Presidente Donald Trump faz comentários acerca do ex-vice-presidente Joe Biden e da Ucrânia durante encontro com o Presidente Andrzej Duda, da Polônia, em Nova York, na última segunda-feira (23/09/2019) – Foto de Doug Mills - The New York Times
Passaram-se somente 11 dias desde que Adam Schiff, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes (o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), revelou que a administração Trump estava retendo ilegalmente uma denúncia do Congresso. Quando a denúncia veio a público, eu – provavelmente como muitos outros observadores – esperávamos que fosse mais um fiasco do governo, um outro exemplo de prevaricação que tinha falhado em atear fogo no Congresso ou no público.
E que pode ainda ocorrer, e creio e espero que o pessoal das pesquisas esteja a trabalhar enquanto falamos, tentando avaliar a opinião pública sobre o escândalo. Porém, desta vez o quadro parece ser diferente, talvez porque tudo seja tão simples e claro. O Presidente dos Estados Unidos e seu advogado particular ambos admitem que apelaram a um regime estrangeiro para lançar sujeira sobre um de seus rivais políticos. Agora parece que ele tentou pressionar o tal regime estrangeiro retendo uma ajuda militar crucial, o que torna a situação ainda pior.
O resultado é que esse escândalo está para explodir de uma forma que os escândalos anteriores de Trump, não importa quão sérios tenham sido, nunca tiveram. O voto do impeachment na Câmara passou rapidamente de “improvável” a “mais provável do que nunca”.
Por que isto é preocupante? De um modo geral, não gosto da alegoria jornalística comum de "vencedores e perdedores" nos acontecimentos políticos. Neste caso, todavia, parece-me uma boa maneira de resumir os resultados até agora. Então, temos aqui três vencedores e dois perdedores dos acontecimentos até agora.
Vencedores:
1. Adam Schiff: Depois de anos, quando parecia que nada poderia abalar a habilidade de Trump para impedir, Schiff iniciou uma avalanche que tem boa possibilidade de fazer o muro desabar.
2. A narrativa de Trump como traidor da América: tem havido evidência abundante, durante todo esse tempo, de que a equipe de Trump conspirou com a Rússia, em 2016, e de que Trump no cargo tem estado muito feliz em levar água para cruéis autocratas estrangeiros. Contudo, tudo foi complicado e obscuro o suficiente para confundir muita gente. Pressionar a Ucrânia a manchar a imagem do filho de Joe Biden é algo que todos podem entender e isto pode tornar as demais acusações anteriores dignas de credibilidade.
3. Repórteres diligentes: não temos todos os fatos a respeito do que Trump e companhia fizeram exatamente para detonar o delator, mas nos últimos dez dias começou a ocorrer, uma após outra, uma série de revelações devastadoras, tudo graças a repórteres dos principais meios de comunicação, incluindo o The Times.
Perdedores
1. Análises jornalísticas “experientes”: os dois grandes pecados da mídia, em 2016, foram a falsa equivalência e a substituição da especulação a respeito de como as coisas iriam "tocar" pela descrição do que realmente estava acontecendo. Com certeza, a primeira reação de alguns na mídia foi apresentar o comprovado abuso de poder de Trump e as afirmações de corrupção completamente infundadas feitas por Joe Biden, como comparativamente graves, e sugerir que o episódio de alguma forma "levantava dúvidas" sobre o ex-vice-presidente Biden - um tipo de ação evasiva e covarde em relação à obrigação da mídia de chegar à verdade. Porém, artigos nesse sentido geraram críticas enormes e tenho visto cada vez menos esse tipo de trabalho nos últimos tempos.
2. Senadores republicanos: Agora está parecendo que os senadores republicanos terão de votar as acusações que levarão ao impeachment – acusações baseadas em abusos documentais, com interpretações indiscutíveis. A maioria deles, naturalmente, votará pela absolvição. Contudo, ao fazerem isto, exporão sua própria corrupção e deslealdade aos princípios americanos para que todos vejam.
Rapidinhas
Os Pais Fundadores - Washington, Jefferson, Adams, dentre outros - preocupavam-se muito com a influência estrangeira na política dos EUA; algumas vezes parece que Trump tem usado essas preocupações como um manual de operações.
É importante compreender que a Ucrânia está engajada em uma guerra de baixa intensidade com o ditador favorito de Trump.
A diplomacia depende do uso de palitos e cenouras. Trump tomou para si o lado dos palitos, mas o lado das cenouras está sem patrono porque ninguém acredita que ele irá, Trump, honrar suas promessas.
Você pode sentir pena dos republicanos, que sabem que qualquer crítica a Trump os deixará com a base. Por outro lado, não se esqueça; eles escolheram por si próprios estarem naquela posição.
(*) Paul Krugman ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2008.
Traduzido do Inglês por A. Pertence