TROCA DE CADÁVERES

A troca de cadáveres nos necrotérios e de criança aqui no Brasil é muito comum. Vez por outra a gente fica sabendo de crianças que foram roubadas ou trocadas nas maternidades e hospitais. É comum também o desaparecimento ou a troca de cadáveres nos necrotérios. Isto se dá muitas vezes, por interesses diversos. Há milhares de casais sem filhos querendo adotar uma criança. Quando não é possível pelos meios legais, apelam para a violência e roubam crianças recem-nascidas nos hospitais. Já o caso dos cadáveres tem um fundamento maior por causa dos transplantes de órgãos. Com o avanço da medicina em transplantes, a procura é muito grande. Existem milhares de pessoas na fila esperando por um órgão vital para ser transplantado. Há suspeitas no Brasil até de assassinatos para retirada de órgãos. Mas, por outro lado, essas trocas podem acontecer por pura negligência ou engano. Lá na minha terra, não faz muito tempo, houve uma troca de cadáveres por negligência ou falta de cuidado. Houve um acidente de ônibus onde morreram várias pessoas. Entre elas duas senhoras. Uma lá da minha terra e outra de uma cidade vizinha. Os corpos ficaram bastante mutilados com o acidente, principalmente nos rostos, ofuscando a fisionomia. Como é comum hoje em dia, a industria da morte aparece em primeiro lugar. No caso dessas duas senhoras não foi diferente. Uma empresa funerária manteve contato com os familiares por telefone para adiantar o serviço. Nessas horas de angustia, os familiares ficam desnorteados. Acabou que umas das empresas conseguiu autorização para comprar os caixões e até roupas. Naquela confusão de lavar dar o banho e mudar a roupa nos cadáveres, houve troca de identidade. Por coincidência as duas senhoras eram semelhantes fisicamente. A própria empresa se encarregou de levar os cadáveres aos seus destinos. A família lá da minha terra, era de origem humilde, mas muito conceituada e gozava de grande amizade. Dada a mutilação dos rostos das vítimas, os familiares nem retiraram a tampa do caixão. Olhavam apenas pelo visor. Houve muito choro, onde o filho mais velho, muito apegado à mãe, chorou a noite toda. Para enxugar as lágrimas, usava uma fralda de criança em lugar de lenço. Quando o dia amanheceu, encostou um carro da funerária à porta. Vieram fazer a troca dos cadáveres. A outra família notou uma diferença. A dita cuja tinha uma pinta preta no braço direito. Então vieram fazer a verificação e fazer a troca. Acontece que a família da minha terra não concordou. A prova era muito fraca. Podia ser um hematoma e não uma pinta conforme alegava a outra família. Nesse entreveiro, o filho mais velho gritou em alto e bom som que não aceitaria em hipótese alguma a troca. Alegou que tinha chorado a noite inteira para aquele cadáver que estava em sua casa.E que, se trocasse, ele teria que chorar tudo de novo. Ai ele não suportaria mais. Chamaram até a polícia, mas na realidade, não dava mesmo para identificar os cadáveres a não ser por meio de DNA. Acabou ficando por isso mesmo, pois o moço não queria perder o choro e as lágrimas que verteu para aquele cadáver que ele confiava ser sua mãe.

Jairo Guedes Viana

Membro da Academia Valadarense de Letras

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