunham de várias equipes.
Outro dado novo apurado pelos procuradores foi o depoimento da viúva do sargento Rosário. Suely José do Rosário revelou que logo após o fracasso da ação, militares do DOI/CODI estiveram em sua residência, queimou arquivos pessoais do sargento no tanque da casa da família e recolheram suas folhas de alterações, em seguida devolvidas com várias delas suprimidas.
Os procuradores argumentam em sua nova denúncia, a quarta sobre o assunto, que o fato aconteceu fora da vigência da lei de anistia, que cobria válida entre 1961 e 1979 e o atentado terrorista aconteceu em 1981. As anteriores foram recusadas pelo STM (Superior Tribunal Militar).
O que o atentado mostrou foi a divisão dentro das forças armadas entre duros e moderados. Se os primeiros defendiam e tentaram diversas vezes manter o regime de barbárie e crueldades, o que a FOLHA DE SÃO PAULO em sua venalidade chama de “ditabranda”, os outros preferiam coberturas legais que os protegessem de sanções futuras. O próprio general Geisel foi vítima de uma tentativa de deposição por seu ministro do Exército, Sílvio Frota, abortada em ação tipicamente militar sob o comando general Hugo Abreu. Frota pretendia suceder Geisel e manter o regime.
Todos os acusados negam culpa, se dizem vítimas e o general Newton Cruz, afirmou a jornalistas que soube do atentado uma hora antes e não informou a ninguém, pois “não era problema do SNI, mas do DOI”. Newton Cruz era o chefe do antigo Serviço Nacional de Informações. Um primor do mais deslavado cinismo bem ao seu estilo.
O capitão Wilson Machado disse apenas que estava no show para infiltrar-se como civil e não sabia de bomba.
As estimativas apontam na direção de mais de mil mortos, no pânico que se seguiria, além dos que seriam alcançados pelos efeitos destruidores da bomba, pretexto perfeito para um golpe dentro do golpe. Figueiredo, a despeito de sua costumeira estupidez era considerado pelos duros um frouxo e ou cederia ao novo golpe, ou seria forçado a renunciar.
A incapacidade dos militares duros, exceto para tortura, estupros e barbáries outras, em ações terroristas (embora tivessem perpetrado algumas com êxito, como a que matou a secretária da OAB, no caso conhecido como D. Lídia), só tem paralelo na idéia do brigadeiro Burnier de explodir pontos diversos, sobretudo no Rio e culpar a esquerda.
São os mesmos militares que até hoje mantêm as forças armadas reféns diante dos casos de tortura e cúmplices de um período de estupidez e violência que manteve os brasileiros sob o tacão fascista dos que derrubaram o presidente constitucional do País, João Goulart, a soldo de potência estrangeira e sob comando de militar norte-americano, financiados por empresas brasileiras e de fora.
O típico patriotismo canalha que fala o pensador inglês Samuel Johnson – “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.
O que o STM fará com a denúncia poderá determinar o reencontro das forças armadas com a história de militares dignos como marechal Teixeira Lott e outros tantos. Como poderá sepultar na covardia típica de torturadores, uma página que cedo ou tarde a História revelará.

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