O tempo sempre é um grande desafio. Por um lado, traz experiência; mas, por outro, gera um desgaste natural do corpo e da mente sob diversos aspectos. Um deles poucas vezes foi tão bem tratado no cinema como em ‘Boyhood’, comercializado no Brasil com o subtítulo ‘Da Infância à Juventude’.
O filme, dirigido por Richard Linklater, ganhou destaque por ter demorado 12 anos para ser concluído. A história apresenta a jornada de um casal de pais divorciados para criar o seu filho. A narrativa acompanha o menino desde a entrada na escola, aos 6 anos, até a faculdade, aos 18.
O gancho principal é o seu relacionamento com os pais à medida que ele cresce. O tema encanta justamente por ser parte do cotidiano de todos nós. Mas o que mais impressiona é o processo de realização, pois foi filmado entre 2002 e 2013, durante três a quatro dias por ano, num total de 39 dias de filmagem realizados anualmente em Austin, Texas, EUA.
Para muitos, o filme decepciona. Talvez porque busquem ele uma grandiloquência que ele não oferece. A questão é que ele não tem essa pretensão. São enfocados amores e conflitos de maneira sóbria e delicada. Para a maioria de nós, de fato, a vida não é feita de fatos inesquecíveis. E conviver com o cotidiano pode não ser simples, pois demanda redução de ego e apego aos detalhes. O tempo nos ensina isso.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.