É cada vez mais importante na sociedade contemporânea convencer os interlocutores. Pouco interessa se falamos a verdade ou a mentira. O segredo está em tornar o nosso peixe o mais lindo da feira e, sendo assim, pode-se dizer o que se quer e se mostrar a beleza dele como se julgar melhor. O filme francês “O orgulho”, de Yvan Attal, trata de todas essas questões.
Um preconceituoso e racista – mas intelectualmente brilhante, no sentido acadêmico do termo – professor de Direito é obrigado a adotar como pupila uma aluna a quem ofendeu publicamente numa aula. O objetivo é participar de uma competição de retórica. Desse modo, ele, como mentor da aluna vitoriosa, seria absolvido pelos pares.
A jovem estudante, de origem árabe, vive a ambiguidade de ter à sua frente um mestre bem preparado como poucos, mas mergulhado em valores, para dizer o mínimo, discutíveis em muitos aspectos. O fato é que a preparação para o concurso gera uma convivência em que as diferenças são melhor entendidas por ambos: criador e criatura.
O filme é rico por ter, no mínimo, duas portas de acesso: uma é a leitura por meio dos signos de preconceito; e outra, pelos caminhos da retórica. Montar discursos próprios e desconstruir o dos outros é uma prática das mais interessantes, que pode ser ensinada e aprendida. Acima de tudo, é uma estratégia de sobrevivência.
Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.