“POETAS DO TEMPO”

Amigos-leitores do jornal “O Rebate”, esta semana direto de Natal/RN: Carlos Gurgel.
Um cara simples que reflete isso em seus versos desprendidos. Gurgel luta, ama, se transforma, reforma as velhas paredes, aceita a dor e a solidão. Gurgel não esconde
as mãos nem usa sandálias pra pisar nas brasas que o caminho oferece.

 

POEIRA DA ESTRADA 

Quando eu me vejo, como a vela da minha vida
descubro o sangue, eu corto a pele daquele sono
é como o céu da boca que fica negro, espelho que refina
escolho a trouxa, que me dá fome e eu nem como

E como de noite, tudo cabe e eu sou facho
enfileiro meus dedos no pó que a guelra há de querer
é como uma madeira que corto, entorto e me lasco
são lanternas, binóculos, viseiras e tudo que tem que se ver

E no banquete do que a hora me chama
eu viro anjo, rato, lagarto, cheiro do mato
como fumaça, jejum, um toco e tudo que o mundo difama
o risco de uma gilete, a ponta da poeira em tudo que é pasto

Sou torre de torresmo, como bagulho que corre solto
é o rôle que dou, por dentro de imundícies e lixões
é o pensamento que corre como se fosse o outro
que me joga no podre, no gueto da grama, no difícil vale e seus leões

Só assim no meio da noite, eu encontro a vida
que corre na via daquele expresso que me consome
tudo que some, como uma vã espécie que rasga o véu daquela ferida
do que me resta daquele pincel que me colore e que não tem nome.

VELA DO TEMPO QUE NÃO SE APAGA 
 

Quando você me pedir um café
Liquidificarei na xícara, manjares e florais
Mel, abacates e pincéis
Imensos arquipélagos dos nossos quintais
 
Quando você me pedir um chocolate
Lhe servirei uma porção dos deuses
Ramalhetes de açúcares, de inúmeros anéis
Um sonho cremoso, das milhares de vezes
 
Quando você me pedir um picolé
Embrulharei o palito com fitas, fotos e festas
Tudo que sua lembrança trouxer e quiser
Como janelas de leitos e bocas abertas
 
Quando você me pedir um talher
Arrumarei a casa como uma mariscada
Escolhendo o melhor do melhor da maré
O requinte do turbilhão da idéia pescada
 
Quando você me pedir um vinho rosé
Misturarei todos os meus sabores, licores, amores
Ao redor de taças e vidraças do escondido chalé
De tantas e sortidas e infinitas cores .
 
NOVA SOLIDÃO 

 
Eu tenho medo da solidão
Ela me assusta, me deixa mudo
Com ela, eu não sei quem sou
Eu não escuto, eu fico surdo
 
Quando a solidão me atinge
Eu não consigo andar, eu não consigo falar
Ela me deixa cego, eu não consigo perceber
Em você, o que me interessa, o que me faz seu par
 
E assim a vida fica como um nó cego
É como se fosse um caminho louco, sem eira
Pois eu só, sou sem sua companhia, eu não te pego
É como se eu pisasse em cima de uma fogueira
 
Eu só, me olho no espelho, e não me vejo
É como um lago com uma imagem que não reconheço
É como olhar para trás e procurar por um beijo
Vou voando, procuro a alma, um cheiro, o pedaço do preço
 
E quando fecho os meus olhos, eu me assusto
É como se fosse a solidão da solidão
Como se eu me tatuasse, me tocasse
Com o fim do mundo, a vida daquele cão.
 
FLORAÇÃO DA BARRA DO DIA
 
Quando do pote eu levanto a moringa
a formiga que há em mim, desaparece
como se fosse a lágrima que ainda restinga
e que das minhas fraldas, desacontece
 
o sertão é uma flor que não me cabe
sou assim como um assum que vai me chamando
é um som que não me esqueçe , como tudo que você sabe
uma ribeira, uma canseira, uma baladeira e tudo que vive sonhando
 
quando eu te quero, eu sou um doce de família
eu te procuro como aquela fonte da memória
e não me esqueço daquele beijo que tanto humilha
sou eu que sei, daquela estrela, sou eu você e a sua glória
 
não se incomode, tudo são rios e eu te quero bem
tenho mil asas igual a um corvo que te faz flanar
você se lembra, eu misturei flores com o além
igual aquela corda que estica pra lá e pra cá
 
e no varejo do trem que nós estamos
a vida é uma história que passa por suas umbrelas
somos como rostos do qual restamos
ao convívio das suas lágrimas, como cachoeiras tão íntimas das suas velas

AUSÊNCIA 
 

Me apaixono por você, só em lembrar da cor dos teus olhos
Com a tua ausência coleciono roupas, cheiros e cartas
E no jardim que de tuas recordações eu me molho
Estou como se fosse em um lugar, onde tudo me mata
 
É tão enorme o sentir dos teus beijos que me resguardo
Pelas paredes, armários, louças e pastas
A sensação do não começo, é como se fosse a lágrima de um arco
Que dilacera o meu leito, espírito, sombra e o que me basta
 
E assim vagueio no meio da noite, como se fosse a réstia de uma saudade
À procura de um farol, seta,luz, ou de tudo que me ache
Estou só, como nunca estive, eu sou metade
Sou como se fosse uma serpente, que de tua língua, me enrole, na tua face
 
Sou agora, aquela sombra, que minha vida me esqueceu
Chuva de lágrimas, perdões, desculpas e recolhimentos
Uma mão que afaga, como se fosse tudo que se perdeu
Ao redor daquela noite, e de todos os seus instrumentos
 
E por fim, suplico por tudo que me afasta
De ti, de tua vida, de teus lábios, pele e perfumes
Como se fosse uma pérola, licor, estrada tão vasta
Uma montanha, precipício, milhares de ilhas e de todos os teus ciúmes.


CONFESSO
 
Minha vida hospeda
Despedidas e enganos
Vazios e esquecimentos
 
Como um corpo que arde
E não se lembra do frio que encobre seus pecados
 
Como um lobo que protege portões e olhares
E do dilúvio de um deserto de sangues e espinhos
 
Como uma boca que lambe lixos e restos
E do termômetro de um sonho que salva mentiras e desculpas hipócritas
 
É como a sobra de uma sombra
Que reparte o hino que fala de ausências e desmaios
 
E da vazante de uma lágrima
Que escorre o perdão
No meio da noite que não dorme                                                                             

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