Primeira sessão ordinária no novo prédio Câmara de Macaé é marcada por repúdio aos 50 anos do Golpe de 64
Data marcada por momentos históricos, de mudança e ao mesmo tempo de lembranças amargas relembradas pelos vereadores de Macaé nesta terça-feira, 1º de abril. A primeira sessão ordinária realizada no novo prédio teve como destaque os 50 anos do Golpe Militar de 64, quando alguns dos vereadores declararam sua moção de repúdio a este triste período da história do Brasil.
O clamor pela democracia plena e a liberdade de expressão iniciou o debate. Houve até apresentação de filme com revelações em programas de TV, onde atuais ditadores declararam seu apoio as ações militares de 64, surpreendendo o plenário. A ocasião teve destaque no depoimento do vereador petista Marcel Silvano, que homenageou vereadores cassados na época, assim como personagens eternos macaenses que lutaram bravamente ao lado da classe operária, como o advogado e ex-prefeito Dr. Cláudio Moacyr de Azevedo.
O parlamentar leu um trecho do livro escrito e editado em Macaé, chamado “Estação Bendegó”, que retrata claramente este período. A citação lembrou um registro histórico do presidente do Clube Ypiranga da época, que comemorava o fato do espaço ter se tornado um campo de concentração para prisioneiros perseguidos.
O vereador Marcel pediu que constasse em ata, a importante atuação de Cláudio Moacyr, na época recém-formado, na defesa dos presos políticos. “Ele ia ao ginásio do Ypiranga para colher os presos e dar suporte jurídico. Foi um grande apoiador na garantia dos direitos dos lutadores macaenses”, comentou.
Ainda em seu discurso, Marcel perpassou pela história, trazendo ao plenário, momentos daquela época, lembrando que foi um golpe que unificou militares e diversas forças da sociedade, ou seja, um Golpe Civil e Militar, que levou à cassação do presidente João Goulart que defendia a Reforma Agrária, Educacional e Tributária, com taxação dos mais ricos. “Ele defendia reformas de base necessárias e foi cassado por setores militares que diziam que o Brasil entraria em uma ditadura comunista. A ditadura disfarçada do poderio econômico continua até hoje. Foi um golpe que marcou negativamente a América Latina”, lamentou o petista, ressaltando que Goulart dizia que reforma agrária com pagamento de terras ao latifundiário improdutivo não é reforma agrária, mas sim “negócio agrário”.
Partindo para uma avaliação dos dias atuais, Marcel ressaltou que ainda não existe o estado que garanta igualdade de direito a todos os cidadãos. “Que os 50 anos atrás não se repitam, vamos lutar por uma sociedade melhor e mais justa. Descomemoração é a palavra”, frisou ele, destacando que torturador e assassino tem que ser preso, pagar com a justiça. “Não podemos admitir em nome de uma falsa democracia a tortura e a morte. Até hoje tem setores da sociedade dizendo que isso não aconteceu”, disse.
Ainda com referência aos dias atuais, criticou a impunidade dos que continuam matando e torturando, conforme se vê todos os dias nos jornais. “Muitos desses crimes são cometidos pelo Estado e pela Polícia Militar. A sensação de impunidade continua perpassando nossos espaços institucionais hoje. Temos que punir quem lá atrás não foi punido e precisamos ampliar cada vez mais nossos mecanismos de representação popular”, defendeu Marcel.