Inocentes fraudes : mercado e democracia

Galbraith, economista americano, pouco antes de falecer, publicou um livro intitulado “A economia das fraudes inocentes” no qual relata o controle que as grandes corporações financeiras exercem sobre os meios de comunicação. Tal fato determina que, ao contrário do divulgado, o consumidor não seja mais o “rei do mercado” capaz de direcionar o sistema pelo seu poder (falso) de comprar ou rejeitar produtos.
O fato, afirma o autor, é que a propaganda controlada pelas transnacionais financeiras induz os consumos.
Com a água é possível compreendermos a manipulação realizada que tira a liberdade do consumidor e coloca o propagado “mercado” mostrando a sua realidade.
Representando 70% do corpo humano, água é o bem essencial da vida, existindo uma tradição universal de não se negar água a ninguém. No Brasil sempre houve este costume tradicional. Hoje, entretanto, atendendo aos interesses das empresas que estão procurando formar um cartel controlador da água está difícil encontrar, nos grandes centros, alguma loja que possa oferecer água ao menos num bebedouro.
Quer água com gás ou sem gás? É a pergunta imediata no instante em que pedimos água. Há nítido objetivo de obter uma venda.
A propaganda já induziu milhões e milhões de pessoas (consumidores) a preferir mistura de água, adoçantes (alguns perigosos) e tintas (corantes e aditivos) no lugar da água pura para matar a sede.
Observem a força da propaganda repetitiva que transforma um consumidor no atendimento de uma necessidade básica naturalmente satisfeita pela água, em compulsivo comprador de água poluída inclusive oferecida aos filhos crianças sem o mínimo de senso crítico ou de prudência.
Ao freqüentar um restaurante, não mais se encontra a jarra com água filtrada gelada. A transnacional não quer, tem que vender o seu produto.
É incrível, nas residências, intensifica-se a compra de garrafões com água, mesmo nas cidades que possuem bons sistemas de abastecimento público.
Nada de usar filtros, potes ou moringas, o moderno é atender a proposição do cartel das águas de matar a sede com água industrializada proporcionando-lhe abusivo lucro.
As transnacionais desvirtuam tudo. Transformam água , um direito fundamental humano, no mesmo nível do direito à vida e à saúde, em “mercadoria”, “commodity” para ser cotada nas bolsas controlados pelo interesse financeiro.
No Brasil, a Constituição de 88 não outorga valor econômico para a água, mas vetaram a tentativa de uma lei estudada e discutida no Congresso e na sociedade para aprovar a 9433 que diz ser a água um bem natural limitado que tem valor econômico. Rasgaram a Constituição, a Carta Magna, para permitir o avanço das transnacionais do cartel das águas em busca do domínio do mercado de água seja na privatização de serviços públicos, seja nas águas engarrafadas.
Nisto aparece o motivo para muita preocupação. Os estudos encontrados no livro “Água a luta do século” mostram que, em todo o mundo, privatização das águas sempre é muito prejudicial para as comunidades, acarretando corrupção, tarifas extorsivas, exclusão dos carentes e mais pobres. Atualmente a privatização só atingiu 10% das comunidades. Na Europa Ocidental somente dois países, França e Reino Unido têm os serviços públicos de água privatizados. O avanço das privatizações preocupa as pessoas humanísticas e de bom senso porque ele se realiza sob uma aliança entre organismos internacionais e corporações financeiras (vide livro “Água luta do século”).
O estudo da realidade revela que as transnacionais abandonam toda e qualquer preocupação com a prestação de serviços e universalização do atendimento para centralizar a atuação nos resultados financeiros e no engolir, devorar todo o fluxo de dinheiro que a prestação de serviços essenciais (água, energia, transporte, comunicação) proporciona por serem indispensáveis.
Temos questionado, com freqüência, o porquê da aceitação e até facilitação das privatizações por alguns políticos. Um grupo de estudos brasileiros nos ofereceu uma resposta difícil de sofrer contestação. As empresas estatais, por lei, não podem financiar campanhas políticas mas as privadas não têm esta restrição. Permitida a entrada de uma concessionária com isenção de impostos e taxas por 30 anos, tendo na mão formidável fluxo de dinheiro, ela não se furtará em financiar as campanhas dos políticos “facilitadores”. Isto representa apoio financeiro para as eleições durante oito legislaturas.
Nesta situação, o político que afrontou e desrespeitou o fato de que não tem “disponibilidade sobre os interesses públicos confiados a sua guarda e realização” (Celso Antônio Bandeira de Mello) consegue eleger até o neto! Traduzindo em miúdos: as transnacionais controlam os mercados, criam consumos do seu interesse e confrontam a democracia, manipulando as eleições e induzindo os eleitores a escolherem os que são mansos e passivos ao proveito deles.
A solução para impedir estas tramitações escusas sempre feitas sem divulgação para a comunidade é exigir a existência de discussão pela obrigatoriedade de haver plebiscito sobre a gestão dos serviços essenciais.
A experiência mundial com a privatização da água, predatória e prejudicial às comunidades, determina a busca do bom senso e a solução humanística que permita a universalização dos serviços essenciais.
É imperioso que haja gestão comunitária.


Rui Nogueira
Médico, pesquisador e escritor
Portal : www.nacaodosol.org
Endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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