No telefone com uma amiga, minha mãe dizia:
- Eu vou comprar uma chapinha!
Escutei aquilo ao longe. E as palavras despertaram minha fúria, talvez, uma revolta momentânea contra a vaidade que nasce de um novo estilo imposto pela classificação de beleza. Enfim: meu Deus, minha mãe vai comprar uma chapinha. Ela também vai aderir à moda dos cabelos lisos e artificiais. Em nome de uma tal de perfeição, vai abortar os seus cabelos encaracolados, vistosos.
Confesso: desde então, comecei a reparar no mundo feminino à minha volta - com outros olhos, evidentemente. Na semana passada, por exemplo, eu fui a uma festa. Várias mulheres. Lindas, elas passeavam pela pista de dança como modelos na passarela. Detalhe: todas “chapadas”. A bonitinha com o cabelo esticado até a cintura; uma senhora que, com orgulho, exibia o seu novo estilo.
Tinha vontade de chamá-las num canto e dizer que o padrão de beleza não é único. Existem vários (e todos maravilhosos). Esse novo estilo é muito artificial, meio americanizado, à moda Barbie. As mulheres estão ficando com os cabelos iguais. Pode reparar. Dê uma voltinha no shopping ou vá a pé à padaria que você vai perceber. O conselho de um homem? Não é preciso passar por essa transformação para ficar bonita. Vale mais gastar o tempo para aperfeiçoar a sua beleza natural. A formosura da mulher brasileira está na alma.
Mas a minha relação com as chapinhas nunca foi das mais agradáveis. Admito. Lembro-me apenas que, na época, eu namorava uma garota linda. Loira, charmosa e com os cabelos lisos – isso, à primeira vista. No entanto, só fui descobrir a verdade sobre seus cabelos quando resolvi lhe fazer uma surpresa. Cheguei mais cedo e encontrei a minha amada em frente ao espelho fazendo chapinha. Pasme. Só aí, depois de quase dois meses de relação, que fui descobrir que aqueles cabelos lisos não eram naturais. Pior: fiz aquele comentário. Bom, nem preciso contar a reação dela, né?
A outra experiência aconteceu num sábado à noite. Fui a um show com umas amigas. Chovia torrencialmente. (Já dá pra imaginar...). Todas, com os “cabelos lisos” e revoltadas com São Pedro, ordenaram que eu parasse o carro bem na entrada. Argumentei que não podia enfiar o carro no meio da multidão para estacionar onde elas mandaram. Nada adiantou. Foi o tempo de parar o veículo para um policial chegar.
- É só pra elas descerem por causa da chuva! – disse.
Ele olhou e caiu na gargalhada, certamente entendendo tudo.
E eu, até hoje, continuo sem entender nada. Juro.
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