Chegou com os primeiros raios do sol da manhã. Saiu, deixando uma certa paz nos corações dos que amavam aquele enfermo.
Deixando uma imensa gratidão no íntimo de todos da casa.
Sei que este médico, durante longos anos, trabalhou em um hospital público, sempre passando para os clientes um pouco de sua aura luminosa.
Ali, antes de aposentar-se, um tanto a contragosto, ele desfrutava da alegria de estar lidando com os mais pobres, os muito pobres; enfermos crucificados pelas mãos do poder insensível.
O fato presenciado levou-me a refletir sobre o papel decisivo que as mãos exercem no destino da humanidade.
Há mãos que alimentam, que plantam, cozinham, que curam, que amenizam a dor, que oram, se unem em preces pelos homens, pela paz, pelo fim da miséria e da guerra, para que os “empresários” dos conflitos sangrentos possam olhar com mais elemência para os desvalidos que nascem, vivem (?) e morrem nas ruas, para que suas armas disparem flores e pão, deixando de lado sua natural utilidade- diria melhor, inutilidade, no mínimo.
Sim, as mãos são instrumentos para o bem e para o mal.
Felizes aqueles que sabem fazer bom uso delas, como o médico que suscitou estas reflexões.Ele entrou na casa do enfermo, com expressão afável, mas sem muitos sorrisos; com aquele ar difícil de ser verbalizado; mistura de amor fraterno, zelo profissional, cuidado em não se mostrar muito alegre, sabendo que ia deparar-se com o sofrimento, não sei... È freqüente, todavia, ele me transmitir este algo que não consigo identificar plenamente, mas que acalma, consola, acalenta e reanima.
Enfim, uma presença amiga tem sempre uma grande carga positiva. Muitas pessoas já disseram isto. Também muitas pessoas jamais a sentiram. Às vezes, é tão simples; um sorriso, uma demonstração de afeto ou de solidariedade...
Atitudes aparentemente pequenas podem erguer o moral de quem atravessa momentos difíceis ou- o que é pior- dos que vivem em permanentes momentos difícies.
Sei lá, mas tenho para mim que as mãos orantes têm permitido que o mundo não desmorone de vez. Isto, penso eu. Em regiões como a Bósnia ou o Líbano, as pessoas já sentem que o mundo desmoronou, já perderam suas perspectivas, suas metas, as vidas de parentes e amigos, suas casas, o pão cotidiano...Tanta coisa...
Insistimos, porém, apesar das imagens dolorosas que os meios de comunicação nos transmitem, em fazer de nossas mãos fontes de calor para os que se congelam em todos os sentidos.
As mãos do médico, com quem estive ontem, são um modelo de carinho, de afeto, de boa-vontade...Se todas as mãos fossem como as dele...!(NC)
Regina Cotilla