Distopias são realidades imaginadas em um futuro pior do que o presente que vivemos. Talvez duas das mais famosas sejam os romances “Admirável Mundo Novo” e “1984”, respectivamente de Aldous Huxley e George Orwell. Agora temos uma terceira agonia e alegoria existencial, como filme “A luz no fim do mundo”.
Produzida, dirigido e protagonizado por Casey Affleck, a obra tem todas as características de um intenso projeto pessoal, com a entrega do ator a uma história que busca valorizar – e consegue – o amor incondicional de um pai por sua filha e vice-versa, como aponta o comovente final, em que as situações começam a se inverter, com a menina cuidando dele.
Em uma sociedade em que as mulheres foram dizimadas, o protagonista faz de tudo para proteger a sua filha adolescente. Para isso, veste-a com roupas de menino e procura escondê-la, mas é impossível não achar outros homens na região fria e de floresta que habitam. E esses encontros são literais combates pela existência.
A tortura é física e mental. E uma maneira de fugir dela é contar histórias. O pai narra a sua própria versão da Arca de Noé, significativamente sobre casais de animais que conseguem se salvar do fim do mundo, mas a menina cada vez mais percebe que essas narrativas têm muito de elementos biográficos e pouco de fantasia.
Quando o pai é gravemente ferido em mais um embate para assegurar vida aos dois, ela deixa claro que sabe que a afirmação do pai de que existe um local melhor, com pessoas que são amorosas e não violentas, não passa de uma utopia. O mundo que lhes coube viver é o da luta permanente. E somente os mais fortes e aptos se mantém de pé...
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.