Há 50 anos, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade lançava “Macunaíma”, um marco da cinematografia nacional. Baseado no livro de Mário de Andrade, escrito em Araraquara, interior de São Paulo, o filme colocava concepções da estética tropicalista na telona de uma maneira criativa e engajada.
Talvez a cena mais marcante seja a transformação do protagonista de preto em branco. Inicialmente interpretado por Grande Otelo, o “herói sem nenhum caráter” que protagoniza a obra ganha vida com Paulo José. Ambos conseguem levar ao público visões complementares de facetas históricas da discussão do que significa ser brasileiro.
Se o livro de Mario de Andrade já é um fascínio antropológico pela fusão de mitos e detalhes que se articulam numa narrativa breve, mas que mergulha em portas e janelas de distintas facetas nacionais, o filme apresenta aspectos mais politicamente engajados, mas igualmente densos na compreensão do sentido, ou falta dele, da essência do Brasil.
A discussão de livro e filme talvez sejam mais essenciais do que nunca, pois existe uma mescla de possibilidades tão grande, que qualquer resposta, por ser, é claro, simplista, pode parecer inútil, o que está longe de corresponder ao que precisamos. Se não for mantida a chama acesa da pergunta, corremos o risco de recebermos respostas prontas, o que é ruim para a cidadania nacional. Indagar sempre deveria ser nosso lema, como o diretor de Macunaíma propunha há 50 anos.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.