Foi assim quando invadiram o México conquistaram e anexaram o Texas e a Califórnia. Nas muitas invasões "libertadoras" de países da América Central e nos governos que compravam ou impunham através das ditaduras militares, caso inclusive do Brasil na década de 60 no século XX. "América Latrina" como se costumava dizer nos anos 50 e 60.
Fulgêncio Batista não diferia de qualquer ditador em qualquer lugar do mundo. Chame-se ele Marcos nas Filipinas, Videla na Argentina, Pinochet no Chile ou Médice no Brasil.
A ilha de Cuba era um cassino bordel das grandes máfias norte-americanas e entre essas máfias pode-se incluir tranquilamente qualquer empresa dos EUA que operava no país. Não há diferença entre empresa privada e máfias.
Como em toda a América Central o governo de Washington sustentava ditaduras. Somoza na Nicarágua. Trujillo na República Dominicana, ou sucessivos generais em Honduras, El Salvador, Duvivier no Haiti e vai por aí afora.
Foi numa dessas "ocupações libertadoras e democráticas" que Theodore Sorensen Roosewelt, presidente dos EUA, pronunciou a célebre frase – "big stick" (grande porrete) – com que desmanchavam ou eliminavam governos ou situações hostis aos interesses daquele país, à época a poderosa United Fruits. Ou as companhias que exploravam serviços de energia elétrica e telefonia.
Ditadores eram bem vindos à Casa Branca. O Panamá foi um pedaço arrancado da Colômbia (hoje principal colônia dos EUA na América Latina) para que pudessem construir o canal e sobre ele manter controle absoluto.
Desde Lázaro Cardenas o México não elege um presidente identificado com o povo mexicano. As eleições são mero jogo de cena no espetáculo da democracia farsa comandada por Washington.
E foi assim na América do Sul com Perez Jimenez (Venezuela). Rojas Pinilla (Colômbia), os militares no Brasil. Pinochet no Chile e sempre que necessário havia um general e militares dispostos a cair de quatro pelo "patriotismo democrático".
A Bolívia chegou a virar chacota entre jornalistas com a média de quatro cinco golpes de estado por mês num determinado período de sua história. Quando um general de esquerda, Juan José Torres assumiu o governo, foi deposto, exilado e assassinado pela Operação Condor em território do Uruguai.
A revolução cubana foi a primeira grande reação popular a esse modo de ser de governos ditatoriais comandados de fora e ao sabor de interesses de mafiosos do chamado crime organizado, ou do crime legalizado (bancos, latifúndio, empresas privadas padrão General Motors).
Em primeiro de janeiro de 1959 Fidel Castro e seus companheiros, dentre eles Ernesto Che Guevara, entraram em Havana. Eram trezentos como os espartanos de Leônidas. Derrubaram Batista e com apoio popular iniciaram a construção de uma outra etapa do processo revolucionário.
A ruptura com Washington é simples de entender. Os norte-americanos acreditavam que podiam comprar Fidel Castro como costumavam fazer com "libertadores". Não conseguiram. Os interesses norte-americanos não coincidiam como não coincidem com os interesses do povo cubano. De nenhum povo em nenhum lugar do mundo.
Há cinqüenta anos a revolução sobrevive a toda a sorte de pressões, ameaças, bloqueio, tentativa de invasão (Baía dos Porcos, 1961), crise dos mísseis (1962). Há cinqüenta anos Cuba é o ponto de partida revolucionário de latinos e hoje se espraia na revolução bolivariana em curso na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na luta das FARCs e do ELN (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas e Exército de Libertação Nacional – última guerrilha criada por Guevara) na Colômbia. No governo de Lugo no Paraguai. Ortega na Nicarágua.
Nos movimentos sociais como a Via Campesina, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra).
Não se pode analisar a revolução cubana pelo que ela foi capaz de proporcionar aos cubanos tomando como medida índices e modelos do capitalismo, por uma simples razão. O capitalismo desumaniza o ser. O que chamam de "progresso" é privilégio de criminosos como Ermírio de Moraes – no Brasil – porque não é comum a todos, pelo contrário.
Existe algo no recôndito de cada cidadão cubano que tentam apagar em cada latino. A identidade cubana, livre, indômita, digna.
Não existe REDE GLOBO em Cuba e nem as pessoas andam de quatro como William Bonner por exemplo. Muito menos "heróis" são integrantes de um bordel em casa chamado Big Brother.
A dignidade de um povo não se mede por determinada marca de tênis, ou refrigerante. Não importa que as sandálias tenham o charme de uma "havaiana". As de Ho Chi Min, que libertou o Vietnã e derrotou os norte-americanos eram feitas de couro cru e solado de borracha de pneus usados.
Importa, como lembrou Fidel Castro ao papa e funcionário norte-americano João Paulo II, que das milhões de crianças que dormiriam nas ruas do mundo naquela noite, nenhuma delas era cubana.
Cuba cumpriu um papel decisivo na libertação de Angola, impedindo que forças do deus mercado conquistassem o recém libertado país africano. Permitiu-lhe a dignidade e se rumos outros foram tomados não é um problema de Cuba.
Cuba é a liberdade sonhada e desejada da classe trabalhadora, mesmo com laivos e vestígios de classe média, num mundo em decomposição. Desde a depredação ambiental à desumanização do ser e sua transformação em bola de sinuca a ser encaçapada no modelo GENERAL MOTORS/MORTOS.
A percepção dessa importância está menos nos erros que possam ter sido cometidos e mais no significado, na perspectiva viva que outro mundo é possível. Como é fácil entender em nossos dias que a queda da União Soviética foi pelos acertos e não pelos erros.
O que incomoda o capitalismo, os donos do mundo, os pastinhas que pululam em todos os cantos e têm várias dimensões, é a possibilidade que o exercício da cidadania se dê de forma democrática e popular sem a farsa que vivemos em países como o Brasil.
Na educação absoluta pública, de boa qualidade, assegurada a todos. Na saúde. Na propriedade coletiva dos bens indispensáveis à vida.
Os prenúncios que a revolução se desintegrará com a morte de Fidel Castro, hoje fora do governo em mãos de Raul, não têm nem de longe o peso da revolução cubana e sua importância para toda a América Latina.
A revolução foi parte do processo histórico. Sandino, Marti, Zapata...
O resgate da dignidade de um povo. Da soberania de um país. Uma pequena ilha que não se curvou à Coca Cola. Ou à Pepsi. Onde os carros por conta do bloqueio são velhos e amarrados com arames. Mas são carros. Não substituem o ser como a criação principal em todo o universo.
A pequena ilha que sobrevive ao gigante norte-americano. A menos de um tiro de canhão de Miami, paraíso do crime organizado e do legalizado.
Mas livre. Independente. Senhora do seu nariz.
E a certeza que a liberdade e a independência não serão conquistadas sem luta como lutaram os cubanos.
É só olhar o que o nazi/sionismo impõe aos palestinos. Ou as tentativas de golpes contra Chávez. Contra Evo Morales.
O que Cuba deixa exposto é que a luta real é de classes. Opressores e oprimidos.
A História é algo vivo. "Não é carroça abandonada à beira da estrada".