Não são poucos os que acreditam que tudo já foi dito e que existe pouco espaço para a criatividade e a originalidade. Esses precisam ver, com urgência, o filme ‘American Animals’, de Bart Layton. Temos ali uma maneira poderosa de tratar de uma história real numa mescla de drama e de humor difícil de encontrar.
Talvez o grande segredo esteja no foco utilizado ao tratar de quatro jovens americanos que fracassam na tentativa de roubar de uma biblioteca o clássico livro ‘As Aves da América’, do autor John James Audubon, e ‘A Origem das Espécies’, do naturalista Charles Darwin.
O foco diferenciador é analisar a motivação deles, principalmente dos dois líderes do grupo. O eixo central está na convicção deles de serem especiais ou de poderem ser em algum momento. Para isso, seria necessário realizar uma ação impactante e inesquecível. Falta, porém, o conhecimento necessário para uma ação desse porte, já que as principais referências dos rapazes para fundamentar a ação são apenas filmes, como os de Quentin Tarantino.
Cada jovem tem a sua motivação própria, e todos buscam o sucesso da operação com obstinação e ingenuidade. As cenas ficcionais são alternadas com entrevistas com os envolvidos e condenados e seus pais, numa mescla entre ficção e realidade cada vez mais presente no cinema contemporâneo.
Tudo contribui para mostrar que inovar continua sendo possível, desde que se esteja disposto a arriscar e a pensar que cada um de nós tem algo de diferente e de especial. Como lidar com isso é que constitui o maior desafio. Os rapazes de ‘American Animals’ tentaram e não conseguiram sucesso, mas a experiência desse processo certamente somou muito.
Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.