Na  manhã desta sexta-feira, 18 de novembro, ocorreu um massacre na comunidade  Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaviry, município de Amambaí, no Mato  Grosso do Sul, atacado por 42 pistoleiros fortemente armados. Segundo relatos  de indígenas foi morto o cacique Nísio Gomes, de 59 anos, e uma mulher e uma  criança. Ainda segundo os relatos foram sequestradas outras pessoas e há  indígenas feridos. 
 
Os agentes do Conselho Indigenista Missionário, CIMI, foram  orientados a não saírem de seus locais de trabalho, por estarem ameaçados. 
 Diante  disto, a Coordenação Nacional da CPT, comovida profundamente, vem a público  para denunciar o descaso com que são tratados os povos indígenas, as  comunidades quilombolas e outras comunidades tradicionais em nosso Brasil. Por  serem grupos humanos que não se submetem aos ditames das leis do mercado e da  economia capitalista, são tratados como empecilhos ao “desenvolvimento e  progresso” e por isso devem ser removidos a qualquer custo. Quando se levantam  para exigir os direitos que a Constituição Federal lhes reconheceu são  rechaçados violentamente. Aos interesses econômicos do capital são subordinados  os direitos dos mais pobres. Diante desses interesses, os poderes da República  se curvam e os reverenciam. Não é o que acontece com a construção da  Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e de diversas outras no rio Teles Pires, e  Tapajós que afetam áreas indígenas?  Não é o que acontece quando o poder  judiciário emite liminares e julga procedentes situações nas quais os povos  indígenas deviam antes ser ouvidos e consultados, como manda a Constituição e  Convênios internacionais assinados pelo Brasil?  Não é o que acontece no  Legislativo que se subordina aos ditames do agronegócio?
 A  triste situação em que vivem os Guarani Kaiowá vem se estendendo de longa data.  Os participantes do III Congresso da CPT, realizado em Montes Claros (MG), em  maio do ano passado, depois de ouvir os relatos de alguns indígenas presentes  emitiram uma nota em que diziam: “A realidade das comunidades indígenas do Mato  Grosso do Sul é das mais cruéis e violentas de nosso país, e merece a mais  forte repulsa. Foram espoliadas de suas terras e hoje vivem espremidas em  minúsculas aldeias que não lhes possibilita as mais elementares condições de  sobrevivência, quando não são empurradas para acampamentos às beiras das  estradas, sempre perto de uma terra tradicional, sujeitas às intempéries, à  fome, à sede... Um povo auto-suficiente, de uma riqueza cultural ímpar, é  tratado como marginal, como escória da sociedade, mal visto pelo conjunto da  sociedade sul-matogrossense. Uma realidade que clama aos céus”.
 O  ocorrido nesta manhã confirma e corrobora o que foi denunciado.
 A  Funai, que tem com missão promover e defender os direitos indígenas e lhes  garantir as condições de sobrevivência tanto física, quanto cultural e  espiritual, acaba tendo uma função mais que marginal, quando também não se  torna subserviente aos interesses hegemônicos do capital.
 A  quem nega o direito dos mais fracos reafirmamos o que disse nosso III  Congresso, emprestando as palavras do profeta Miquéias: “Escutem, líderes e  autoridades do povo! Vocês que deviam praticar a justiça e, no entanto, odeiam  o bem e amam o mal. Vocês tiram a pele do meu povo e arrancam a carne dos seus  ossos. Vocês devoram o meu povo: arrancam a pele, quebram os ossos e cortam a  carne em pedaços, como se faz com a carne que vai ser cozida”. (Miq 3,1-3)
 Aos  nossos irmãos Kaiowá Guarani, aos agentes do CIMI, a Coordenação da CPT quer  manifestar sua profunda solidariedade e apoio. A causa de vocês é nossa causa,  a luta de vocês é nossa luta. Com vocês compartilhamos as dores, mas,  sobretudo, a esperança de que um dia a justiça vai brilhar. 
 Goiânia, 18 de novembro de 2011.
 Coordenação Nacional da CPT
- Comissão Pastoral da Terra
 

  




























