Há cerca de uns três anos um arcebispo de uma importante diocese regalava-se com vinhos de primeira linha e acepipes chamados de primorosos, quando soube que a anfitriã era divorciada e estava em seu segundo casamento.
Horas antes, ao celebrar missa na paróquia do bairro que visitava, havia feito um candente sermão contra o divórcio e condenado às penas do inferno aqueles e aquelas que "promoviam a destruição da família pelo divórcio".
Ao se deparar com a realidade de um opíparo almoço na residência de uma fiel divorciada, o arcebispo enrolou para lá, enrolou para cá e ao final disse que cada caso é um caso, enquanto enchia a taça de vinho e mastigava um camarão daqueles graúdos.
E ainda mais levando em conta que família que o recebia era das que mais generosamente contribuía para as despesas da paróquia.
Registre-se que a própria anfitriã revelou durante o almoço sua condição de divorciada. Sentira-se incomodada com o sermão do arcebispo.
Há uma dose de hipocrisia sem tamanho em setores da Igreja Católica Romana em relação a uma série de dogmas e conceitos. Façam o que eu falo, não o que eu faço.
E nesse item, divórcio, esse cinismo atinge a níveis enojantes.
É a face OPUS DEI da Igreja. Domina o Vaticano desde a ascensão de João Paulo II.
Por trás desse terrorismo contra o divórcio, o aborto, existem pesados interesses econômicos.
A OPUS DEI é dirigida por banqueiros, grandes empresários, latifundiários e a Igreja é apenas um negócio rentável para esse tipo de gente.
Nessa medida não diferem de pastores neopentencostais na venda de mansões no céu.
D. Luís Gonzaga Bergonzini, bispo de Garulhos em São Paulo, encomendou a uma gráfica (até agora uma foi descoberta, há suspeita que a várias) a impressão de panfletos pedindo aos fiéis que não votassem na candidata Dilma Roussef. O aborto era o pretexto.
Parte do País foi inundada desses impressos imundos pouco antes do primeiro turno. A disposição era (deve continuar a ser, tomar apenas outra forma) fazer o mesmo no segundo turno.
D. Luís é ligado ao governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckimin. Ambos integram a OPUS DEI. O braço terrorista que controla a Igreja Católica nos dias atuais.
A encomenda feita à gráfica o foi por uma ordem assinada do bispo. Segundo ele, sua assinatura foi "falsificada".
O bispo, em cumplicidade com três outros e alguns sacerdotes ligados à CANÇÃO NOVA (PADRE JOSÉ AUGUSTO, por exemplo), fez a encomenda numa gráfica que trabalha para o partido do candidato José FHC Serra, pagou trinta mil reais pelos panfletos (deve ser dinheiro das obras sociais da sua diocese, ou caixa dois da campanha dos tucanos) e usou o nome da CNBB - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL - para referendar sua malandragem, seu crime.
Crime claro, o fato de ser bispo não o torna isento de responsabilidades perante a lei brasileira.
Mas e a Igreja? Como a cúpula da Igreja vai agir em relação a esse bispo, a esse crime?
Calar-se como certos setores o fizeram e o fazem quando se trata de pedofilia?
A arquidiocese de New York, EUA, pagou uma fortuna em indenizações a famílias de fiéis molestados por padres católicos, só para evitar processos no judiciário norte-americano que representariam um desgaste maior ainda para o Vaticano.
Na Europa, pela primeira vez na história, um papa é hostilizado em atos públicos por proteger pedófilos e não dar resposta adequada aos crimes cometidos por sacerdotes católicos.
Está explicada, entre nós principalmente, o crescimento das igrejas e seitas neopentecostais.
E espaço encontrado nas contradições entre os dogmas, princípios e a prática entre a cúpula católica e a perspectiva de afundar Roma, naquele esquema de comer o mingau pela beirada.
Por ser uma das últimas monarquias absolutas do mundo a Igreja Romana acaba se perdendo numa dimensão de tempo e espaço de Idade Média, com feudos, caso das dioceses e arquidioceses, o que propicia a bispos como D. Luis Gonzaga Bergonzini escapar impune, até porque, nesses casos, prevalece o velho esquema mafioso de evitar expor a instituição.
Comparar com a máfia? Sacrilégio? Onde? O diretor geral do Banco do Vaticano está envolvido em lavagem de dinheiro na Itália e seus cúmplices são mafiosos. O principal assessor de João Paulo II, o cardeal Marcinkus ficou anos sem poder ultrapassar os limites do Vaticano por conta de um mandado de prisão por administração fraudulenta e formação de quadrilha através do Banco do Vaticano e instituições mafiosas.
A prisão fora decretada pela justiça da Itália e um acordo entre o Vaticano e o governo italiano permitiu ao cardeal com passaporte diplomático, retornar ao seu país de origem, os EUA.
Que tipo de atitude a CNBB, como um todo, vai tomar em relação a D. Luís Gonzaga Bergonzini, envolvido em atividades criminosas, não sei.
O mais provável é que nenhuma, que o que quer que seja feito, se alguma coisa for feita, um silêncio imposto por exemplo (difícil), fique entre os muros da cúpula.
O bispo vai poder condenar o divórcio, mas regalar-se com vinhos finos e acepipes de sabor primoroso em casa de Mecenas divorciada.
E toque a defender José FHC Serra. Sem ter que explicar o aborto feito pela mulher do candidato com o seu consentimento, como ficou público na revelação de ex-alunas de Mônica Serra.
Não sou católico, mas pelo tanto de sacerdotes que conheço, dignos, pela história de outros tantos de incomensurável valor, a Igreja não merecia esse fim. Não merece.