Estudo divulgado nos Estados Unidos mostrou que a malária matou quase o dobro (1,2 milhão de pessoas) do que o total apontado no relatório da Organização Mundial da Saúde (655 mil) no ano de 2010 em todo o mundo. Pesquisa do Institute for Health Metrics and Evaluation da Universidade de Washington, divulgado na revista Lancet, aponta que as estatísticas das Nações Unidas não consideraram a maior parte das 78 mil crianças e jovens entre cinco e 14 anos e das 445 mil pessoas com mais de 15 anos mortas por este motivo em 2010 – a maioria no continente africano.
Eles também utilizaram como fonte de informação relatórios verbais de autópsias, que não são levados em conta pela OMS.Diante disso, os coordenadores do estudo consideram que a erradicação da doença será mais difícil do que o imaginado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a doença é endêmica em mais de cem países, na quase totalidade em regiões pobres do planeta, e pode atingir centenas de milhões de pessoas.
Como já disse aqui, acompanho com interesse notícias sobre a maleita desde que peguei a dita duas vezes em reportagens no Timor Leste e em Angola. Sorte que tive acesso a médicos, diagnósticos, remédios e tudo o mais. Mas e a maioria da população, que não tem esses recursos e é obrigada a esperar por tratamento nem sempre à mão, nem sempre rápido? Ou, pior, que não tem, ao menos, informação.
O financiamento contra malária foi de US$ 1,7 bilhão, em 2010, e US$ 2 bilhões, em 2011. Em dezembro passado, a OMS informou que o número de casos caiu drasticamente devido a recursos financeiros que permitiram acesso a prevenção e tratamento. Mas ainda é pouco. A organização estima que se fossem aportados, por ano, algo entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões, poderíamos zerar as mortes pela doença.
O Brasil tem desenvolvido importantíssimas pesquisas nesse assunto e é referência no tema. Globalmente, contudo, seguimos na velocidade de investimento para pesquisa de doença de pobre (não é câncer, que também afeta a ricos, por exemplo). O mais triste é que não está se pedindo tanto assim. Tanto do ponto de vista de prevenção (os baratos mosquiteiros, por exemplo), quanto para tratamento e informação à sociedade.
Chocado? Mas por quê? Não é novidade para ninguém que parte irrisória da população mundial tem acesso a boa saúde, da prevenção ao tratamento, enquanto a gigantesca xepa acostumou-se a esperar – em filas de hospitais, sonhando com remédios inacessíveis, convivendo com a falta de saneamento e a inexistência de ações preventivas.
Os mais pobres, por mais que tenham força de vontade e queiram continuar vivendo, não necessariamente conseguem a façanha de esticar a corda. Vão apenas sobrevivendo, apesar de tudo e de todos, ajudando com seu trabalho e, algumas vezes, como cobaias de indústrias farmacêuticas, os que ganharam na loteria da vida a terem uma existência mais feliz.
* Publicado originalmente no site Blog do Sakamoto.
(Blog do Sakamoto)






























