Dada a preferência dos Castro por operadores eficientes de sua confiança nas forças armadas, os militares provavelmente seriam a fonte de um futuro sucessor Foto: Adalberto Roque
Como o líder cubano, Raúl Castro, tem 81 anos e já começou a legislar para evitar que futuros líderes tenham três mandatos sucessivos, há uma forte probabilidade de mudança de liderança no período da previsão. Em consequência disso, há grande especulação sobre quem seria o provável sucessor de Castro.
O mesmo valia para Fidel Castro (embora a Constituição e o cargo de Raúl Castro como vice-presidente sênior deixassem claro que ele sucederia a seu irmão). No entanto, diante da natureza do sistema político cubano, prever os futuros líderes continua sendo um desafio. Debates, discussões e tomada de decisões tendem a ocorrer atrás de portas fechadas. Por isso, se algum ator político está sendo preparado para a promoção à liderança, poucos detalhes são divulgados.
Políticos de alto perfil tenderam a ser afastados
Desde 1959 houve poucas evidências de políticos aspirantes galgando rapidamente as fileiras, e os que se tornaram mais proeminentes tenderam a desaparecer de vista mais tarde. Os mais notáveis destes foram o secretário de ideologia do partido, Carlos Aldana, e o ministro das Relações Exteriores Roberto Robaina, nos anos 1990. Mais recentemente, Carlos Lage, secretário-executivo do Conselho de Ministros, e o ministro das Relações Exteriores Felipe Pérez Roque em 2009 — ambos geralmente considerados potenciais futuros líderes.
Embora seja fácil ver essa tendência como uma evidência do nervosismo da liderança sobre potenciais adversários e desafiantes, na realidade ela pode ser atribuída a três fatores. Primeiro, o sistema de governo cubano é complexo. Desde pelo menos o início dos anos 1970 suas estruturas se tornaram uma matriz cada vez mais complexa de instituições, grupos, pressões e negociações entrelaçadas. Segundo, Raúl Castro em particular tem um desprezo evidente pelas manobras políticas, preferindo preencher seu governo com operadores ideologicamente confiáveis mas eficientes. Geralmente estes vieram de uma instituição que ele conhece e na qual confia, as Forças Armadas Revolucionárias (FAR) de Cuba, mas também de fileiras provincianas menos visíveis do Partido Comunista de Cuba (PCC). Terceiro, a natureza fechada da política surge do complexo relacionamento entre o PCC e as estruturas de governo de Cuba. Diferentemente do antigo bloco soviético, essa relação não é necessariamente uma em que o PCC controle e dirija o governo, mas sobretudo um equilíbrio mutável de poder. Desde sua criação em 1965, o PCC teve vários períodos em que foi uma entidade relativamente fraca e negligenciada (por exemplo, 1965-75 e 1997-2011). Esses períodos de negligência sob Fidel Castro permitiram que alguns elementos do partido tivessem liberdade para construir suas próprias bases de poder, algumas das quais depois tentaram resistir à agenda de reformas de Raúl. Portanto, não é uma dedução automática que os futuros candidatos à liderança sejam escolhidos entre os supostamente poderosos chefes do partido em Havana. Além disso, como Raúl provavelmente se candidatará à reeleição em 2013, continua alto o risco de que qualquer político que adquira proeminência seja afastado.
De onde no cenário político viria um sucessor?
Alguns membros do movimento guerrilheiro original ainda povoam as camadas superiores do governo, como o ministro da Defesa, Leopoldo Cintra Frías, e o ministro do Interior, Abelardo Colomé Ibarra. Como eles entraram adolescentes para o exército dos irmãos Castro, hoje estão na faixa dos 70 anos — relativamente jovens para a liderança cubana. Também desfrutam a confiança e o prestígio de fazer parte daquele movimento. Em outros lugares, o claramente poderoso, talentoso e confiável Ramiro Valdés (80), vice-presidente do Conselho de Ministros, é um estreito aliado de Raúl e apoiou suas reformas. Ele também detém um poderoso papel de supervisor de vários ministérios. Além dele, o presidente da Assembleia Nacional e ex-ministro das Relações Exteriores, Ricardo Alarcón, é um potencial sucessor. Ele é ligeiramente mais jovem que a geração da guerrilha (era um estudante ativista no início dos anos 60) e é altamente respeitado no país e no exterior (tem boas linhas de comunicação com o governo norte-americano). Ele também foi outro aliado chave de Raúl, quando lutou para superar a resistência de elementos poderosos do partido à implementação de reformas. No entanto, estes seriam possíveis sucessores no caso de uma transição súbita em curto prazo (se o presidente se aposentar ou adoecer subitamente). Em longo prazo, uma nova geração de líderes terá de ser formada.
Em médio a longo prazo Raúl provavelmente continuará afastando o sistema cubano de suas tendências personalistas, na direção de uma liderança mais coletiva, trazendo uma nova geração. Isto poderá ser acompanhado por uma separação de poderes constante, entre o governo e o PCC. Prováveis candidatos da geração mais jovem incluem o frequentemente desprezado mas tarimbado Esteban Lazo, um par de mãos seguras que manteriam a unidade do partido, ou um de vários ministros favorecidos e talentosos na faixa dos 50 anos que demonstraram capacidade de executar com eficiência as decisões de governo. Estes incluem Miguel Díaz-Canel Bermúdez (educação superior) ou o chefe da economia Marino Murrillo.
Embora estes sejam candidatos potenciais, que poderiam introduzir uma era de um partido menos poderoso, controlado mais rigidamente pela liderança, atualmente não há indícios de que Raúl pretenda transferir a liderança, certamente não em curto prazo. Mesmo que um plano de sucessão fosse desenvolvido, é altamente improvável que fosse divulgado devido à natureza fechada do sistema cubano. Portanto, embora seja provável uma mudança de liderança em médio prazo, avaliar como e quando ela ocorrerá, assim como quem participará, continua sendo um grande desafio.
* Publicado originalmente no site Carta Capital.
(Carta Capital)