A VERDADE ABSOLUTA É MENTIRA

As declarações do ministro Celso Amorim a propósito da chamada rodada de Doha, negociações do suposto livre comércio entre as nações do mundo dito globalizado, provocaram reações também supostamente indignadas de funcionários das chamadas grandes potências. 

Amorim foi claro e preciso ao dizer que tal e qual Goebells, ministro da Propaganda de Hitler, os países ricos vendem a mentira repetidas vezes para que se presuma que seja a verdade. 

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário geral do Itamaraty tem um excelente trabalho sobre globalização. Analisa os ricos e os periféricos. César Benjamin costuma falar sobre o século da recolonização. Ao contrário do século XX quando várias nações conseguiram a independência, o século XXI traz de volta o colonialismo, agora disfarçado sob o epíteto globalização. 

Países como o Brasil voltam a ser produtores de matéria prima e o processo de industrialização deixa de ser nacional para ser controlado pelo capital estrangeiro.  

Celso Amorim é um dos pilares ainda sustentáveis do governo Lula. Ao longo desses quase seis anos de governo do presidente operário a política externa tem sido um dos pontos altos. Pena que não se reflita na economia e no social com transformações que impliquem em retomada da soberania nacional. 

Temos neste momento uma rara oportunidade de promover a integração dos países da América do Sul, quando países como o Equador e a Bolívia têm presidentes extraordinários, com uma trajetória de independência e integração e a Venezuela vai transformando seu enorme potencial econômico em fator de crescimento na contramão da mentira repetida à exaustão até transformar-se em verdade. Com justiça social e num modelo diverso do da tal verdade. 

E esse leque se amplia com a eleição de Fernando Lugo no Paraguai e fora da América do Sul, mas nos limites políticos da América Latina, a presença dos governos de Cuba e da Nicarágua. 

Óbvio que os setores colonizados do Brasil reagem a Celso Amorim. Não se podia esperar da mídia brasileira, GLOBO à frente, que defendessem os interesses nacionais ou de integração de países sul americanos. 

São braços do centro do mundo e atuam aqui, um dos mais importantes países periféricos, moldando e vendendo a mentira do mercado. 

Numa entrevista que concedeu à revista EXAME, do grupo de VEJA, no início de 2007, Robert Reich, secretário do Trabalho de Bil Clinton diz o seguinte a propósito de empresas: 

"Revista Exame - Na economia que prevalece hoje no mundo, que o senhor batizou de supercapitalismo, não há empresa socialmente responsável ou virtuosa?

Robert Reich - Não. Empresas não são pessoas. Elas não têm uma bússola moral e existem para um único propósito: oferecer boas oportunidade para os consumidores como forma de maximizar o lucro para os acionistas. Esperar que elas façam qualquer coisa que não seja isso é acreditar numa ilusão". 

Uma das reações mais curiosas e cínicas às declarações de Celso Amorim veio de uma funcionária norte-americana sobre o ministro brasileiro ter citado um líder nazista, o que, segundo a funcionária, seria uma ofensa a Israel e aos judeus vítimas do holocausto. 

Há dias a filha do embaixador brasileiro no estado nazisionista de Israel foi presa e mantida incomunicável num aeroporto. O próprio embaixador, com imunidade diplomática, foi expulso da sala quando tentava explicar a um SS de Israel que a moça era filha do embaixador do Brasil no país. 

As reações à fala do ministro Celso Amorim cumprem um papel. Quando percebem que figuras como Amorim tocam na ferida do neoliberalismo, do mundo de espetáculo do capitalismo, desmascaram a farsa, ameaçam o poder da "verdade absoluta", divina, escondem-se no drama estendido ao infinito, como se não fossem, caso de Israel parceiros do terrorismo norte-americano na América Latina (o Mossad intervém descaradamente em vários países por aqui, inclusive no Brasil), ou algozes com os mesmos métodos nazistas dos palestinos. 

Celso Amorim tem a exata dimensão dessa conjuntura no seu todo, nas suas muitas partes. 

É como o jogador de meio de campo que arma as jogadas e permite que o centro avante faça o gol. Dito de uma forma simples. Só que se o centro avante tem conseguido colocar algumas bolas na rede, noutras se mostra prisioneiro do modelo e portanto cúmplice. 

Perde gols incríveis. Faz "pixotadas" sem tamanho. Furadas de envergonhar qualquer perna de pau. 

Se perde no medo. Ou no oportunismo da inconseqüência ao enxergar o processo político como algo que termina com o seu mandato, em dezembro de 2010. 

Razão tinha Nelson Rodrigues quando dizia que "toda unanimidade é burra". Razão tem Amorim quando diz que as regras do mundo globalizado são a mentira que transformam em verdade no glamour da mídia passiva e controlada e no equilibrismo de governantes como Lula. 

A Lula não resta alternativa. Tem que mostrar algo positivo para além da subserviência ao jogo de amigos e inimigos cordiais na farsa PTSDB. 

E são as conseqüências da política externa que permitem ao governo apresentar ao lado do neoliberal populismo a face iluminada de Lula. A outra é escura e cada vez mais invisível. 

A busca de uma integração maior e efetiva entre países da América do Sul, incluindo os países independentes da América Central (Cuba e Nicarágua) é o caminho para romper as barreiras do novo colonialismo. O que vem do centro, do núcleo do que Bush chamaria de "eixo do mal". 

Celso Amorim não falou nenhuma barbaridade. Muito menos foi incontinenti em suas palavras. Fez apenas uma constatação. Real, cristalina e precisa da nova ordem política e econômica ditada por um mundo de "empresas", onde não existem virtuosos. Até o ex-secretário de Trabalho dos EUA percebeu isso. 

E tome VALE e ARACRUZ transformando o Brasil em colônia de interesses dessa ordem. 

Aguarda-se pronunciamento do general Augusto Heleno sobre a soberania nacional. Deve dizer que os índios são os culpados do modelo de globalização em que viramos colônia.   

A propósito, antes de ser comandante das forças policiais brasileiras no Haiti (batalhão das forças norte-americanas que ocupam aquele país), o general foi adido militar do Brasil na França. 

Gosta do mundo no modelo VALE/ARACRUZ. E deve achar que Celso Amorim é um índio.
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