O DILEMA GLOBAL

Suponha, só por um instante, que as Organizações Globo tivessem o mínimo compromisso com a verdade. Ou que existisse por trás de todo aquele monstro de informações a menor preocupação com você, em última instância, o alvo dos patrocinadores que sustentam a corporação.

Não tem nenhum. A suposição não dura mais que uma fração de segundo.

O programa “Profissão Repórter” vai colocar o telespectador, aquele que William Bonner definiu como “Homer Simpson” – idiota, preguiçoso e bebedor de cerveja – diante de um dilema transcendental para o futuro da humanidade.

As dificuldades dos repórteres globais para cobrir os bastidores de um concurso de miss e explicar aos humanos do sexo masculino que massagem também é coisa de homem.

Os percalços que um jornalista, ou uma jornalista enfrenta para, por exemplo, arrancar uma declaração que seja de uma candidata a miss qualquer coisa. Nada como “adorei o Pequeno Príncipe”, ou algo assim do tipo “quero ser miss para ajudar os pobres”. E “Pequeno Príncipe” hoje nem pensar, não fazem a menor idéia do que seja “isso”.

Mas algo consistente do tipo o perfume que usa e porque, qual o costureiro preferido e os caminhos que teve que percorrer para chegar àquele momento.

Uma das frases mais marcantes de Marilyn Monroe, sex symbol de Hollywood até os dias atuais, foi dita já quando estrela e alvo da cobiça até de presidentes dos Estados Unidos. Chega a ser chula a frase, mas é definitiva – “já fui obrigada a muito blow job para chegar onde estou, hoje escolho”.

Uma espécie de desvendar o segredo do sucesso e um desabafo.

Imagino um repórter suado, cansado, correndo atrás de candidatas a miss, todas ávidas da palavrinha mágica dos dias atuais. Sucesso. Sonhando com as passarelas, ou estar diante de câmeras de tevê em novelas, etc. 

É um dilema profissional e tanto.

Ou tentar convencer a uma desses machões empedernidos que não corta as unhas, mas rói, que massagem é algo mais que contratar uma garota para um programa e tem seus efeitos terapêuticos sobre inúmeras situações, principalmente o stress do dia a dia.

Entidades que representam dentistas no País enfrentam um dos mais duros combates contra empresas que dominam o mercado de pasta de dentes e apregoam milagres de dentes brancos e cáries zero. O embuste da propaganda. Mas é esse creme dental que faz parte do time de patrocinadores da empresa que desloca repórteres para pesquisar os bastidores de um concurso de miss e a resistência dos homens às massagens normais, digamos assim.

É óbvio que o creme dental vai continuar fazendo os milagres que a telinha mostra. 

Se alguém já teve oportunidade de ver o que via de regra chamamos de “ameba” quando nos referimos a uma situação em que nos comportamos como tal, não há necessidade de ligar a tevê no programa de Ana Maria Braga. Mas se nunca conseguiu imaginar, ligue e preste atenção na apresentadora. É a própria.

Pegue todo esse processo deliberado de alienação, de espetáculo e transponha para a realidade política de sua cidade, de seu estado, do país e do mundo.

O que acontece em Honduras não tem a menor importância, pelo menos enquanto os norte-americanos não decidirem o que vão fazer com aquele país. Ali houve um golpe de estado e elites empresariais, banqueiros, latifundiários e traficantes de droga tomaram o poder. O tráfico, na divisão de cargos, ficou com o ministério da justiça.

Que nem um Gilmar Mendes aqui.

Política é um trem chato, pelo menos dizem muitas pessoas. Mas o que sai do bolso de cada uma delas para sustentar tipos como Sarney, Serra e FHC não está no gibi. Sarney e FHC são especialistas em usar recursos públicos para a construção de suas pirâmides – chamam de memorial – e Serra pródigo na compra de prêmios e medalhas que lhe pespegam como grande pacificador, administrador, etc, etc.

A justiça brasileira aceitou a denúncia contra o banqueiro Daniel Dantas. Dantas foi homem chave de FHC no processo de privatização e é detentor de duas mil concessões de lavra de minérios no Brasil. Obteve-as comprando políticos corruptos, Gilmar Mendes, funcionários públicos corruptos. 

O responsável por descobrir toda a teia de crimes do banqueiro, o delegado Protógenes Queiroz está respondendo a inquérito administrativo por ter prendido o ilustre cidadão. 

Dantas já está recorrendo a tribunais superiores para anular seu indiciamento e quando a coisa chegar às instâncias onde se assenta Gilmar Mendes sabe que fica tudo do mesmo tamanho.

A culpa continua sendo de Protógenes.

O dilema do principal veículo de comunicação do País, a rede GLOBO é sobre os bastidores do concurso de miss e sobre o preconceito de homens contra massagens puras, sem conteúdo erótico, vamos usar esse termo.

Com toda certeza o presidente do Irã terá sérias responsabilidades nisso. Urge tomar providências em nome da democracia, das liberdades, pois no Irã não entra “colgate”.

E nem a Fundação Ford, especialista em golpes de estado, lavagem de dinheiro, todo tipo de escroqueria, financia despesas básicas de uma conferência de comunicação convocada para democratizar o setor.

É o eixo do mal que não deseja que as mulheres alcancem a glória e o sucesso através do concurso de miss e que os homens não evoluam o suficiente para perceber os efeitos benéficos de massagens sem aquele toque a mais.

O repórter Tim Lopes decidiu investigar o tráfico de drogas em áreas da cidade do Rio de Janeiro. Foi fundo na história. Terminou assassinado por um traficante de nome Elias Maluco. A GLOBO transformou o caso num show midiático e passado o prazo de validade – o interesse do telespectador conduzido pela própria rede – largou a família e suas responsabilidades no episódio para lá.

O jornalista Mário Augusto Jakobskind contou toda a história num livro. Não há diferença entre a estupidez do traficante Elias Maluco e a da REDE GLOBO.

Quem mandou Tim Lopes não correr atrás de bastidores do concurso de miss? Ou pesquisar as razões pelas quais homens reagem a massagens normais?

E uso a expressão normal com cuidado e reservas, hoje é complicado definir o normal e o anormal, o real e o irreal.

Se bater um drama corra até um shopping e lá um oráculo qualquer vai lhe mostrar a resposta numa dessas academias que produzem robôs em série.

Cem flexões.

E não deixe de assistir, sem piscar os  olhos, os dilemas de jornalistas diante dos bastidores dos concursos de miss. Uma delas, em pouco tempo, vai estar namorando o governador de Minas Aécio Neves e  outra lutando pela preservação das baleias. Enquanto vende o emagrecedor mágico que em uma semana transforma barangas em misses. Barangas, segundo o conceito global.

Um detalhe fundamental. Preste bastante atenção nos comerciais entre um intervalo e outro. É ali que você vai encontrar o caminho das pedras para superar os dilemas existenciais.         

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