PICASSO E A ANVISA

Certa feita ouvi de um psiquiatra amigo que não entender a obra de Picasso, ou entende-la após o choque visual que os trabalhos do espanhol de um modo geral causam é natural. O que não é natural é conceber o leite batizado de cada dia, ou um monte de pessoas, num anúncio de televisão, extasiadas com determinada marca de mortadela enquanto a casa pega fogo. O incêndio corre solto, mas a mortadela delicia e faz com que as pessoas não se apercebam do problema. 

É amiudar demais o ser humano. Tudo bem que seja imagem tentando mostrar o sabor da tal mortadela. Pode ser também alguém condoído da sorte de um determinado modelo de automóvel de uma das muitas montadoras semi falidas, quando o veículo em questão é separado de seu/sua consorte, outro quatro rodas, ou outra não sei, com recomendação ao consumidor/otário –"ficou com pena? Compre os dois". Toda a aparente desordem das obras de Picasso reflete a ordem maior de todas. A que vem do âmago de cada ser. Do fundo de cada alma. Ou de cada inconsciente, na soma de todos os anos da espécie humana. Duzentos e cinqüenta mil segundo cientistas e pouco mais de três mil segundo o bispo de Ulster.

Para que servem agências ditas reguladoras?

O desenho dessa anomalia criada pelo tucanato na construção da desordem real e palpável de cada dia é exatamente não criar ordem alguma que não seja a imediata e transparente dos donos.

Regular o que? Regulamentar o que?

Regulador que eu saiba continua sendo uma tabelinha para evitar gravidez.

Agências reguladoras são instrumentos dos donos para fazer de conta que vigiam alguma coisa, cuidam de alguma coisa ou de algo ligado ao seu fim específico, enquanto vão ganhando o sagrado dinheirinho escondido nesse monte de ISO de nada, tomado cá embaixo no pacato cidadão que compra um litro de leite das PARMALATs da vida, ou da NESTLÉ que destrói e acaba com o Parque de Águas de São Lourenço, mas garantem padrão de qualidade na trambicagem (rima inclusive).

Aí, o cidadão com um resquício de confiança que alguma coisa vá funcionar pega o telefone liga o tal ligação gratuita para exercer seu direito proclamado em grandes verbas de publicidade para GLOBO e o resto da orquestra fantasia da comunicação...

...E nada.

Os caras não estão nem aí. No mínimo, isso, preguiça, vamos dar um desconto. Se não for e quiserem enrolar mais ainda, um monte de formulários enviados pelo Correio para você especificar 785 mil anormalidades no leite e ganhar o direito de trocar o pacote, ou saco por outro de igual valor e tamanho.  E querem enrolar sempre para que não haja a segunda reclamação.

Valor nutritivo é o ferro que o consumidor leva quando depende de bens sob a batuta da ANVISA, a tal AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA.

Ou da ANAEEL, a que cuida da energia nossa de cada dia. Ou de trocentas outras siglas destinadas a sustentar o "deus mercado", brincando de qualidade.

Se o cidadão reclama é um chato. E tem um detalhe. Se você comprar o leite estragado no domingo só vai poder reclamar na segunda-feira, pois que ninguém é de ferro e nem plantão tem. 

Olhou a data de validade? É comum os caras da tal Agência, como escrevi, desenho tucano das costumeiras enrolações tucanas mantidas por Lula, saírem em defesa do produtor, do fabricante, seja o que for, suspeitando de má fé. Acham que você quer um litro de leite de graça, ou reclamam: "mas reclamar por um litro de leite?" 

Agentes da ANVISA apreenderam quatro toneladas de remédios falsos ou contrabandeados em Manaus. Basicamente Viagra e similares. Claro, esse tipo de produto tem que ser apreendido. Mas, sempre o mas, por que só esse? E os produzidos aqui dentro? O objeto da apreensão, como costumam dizer causídicos assim que nem os que defendem Daniel Dantas, no duro mesmo, prejudica os fabricantes daqui, que são os mesmos lá de fora.  Se o prejuízo fosse direto do consumidor, um litro de leite, dane-se.

Complicado para entender? Simples. Fabricam acolá os mesmos produtos daqui e não admitem a concorrência nos mercados reservados. Al Capone comandava Chicago, outro comandava New York e assim por diante.

Quando um juiz negou hábeas corpus a uma faxineira que havia pego um pote de manteiga numa padaria e passou boa temporada na cadeia. Alegou que a dita cometera um delito (adoram essa palavra) e pouco importa que tenha sido um pote, ou uma tonelada de potes. Importa que o crime não distingue quantidade furtada.

Mas as agências reguladoras distinguem reclamações de cidadãos comuns das benesses (no Natal então, o que deve rolar de cesta de gratidão pelo "dever cumprido") dos donos.

É o modelo. O Estado mínimo. Tudo regulado pelo "deus mercado" até que exploda a bomba lá por cima e o Estado, uma sociedade anônima financiado pelos cidadãos e propriedade dos empresários, latifundiários, banqueiros e meia dúzia de agregados, venha em socorro dos que produzem um litro de leite estragado, ou devastem o ambiente, mas permanecem soltos. Neste caso a distinção entre quantidade está naquela do ladrão de galinhas que vira dono de abatedouro, frigorífico, etc e rouba por esporte, para matar saudades dos velhos tempos.

O delegado puxa a cadeira manda o senhor em questão assentar, serve um cafezinho, pede desculpas e arquiva as penosas no almoxarifado.

Agora, um litro de leite? Pedir a ANVISA para atestar a qualidade ou não do produto? "Putz! O que esse cara pensa que a gente está fazendo aqui?"

Cuidando da saúde dos donos do laticínio.    

É o desenho da privatização, às vezes escoimada na terceirização, nesse monte de letrinhas miúdas e palavras complicadas para que você tome o leite, contente-se com o leite, agüente as conseqüências e dê lucro aos laboratórios, numa extensão do "negócio".

Se por um acaso você for parar num hospital por conta do leite estragado, mesmo dentro da data de validade, cuidado. A ANVISA está estudando a tal micro bactéria que causa infecções hospitalares fatais e até o final do ano vai dispor de um software capaz de detectá-as. Deixe para tratar dos efeitos residuais do leite no ano de 2009 para não correr outro risco.

E cuidado mesmo, pois o número de mortos oficiais até agora chega a dois mil e cento e vinte e dois. A ANVISA admite que à falta do tal software pode chegar a quatro mil, já que muitos não são "regulados", quer dizer, oficialmente relatados. Isso de 2000 para cá. Deve ser conseqüência do bug do milênio.

Os hospitais, a micro bactéria? Bom é querer demais, está chegando o final de ano e a turma merece um descanso sob o patrocínio dos donos. 

O leite? Olhe meu caro se você for depender da ANVISA, quem avisa amigo é. Deite e espere. Sentado vai cansar. A turma é tucana em tudo e por tudo e o Lula sabe é fazer marola quando diz que vai, mas não vai coisa alguma.

Já tem ministro da tal suprema corte achando que esse negócio de código do consumidor dá privilégios demais ao cidadão em detrimento dos bancos, das empresas, dos latifundiários.

Afinal eles são gente também, ou não são?

À época da ditadura, zelosos no cumprimento do dever/enrolação, naquela velha história cantada por Chico na "Ópera do Malandro", ainda sem agências reguladoras, produtos da subserviência de FHC et caterva, eles queriam prender Sófocles! 

Prendem mesmo, reporto-me à canção de Chico, é o garçom. O consumidor se lasca.

E os caras foram espertos. Fiscalizam, regulam sem serem fiscalizados ou regulados.  Nesta época então, tem uns que adoram um mimo tipo pão de nozes e um "leitinho" para as crianças.  Se a noz do consumidor estiver estragada/mofada não se preocupe. Fleming tirou a penicilina dali. Você é um felizardo. E quem sabe o leite não virou coalhada?
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