“Durante muitos anos, a escola foi um aparelho de reprodução ideológica do Estado. Ela saiu disto e foi rumo a uma lógica mercadológica, só que não definiu para qual tipo de mercado: um ético, com valores voltados para a sociedade, ou algum outro, autodepredador. O problema é que ela não ficou com nenhum dos dois, ficou perdida nesse meio”.
A afirmação é do educador popular e
folclorista Tião Rocha. Ele participou do debate “Saberes necessários para a
formação do cidadão: o desafio da educação para uma sociedade sustentável”,
realizada durante a Conferência Internacional do Instituto Ethos, em São Paulo
(SP). Moderada pelo presidente do Instituto, Paulo Young, a mesa foi completada
pela co-fundadora da Associação Palas Athenas, Lia Diskin, e pelo psicólogo e
presidente da Ethos/SHN, José Ernesto Bologna.
Tião defende que é
possível fazer educação sem escola, debaixo de um pé de manga, como o faz há
mais de 25 anos no vale do Jequitinhonha (MG). Mas é impossível educar sem bons
educadores. “Educar é sempre algo coletivo. Depende de pelo menos duas pessoas.
É uma troca. O que eu tenho com o que você tem”.
Relembrando sua
trajetória, Tião recordou de algumas desistências de seus alunos. “Não posso
dizer que nunca perdi um aluno. Já perdi sim, mas porque alguns foram estudar
música na Universidade Brasileira de Música e outros porque foram para o balé
Bolshoi. Não podemos perder nossas crianças para o passado, mas sim para o
futuro”.
Questionado sobre o papel da sustentabilidade, ele citou o fato
de políticas baseadas no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) sempre serem
compensatórias. Para ele, essas iniciativas atacam apenas aspectos deficientes
da sociedade. “Preocupo-me não com o IDH, mas sim com o Índice de Potencial de
Desenvolvimento Humano. Pois o primeiro só mede a parte vazia do copo. O segundo
vai ver a água que já está nele. Mesmo que seja pouca, é ela que deve ser
reproduzida, e não ser complementada com uma rega esporádica”,
disse.
Para José Ernesto Bologna, a educação deve promover uma mudança
das consciências em prol da sustentabilidade. Para isso, é preciso convencer
escolas e universidades que a sustentabilidade é uma utopia já instalada para o
século XXI. “As escolas continuam segmentando conhecimento, tomado como objeto,
não construído na interação e com crítica. É fundamental valorizar o conceito e
colocá-lo dentro dos currículos, convencendo os jovens que há uma utopia: a da
sustentabilidade”.
Mas para Bologna, não basta tratar sustentabilidade de
maneira transdisciplinar, é necessário ser multimídia. “O desafio é que, para
construir o mundo que temos que construir, temos de desconstruir o mundo que
está aí”.
Para Lia, em tempos difíceis é preciso desenvolver quatro
habilidades e competências. Primeiro, contextualizar a informação. Com todo o
volume de informações geradas é preciso trabalhar para que estas gerem
efetivamente uma transformação. Em segundo lugar, é preciso desenvolver senso
crítico, para realmente construir um objetivo de transformação. Em terceiro, a
alfabetização emocional, que é de suma importância, mas em muitos casos é
relevada. Por fim, tomar cuidado com o comprometimento, para que este não se
torne oportunismo.
(Envolverde/Aprendiz)