Na sinopse o cavalo do amanhecer – no fim se revela o Mangalarga Marchador – trata as pessoas como amigas. Sua história é a da evolução animal. Nasce pequenininho, depois cresce, tornando-se inteligente, companheiro, amável e elegante. O cavalo conta que quando os seres humanos deixaram de ser nômade para fixarem suas moradas, ele deixou de ser selvagem para acompanhá-los. Isso o tornou amigo fiel dos viajantes, ajudando a matar suas sedes. Sob as batidas de seus cascos no solo, descobriram-se refrescantes fontes de água, que jorraram. Os povos crescerem usando a força do cavalo na migração e na agricultura, quando os seres humanos e as mercadorias foram transportados de um lado a outro.
Com o florescer das grandes civilizações foi preparado para as adversidades. Desempenhou um papel fundamental de força e fidelidade, indispensável nas disputas de poder e glória nas lutas engajadas por imponentes realezas. Foi rodeado por escudos, lanças, espadas e vitórias. Foi materializado como gigante de madeira. Invadiu e destruiu Tróia como “presente de grego” que atravessou o limiar do tempo e do espaço. Foi eternizado em lendas em um mundo de encantamento. Os povos antigos o tiveram em mente. Entre os deuses, foi escolhido o condutor divino das cortes celestiais, criador de riquíssimos significados místicos influenciadores do comportamento humano e de sua infinita imaginação.
Sob a forma de um magnífico presente de Alá, o cavalo é o símbolo da criação, ao reunir em seu espírito as qualidades de outros animais. Têm olhos tão potentes quanto os da águia. O faro tão sensível quanto o do lobo. A velocidade da pantera. A resistência do camelo. A coragem do leão. A memória privilegiada do falcão. A elegância do caminhar da corsa. A fidelidade indiscutível do cão. E no fogo cigano da purificação conduz o Senhor aos campos celestes da libertação final. Com quatro patas e uma incrível força, é companheiro legítimo que puxa carroças, charretes, carruagens, bondes. Ajuda os caixeiros viajantes, facilita o comércio, colocando o mundo em movimento e expansão.
Ao chegar centro do Velho Mundo, a Europa, o cavalo se tornou relíquia da nobreza. Em Portugal é conhecido como Alter Real - a estrela que voa. É a raça estimada pela Corte lusitana. No então chamado Novo Mundo, o cavalo aportou. Foi presenteado pelo rei português ao barão de Alfenas. Do cruzamento com outros de raças ibéricas, que aqui chegaram durante a época da colonização, renasceu no sul de Minas Gerais como o puro sangue do Brasil. Naquela terra foi onde se reuniam diversos núcleos produtores de ouro, pedras preciosas e café, que garantiram o abastecimento da Corte, então sediada no Rio de Janeiro. Quantas viagens o cavalo fez entre as fazendas e caminhos da Estrada Real entre Minas e Rio.
Nessa Estrada transitaram vários protagonistas da história construída sobre o dorso do cavalo que surgiu como estrela dessa terra... Eu sou o Mangalarga Marchador, um animal sem fronteiras, uma grande paixão, de beleza forte, andar macio e comodidade que me fizeram brilhar. Sou esplendoroso, ágil, leve, sadio, ativo e dócil, detenho qualidades extraordinárias que lançam a minha raça, genuinamente brasileira, no cenário mundial, espalhando-se pelos caminhos da vida. Esta sinopse foi assinada pela Comissão de Carnaval da Beija Flor que é integrada pela pesquisadora Bianca Behrends, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor, André Cesari e pelo também diretor de Harmonia Laíla.
*jornalista – é torcedor da Portela e foi um dos fundadores do Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba Quilombo (1976) e da Sociedade Cultural Apóstolo do Samba (1979).