*Marcos Espínola
Com o avanço da criminalidade que registramos desde a década de 80 tornou-se comum em nosso vocabulário palavras como homicídio, genocídio e feminicídio. Infelizmente, a crescente "onda" de assassinatos de policiais nos últimos anos traz mais uma expressão para a língua portuguesa que retrata a realidade crítica dos agentes de segurança: o policídio.
Há quase 25 anos, de 1994 pra cá foram quase 3.400 policiais mortos, sem contar os mais de 15 mil feridos. Números que revelam outro lado da farda que, além das vidas perdidas e das sequelas muitas vezes irreparáveis, representam um alto custo para os cofres públicos. Mais de R$ 2,32 bilhões, fora próteses, medicamentos e fisioterapia.
O que causa ainda mais tristeza é se compararmos o número de casos solucionados de todos os crimes de homicídio do Brasil. Somente cerca de 8% deles são solucionados e os responsáveis pagam pelo cometido. Se pensarmos nos crimes contra policiais, esses números devem ser ainda piores.
Na são poucos os casos de policiais aposentados por invalidez. Cidadãos mutilados, paraplégicos e tetraplégicos. Seres humanos acamados, dependendo de sondas, fraldas, cadeiras higiênicas e da solidariedade alheia. Histórias trágicas que marcaram as vidas de famílias inteiras. Relatos comoventes e inacreditáveis de quem sobreviveu por milagre à violência urbana.
O lamentável é que muitos desses, que se tornaram estatística, nutriam em si o sonho de vestir uma farda e proteger a população. Viver integralmente o exercício da profissão. A maior parte desse público se sentia feliz em poder combater o crime e proteger direitos e deveres da sociedade, do cidadão. Mas hoje, uns partiram e outros amargam a invalidez e encontram-se feridos e impotentes, física e, principalmente, psicologicamente. Somado ao trauma, ainda há a falta de apoio, de assistência e a dificuldade ao acesso de benefícios que possam proporcionar o mínimo de dignidade para viver.
Enfim, nesse cenário atual, cuja insegurança predomina, o policídio é uma realidade e aqueles que dele escaparam são símbolos da violência desenfreada.
*Advogado criminalista