Observe-se: 1948 é o ano de fundação da ONU e também da Apartheid a lei de segregação étnico-racial imposta pela minoria branca contra a maioria não-branca constituída quase totalmente de negros. Tanto a ONU quanto a lei/regime sul-africana Apartheid surgiu logo depois da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) cuja carnificina global foi estimada ter custado 01 trilhão e 500 bilhões de dólares, ter envolvido 72 nações significando 110 milhões de homens e mulheres dos quais 50 milhões morreram, 28 milhões ficaram mutilados. Isto é, na 2ª Guerra Mundial menos de 30% das pessoas envolvidas não sofreram morte ou ferimento. Tudo isso porque o nazifascismo pretendeu dominar o mundo.
O nazifascismo é uma ideologia de lesa humanidade que foi aniquilada ao ser derrotada na 2ª Guerra Mundial. Porém, permaneceu a ideologia de dominação baseada na diferenciação étnico-racial utilizada como opressão de uma classe social e ou povo sobre outro (racismo) independentemente de estar ou não institucionalizado conforme a lei/regime sul-africana Apartheid. Ao instituir no ano de 1976 a data de 21 de março como Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação ‘Racial’ a ONU quis matar dois coelhos com uma só cajadada. Agradar aos países membros especialmente aos africanos e da diáspora como também desqualificar a citada frase histórica cunhada por Steve Biko.
Não por outra razão, Biko e sua célebre frase “Racismo e capitalismo são os dois lados da mesma moeda” desde então jamais foram lembrados pela ONU, pelos governos de seus países membros e mesmo por movimentos negros e ou partidos políticos – do Brasil e do mundo afora - que se autoproclamam anti-racistas. Para se ter idéia, desde 21 de março de 1976 quando o instituiu oficialmente como Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação ‘Racial’ a ONU faz menção, por exemplo, aos mesmos e históricos 21 de março de 1975 e de 1990, respectivamente datas das independências dos países africanos Etiópia e Namíbia. A seguir, o que a ONU fez tentando apagar da História, Biko e sua célebre frase.
Com tal propósito, a ONU em 2001 bancou a peso de ouro na cidade sul-africana de Durban a 3ª Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação ‘Racial’, Xenofobia e Intolerância Correlata. De tal suntuosa conferência participou numerosas delegações de movimentos negros do mundo inteiro, dentre as quais a do Brasil apadrinhada pelo nada saudoso então presidente FHC. Na oportunidade erigiu de tal evento o Plano Durban que busca adaptar a ideologia e ou a crença fundamentalistas da existência ‘raças’ entre os seres da espécie humana (racialismo) às ações afirmativas criadas pelo jusrisfilósofo burguês e mukala (branco) estadunidense John Rawls (1921-2002).
No Brasil, por exemplo, o então presidente Lula acabou sancionando uma histórica reivindicação dos movimentos negros, a Lei 10.639/2003, denominada racialistamente como “Cultura Afro-Brasileira”. Ou seja, tornando obrigatório no Ensino Fundamental e Médio a história, as culturas e as lutas dos negros desde o Continente Africano até países da diáspora como o Brasil. Esta Lei seria correta caso seu cumprimento, isto é, se os cursos de capacitação dos professores fossem ministrados por graduados pertencentes a todas as correntes do pensamento didático-pedagógico. Afinal seria ensinado como o capitalismo e o racismo são historicamente irmãos siameses, conforme preconizou Steve Biko.
No entanto, como a ONU é uma instituição subserviente, para agradar ao desgastado imperialismo do nada saudoso presidente estadunidense George W Bush, enviou uma tropa internacional de ocupação militar ao Haiti, a farsante MINUSTAH (Missão de “Paz” para Estabilização do Haiti). Para isto a ONU contou com idêntica subserviência do então presidente Lula ao enviar tropa brasileira para comandá-la. É tamanha a subserviência aos países imperialistas de seu conselho de segurança como o anfitrião EUA mais Reino Unido, França e Alemanha, que a ONU (diferentemente do que parece) passou a ter um histórico de omissões acerca de violações aos direitos humanos. A seguir.
Por exemplo, a ONU nunca moveu uma palha, nunca deu um pio sobre o caso do jornalista e militante anti-racista o negro estadunidense Mumia Abul Jamal, preso há anos e na fila para cumprimento da pena de morte, uma vez que ele é vítima de falsa e racista acusação de ter assassinado um policial branco. Isso, apesar do ano de 2011 ter sido paternalistamente denominado pela ONU como “Ano dos Afrodescendentes”. O mesmo ocorre em relação aos crimes de lesa humanidade como estupros coletivos acobertados no Haiti pela MINUSTAH e também em relação aos genocídios em diferentes países e regiões do Continente Africano. A seguir, as reivindicações do brasileiro Movimento Negro Socialista (MNS).
01 – Fim da MINUSTAH tendo conseqüentemente outro tipo de ajuda humanitária ao Haiti assim como o imediato retorno das tropas de ocupação militar aos seus países de origem, a começar pela brasileira que as comandam.
02 – Liberdade para o mencionado jornalista e militante anti-racista o negro estadunidense Mumia Abul Jamal.
03 – Um Tribunal mundial autônomo em relação à ONU para julgamento e punição exemplar dos citados crimes de lesa humanidade no Haiti e no Continente Africano.
*José Carlos Miranda (coordenador geral), Vera Lúcia Pereira a ‘Vera Favero’, Roque José Ferreira, Estéfane Emanuele e Almir da Silva Lima (membros).