Crise econômica cria risco de 'primavera europeia' é o título de uma análise que devemos avaliar com máxima atenção (acesse íntegra aqui).
Seu autor é Gavin Hewitt, editor de assuntos europeus da BBC News.
Aborda a crescente rejeição dos povos à criminosa diretriz capitalista de sacrificar gente para salvar bancos.
Nem é preciso dizer que, se aflorar um movimento de contestação à ditadura fiscal em toda a zona do euro, o castelo de cartas do capitalismo poderá começar a cair.
Só não concordo com qualificar tal possibilidade de risco. Melhor seria dizer chance.
Pois se trata da melhor novidade que eu poderia anunciar num 1º de maio: talvez a tão aguardada réstia de luz já esteja despontando no fim do túnel.
A Europa começa a despertar do pesadelo das duas últimas décadas, quando o capitalismo triunfante fez avançar a desumanização, a desigualdade e as injustiças sociais a patamares inauditos.
Mas, o homem não consegue viver indefinidamente sem compaixão. Então, a cada ciclo de submissão ao mercado, com a consequente imposição de rigores e sacrifícios inúteis, segue-se um novo ascenso revolucionário. A História nunca tem fim.
Leiam e reflitam:
"A batalha pela Presidência da França é um precedente para a batalha pela Europa.
François Hollande - o candidato socialista e favorito para vencer as eleições da França - se colocou na vanguarda do primeiro movimento antiausteridade. Ao fazer isso desafiou Angela Merkel e a liderança alemã.
O candidato francês promete renegociar o chamado pacto fiscal (tratado que visa impôr a disciplina fiscal na zona do euro). Desde que a crise começou, não há tratado mais importante que esse para a chanceler (premiê) alemã.
Merkel disse no final da semana passada que ele 'não pode ser renegociado'. François Hollande deu uma resposta contundente: 'Não será a Alemanha que decidirá por toda a Europa'.
Se Hollande ganhar, dirá à Berlim: 'a sua estratégia não está funcionando e o povo francês tomou uma decisão'. Ele quer retomar a ênfase no crescimento econômico.
O primeiro encontro entre os dois líderes será tenso, para se dizer o mínimo.
A Espanha será o foco das atenções da França e da Alemanha. Segundo um ministro espanhol, o país está 'numa crise de enorme magnitude'. Ele comparou o país ao Titanic e alertou os alemães: 'se houver um naufrágio, até os passageiros da primeira classe se afogarão'.
Os mercados não acreditam que a Espanha conseguirá reduzir seu deficit para 5,3%. Seus bancos ainda estão se recuperando da perda de bilhões em 'empréstimos podres' da bolha imobiliária do país. Além disso, 367 mil trabalhadores perderam seus empregos nos três primeiros meses do ano.
A resistência à austeridade é crescente. No fim de semana aconteceram protestos contra os cortes na saúde e na educação.
Mais protestos estão marcados para 3ª feira em frente a um encontro do Banco Central Europeu em Barcelona. Além disso, os 'indignados' espanhóis podem repetir as ações do ano passado na metade deste mês de maio. Uma grande economia -que corresponde ao dobro das três economias já resgatadas- está prestes a necessitar ajuda.
No próximo domingo, os gregos terão eleições parlamentares. Eles ainda têm que implementar algumas medidas de austeridade que estavam entre as condições para a concessão de um segundo resgate negociado no mês passado.
É possível que a maioria dos parlamentares eleitos se oponha a cortes adicionais de gastos. A Grécia pode voltar a ficar em crise.
No final de maio, os irlandeses opinarão sobre o pacto fiscal em um referendo. Os italianos estão realizando eleições locais. A população europeia está tendo uma chance para julgar a questão da austeridade. Na semana passada dois governos - da Holanda e da Romênia - caíram por causa dela.
Uma grande falha está sendo exposta no pacto fiscal de Merkel. Ele não é democrático. Também deixa de mãos atadas os futuros governos - e essa, de fato, era a intenção do tratado, mas ele não impede que os eleitores se oponham a mais cortes.
Na zona do euro, déficits estão sendo reduzidos. Mas o débito - em muitos casos - ainda está aumentando. O crescimento econômico é praticamente inexistente. A recessão voltou a países como Espanha e Itália. A diferença entre as economias do sul da Europa e a alemã amplia-se cada vez mais.
Entre a cúpula da União Europeia cresce um temor de que a revolta contra a austeridade os atinja. Na semana passada, 30% dos franceses apoiaram partidos hostis ao bloco.
O resultado foi justificado como populismo - embora essa seja a explicação padrão para qualquer forma de crítica. Porém, aqueles eram os votos de pessoas reais.
O economista Nouriel Roubini descreveu a crise na eurozona como 'um descarrilamento em câmera lenta'.
Enquanto entramos em maio percebemos sinais de que a revolta contra a austeridade está ganhando força. Se isso acontecer será uma fase nova e imprevisível da crise europeia.
Do blogue Náufrago da Utopia