RENATA DIAS GOMES: Uma jovem escritora em movimento

A teledramaturgia brasileira está em transformação. Novos autores surgem a todo instante. Alguns permanecem e outros desaparecem. O grande auge das telenovelas foram os anos 70. As televisões se estruturavam, algumas redes fechavam suas portas e outras surgiam.
Com o tempo o produto foi se desgastando e houve a necessidade de novos escritores. Os grandes nomes relacionados a telenovela brasileira foram Janete Clair e Dias Gomes. Coincidentemente casados e Janete responsável pela novela que deixou a marca da “Namoradinha do Brasil” por “Selva de Pedra” e Dias de a “Viúva do Brasil” por “Roque Santeiro”, ambas para Regina Duarte.

Hoje um nome que vem aparecendo é o de Renata Dias Gomes. O sobrenome não é mera coincidência, uma vez que é neta dos autores famosos, Janete Clair e Dias Gomes.


Janete Clair, nome artístico de Jenete Stocco Emmer Dias Gomes. (Seu nome era realmente Jenete e não Janete como todos a conheciam). Foi uma das maiores escritoras brasileiras e criadora das melhores telenovelas brasileiras. O sobrenome Dias Gomes vem do marido, o também dramaturgo Alfredo de Freitas Dias Gomes. Janete morreu precocemente no dia 16 de novembro de 1983, vitimada por um câncer de intestino, enquanto escrevia a novela “Eu prometo” que foi terminada pela colaboradora Gloria Perez e por seu viúvo Dias Gomes”.


Alfredo de Freitas Dias Gomes, conhecido apenas por Dias Gomes. Dramaturgo, autor de telenovelas e membro da Academia Brasileira de Letras. Em meio a um trabalho para a televisão, a minissérie Vargas, Dias Gomes morreu vitimado a um acidente automobilístico ao sair de um restaurante em São Paulo no dia 18 de maio de 1999”.

RENATA DIAS GOMES

Entrevista:
Marcelo Rissato: Fale um pouco sobre você. Quem é a Renata Dias Gomes?
Renata Dias Gomes: Acho tão difícil falar sobre mim... Sou uma mulher intensa, daquelas que faz tempestade em copo d´água e sempre mergulha de cabeça e bem fundo em tudo. Sou essencialmente escritora, completamente workaholic, apaixonada e muito dedicada aos meus filhos, ao meu marido. Viciada em mate e em tomar o mate com os amigos.

MR: Onde você nasceu e qual a sua descendência? Você é neta do Dias Gomes e da Janete Clair, dois ícones da dramaturgia brasileira. Pode falar sobre eles?
Renata: Nasci no Rio de Janeiro, mas quase toda minha família é da Bahia. A exceção é minha avó Janete que nasceu em Conquista, Minas Gerais, e era filha de libanês. A família da minha mãe não é ligada a arte, mas veio toda da boa terra. Quando meu avô materno tinha dezoito anos, passou em primeiro lugar no concurso do Banco do Brasil no Brasil inteiro e um tempo depois foi transferido para o Rio. Minha mãe nasceu aqui no Rio. Meus avós paternos eram escritores e são minha maior fonte de inspiração. Ele baiano, ela mineira, mas se conheceram em São Paulo e vieram para o Rio quando ela estava grávida do meu tio mais velho. Meu pai também nasceu aqui. Por influência da minha avó, minha mãe tentou a carreira de atriz e meu pai sempre foi baterista desde criança. Dessa mistura louca nascemos eu, escritora, e minha irmã que é psicóloga e está investindo na carreira de cantora.

MR: Hoje você é uma escritora. Você acredita que seus avós influenciaram em sua escolha? Essa influência foi negativa ou positiva?
Renata: Eu sempre quis ser escritora e ter dois grandes exemplos dentro de casa, com certeza me ajudou muito.

MR: Como iniciou sua carreira?
Renata: Eu sempre escrevi poesias, contos e peças de teatro. Na hora de escolher a faculdade, optei por estudar cinema. Depois mandei currículo pra literalmente todas as produtoras do Rio de Janeiro. Duas delas responderam imediatamente, e comecei a trabalhar escrevendo institucionais. Um tempão depois uma daquelas produtoras que eu tinha escrito me procurou e me chamou pra escrever um programa pra TV Escola que foi minha primeira experiência com teledramaturgia. Depois disso a Glória Perez conseguiu pra mim uma bolsa de estudos pra fazer a maratona de roteiros da AR. Lá conheci o Tiago Santiago que topou ler um roteiro meu, gostou e me indicou pra ser contratada pela Record e trabalhar com a Margareth Boury.

MR: Você já trabalhou como atriz, diretora ou gosta mesmo é de escrever?
Renata: Gosto mesmo de escrever, sempre soube que era isso que queria fazer.

MR: Hoje, qual a sua ligação com a televisão?
Renata: Em primeiro lugar sou noveleira. Adoro assistir novela. Mas hoje assisto muito menos do que gostaria por conta da rotina com as crianças. A TV aqui em casa durante o dia fica mais tempo desligada porque evito que as crianças assistam. Pra mim, na idade deles, têm que pular, brincar, correr. Apesar disso Maiara (minha filha) assiste e gosta de seriados e desenhos pra faixa etária dela. A TV é também o veículo que escolhi pra contar as minhas histórias e batalho pra isso.

MR: Você tem passagem pelo teatro e cinema. O que você prefere, trabalhar com cinema, teatro ou seu objetivo mesmo é a televisão?
Renata: Sou apaixonada por cinema e teatro, mas hoje meu grande objetivo é contar as minhas histórias na televisão e poder chegar a lugares que o cinema e o teatro não chegariam.

MR: Qual a sua maior aspiração hoje?
Renata: Contar as minhas histórias.

MR: Na época do desaparecimento de Janete Clair você era apenas um bebê, assim não chegou a conhecer realmente sua avó famosa. Dias Gomes morreu em 1999, quando você tinha apenas 16 anos. Como era seu relacionamento com ele, já que foi o avô com quem mais conviveu?
Renata: Eu tinha 15 anos quando meu avô morreu. Ele era pra mim o melhor avô do mundo. Um cara um pouco fechado, mas muito divertido e muito preocupado com a família. Ligava todo dia pra saber notícias da gente e conversar com meu pai. Fazia questão de reunir todos os cinco filhos nas festas que dava em casa e é essa imagem do grande patriarca que guardo com muito carinho.

MR: O que significa a família pra você?
Renata: Aprendi com meu avô a cultivar as relações familiares e acho importante preservá-las. Sempre temos problemas, mas a família é nosso porto seguro. E com meus filhos e meu marido tento ser um ambiente harmônico pra que as crianças possam crescer felizes e seguras.

MR: Seus pais também são artistas?
Renata: Meu pai (Alfredo Dias Gomes) é baterista e minha mãe (Neusa Caribé) era atriz.

MR: E hoje, como é sua vida?
Renata: Hoje eu me divido principalmente entre o trabalho de escritora e o dia a dia com a família. Levo os pequenos pra escola, pego, faço questão de ser muito presente. Eles estudam numa escola associativa e procuro participar o máximo possível. Em casa vivemos num caos. Meu marido e eu nos dividimos em mil pra dar conta deles e dos nossos trabalhos. No tempo que sobra, tento fazer minha musculação, ficar um pouco com o marido e sair pra comer, ir a museu. Tom (meu filho) é muito pequeno ainda e por isso estamos afastados da vida noturna, mas meu marido e eu gostamos muito de sair pra dançar samba e forró ou beber um mate (e ele cerveja) a noite no baixo Leblon.

MR: De todos os seus trabalhos, qual o que você destacaria? Pode falar sobre ele?
Renata: Cada trabalho tem um espaço especial na minha história. Mas sempre destaco dois: A novela “Alta Estação” na Record, porque foi o primeiro e aprendi muito com a Margareth Boury que entende tudo de ritmo e diálogos e a nova versão da novela “Uma Rosa com Amor” do SBT porque tive o privilégio de conhecer melhor a obra genial do Vicente Sesso, trabalhar com o Tiago Santiago que foi quem me levou pra TV e escrever junto com o Miguel Paiva de quem sempre fui fã!

MR: Seu último trabalho na TV foi no SBT como colaboradora da novela “Amor e Revolução”. Como foi essa experiência?
Renata: Foi uma experiência difícil. Amor e Revolução foi uma das experiências mais complicadas que tive na TV. A novela passou por muitos momentos difíceis, mas exatamente por isso foi também um período de muito aprendizado.

MR: A sua entrada no SBT teve algo a ver com a negociação do acervo da Janete Clair com a emissora?
Renata: O Sílvio Santos me chamou pra conversar na época que comprou o acervo. Ele queria que eu fosse adaptar as novelas da minha avó. Mas não pude aceitar o convite porque estava no meio de “Chamas da Vida” na Record e porque acho responsabilidade demais para uma escritora iniciante como eu adaptar Janete Clair. Depois ele me chamou de novo por indicação da Iris Abravanel que gostou dos comentários que eu fiz sobre a novela dela no twitter.

MR: Quando que você começou a escrever pela primeira vez?
Renata: Não sei responder, não lembro. Acho que escrevo desde que comecei a ler e escrever. E acho que aprendi a ler e escrever  sozinha aos quatro anos justamente pra poder contar as minhas histórias.

MR: O que você espera para o futuro? Quais seus projetos?
Renata: No momento estou completamente dedicada a colaborar com a Ingrid Zavarezzi e a Ana Moretzhon em Malhação na Globo. Mas meu sonho é contar as minhas histórias na TV.

MR: Você acha o sucesso importante?
Renata: Se sucesso significa levar minhas histórias a muitas pessoas, com certeza é importante!

MR: Você gostaria de ser comparada a Janete Clair?
Renata: Minha avó foi a maior de todas e é sem comparação.

MR: Renata, você não acredita que carrega um grande peso em seu sobrenome?
Renata: Acho que existe uma expectativa grande por causa do meu nome, sim. Mas eu não sinto ainda a cobrança, talvez porque, independente do sobrenome, eu me cobro mais do que qualquer pessoa. Prefiro olhar o lado bom de ser neta deles e ter dois grandes exemplos pra me inspirar.

MR: Seus avós sempre escreveram para a Globo. Você começou escrevendo para Record e depois foi para o SBT. Como você encara essa nova empreitada agora sendo recém-contratada pela Globo? Você acha que o nome vinculado a uma rede de televisão como a Globo ajuda? Ou isso é mito?
Renata: Cheguei a Globo agora e estou achando emocionante trabalhar na empresa que meus avós ajudaram a construir. Mas também adorei trabalhar no SBT e na Record. Eu gosto de escrever, seja onde for. E acho a abertura de mercado boa pra todos nós que trabalhamos com isso. Mas é lógico que a Globo por produzir novelas há muito mais tempo do que todas as outras tem muito mais estrutura pra ajudar a contar histórias.

MR: Renata, agradeço pela atenção e carinho. Desejo-lhe grande sucesso.

Jogo rápido com Renata Dias Gomes

Uma palavra: Sonho
Um sonho: Escrever minhas novelas
Família: Amor
O que mais quero: Ser feliz
O que não quero: Não sei
O que mais gosto em mim: Meu bom humor
Não gosto: Da minha ansiedade
Alegria: Os nascimentos de meus filhos
Tristeza: A perda de meu avô do jeito que foi
Uma autora: Janete Clair e Glória Perez
Um autor: Dias Gomes e Cassiano Gabus Mendes
Um peça de teatro: O Rei de Ramos
Um filme: Ladrões de bicicleta
Uma novela: Que rei sou eu?

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