Não são poucos o que perguntam qual foi o saldo da SP-Arte, feira de artes visuais que se encerrou em 15 de abril. Geralmente as respostas desse tipo de evento, que tem na movimentação do mercado uma de suas razões de ser, passa pelo número de visitantes e de negócios feitos.
Nada há de mau nisso, pois arte é um negócio e como tal precisa de compradores. Muito mais interessante, porém, para o nosso enriquecimento humano, é a peça, no Teatro Faap-SP, 'O escândalo de Philippe Dussaert', de Jacques Mougenot, monólogo que discute a arte contemporânea com rara inteligência e humor.
A peça mostra que é possível ser denso sem ser chato. O texto recupera a essência do teatro, ou seja, criar ilusões que fazem pensar sobre a realidade. O artista plástico mencionado no título da peça não existe e muito menos o escândalo tratado pelo autor, mas as questões apontadas sobre o significado da arte contemporânea são muito atuais.
A peça de teatro recupera o vigor da fantasia para entender melhor a arte contemporânea como um universo em que ameaçadoramente tudo se pode, e, portanto, onde o nada é onipresente. O risco está no poder do discurso de ocupar o espaço da visualidade. Aí sim as artes plásticas podem estar mortas.
Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura.