A sabedoria de Ignacy Sachs

Aos 85 anos de idade, o ecossocioeconomista Ignacy Sachs continua ativo e criativo. Nascido na Polônia, ele veio para o Brasil com sua família fugindo da Segunda Guerra Mundial. Já adulto e formado, ele naturalizou-se francês e se tornou o mais famoso teórico e defensor do ecodesenvolvimento. Participou, em 1970, de uma reunião em Tóquio que preparou a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Daí em diante, passou a ser figura indispensável em eventos mundiais que discutem o binômio ambiente-economia. Ele participou da Conferência Rio-92 e se prepara para dar sua contribuição à Conferência Rio+20. No dia 28 de fevereiro último, uma esclarecedora entrevista sua foi publicada no caderno "Razão Social", encartado no jornal "O Globo". Destacamos os pontos mais significativos dela.
1- Posições na Conferência de Estocolmo. Sachs diz que havia várias posições, prevalecendo, no final, a postura de redefinir o desenvolvimento com base num tripé: finalidades sociais, condicionalidade ambiental e viabilidade econômica. A delegação brasileira defendeu o crescimento econômico acelerado, postulando que os problemas ambientais podiam esperar.
2- Índice de Desenvolvimento Humano. Na visão de Sachs, trata-se de um avanço em relação ao crescimento econômico per capita, mas lhe falta contemplar a dimensão ambiental. Não se pode enfatizar um crescimento econômico que vise a atender apenas as necessidades fundamentais do ser humano sem pensar na dimensão ambiental.
3- Ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável. Sachs sustenta que ecodesenvolvimento é um conceito rico, mas que foi substituído por desenvolvimento sustentável, conceito confuso que o desagrada profundamente. No entanto, desistiu de discuti-lo por entender que o debate sobre os dois conceitos foge da questão substantiva. Que se use a expressão desenvolvimento sustentável desde que se esclareça o seu significado.
4- A economia do futuro. Desde a década de 1970, há três posturas: crescimento econômico, socioeconomia bidimensional (foco no lucro e na proteção ambiental) e a ecossocioeconomia tridimensional (com foco no lucro, no ambiente e na sociedade). Esta última vem crescendo ultimamente, mas é preciso um grande trabalho para construir a passagem da segunda para a terceira.
5- Participação dos governos, das empresas e da sociedade na restauração e revitalização dos ecossistemas nativos. James Lovelock, fundador da teoria de Gaia, sustenta que os ecossistemas degradados não precisam de nós para se recuperar. Sachs, contudo, considera que o ser humano deve assumir a responsabilidade pelos estragos que fez e ajudar os ecossistemas nativos a se recuperarem das nossas ações destruidoras.
6- Consumo individual consciente. O ecossocioeconomista defende a priorização de políticas públicas coletivas de ambiente sobre as iniciativas particulares. O consumidor politicamente correto pode até ajudar, mas o peso de todos eles tem efeitos mínimos sobre a recuperação do planeta. Por outro lado, a maioria dos cidadãos ambientalmente corretos considera que, fazendo a sua parte, está dispensado de um compromisso mais profundo na transformação da civilização industrial.
7- A contribuição de estudos para fortalecer a ecossocioeconomia. Sachs exalta a contribuição de Rachel Carson, nos anos de 1960, com seu livro "Primavera Silenciosa", a dos relatórios do IPCC (Intergovernmental Panel of Climate Change) apresentados em 2007 e de outros estudos para uma tomada de consciência coletiva em prol da mudança de civilização.
8- Propostas para a Rio+20. Talvez Sachs seja o pensador mais criativo quanto a medidas práticas que devem ser tomadas para atacar a crise ambiental. Ele propõe que os países membros das Nações Unidas sejam convidados a formularem, nos próximos dois ou três anos, planos de desenvolvimento de longo prazo (10 ou 15 anos) baseados em conceitos comuns, como biocapacidade, pegada ecológica e perfis energéticos. Sachs considera de suma prioridade acelerar o processo de substituição das fontes fósseis (gás natural, petróleo, carvão mineral) e nucleares (centrais atômicas) de energia por fontes renováveis, criando oportunidades de trabalho decente, segundo os termos da Organização Internacional do Trabalho, incluindo aí o emprego e o autoemprego. Paralelamente, a ONU se empenharia em criar um Fundo de Desenvolvimento Socialmente Includente e Ambientalmente Sustentável financiado por 0,75 a 1% do PIB dos países mais ricos. Este Fundo também recolheria um imposto a ser pago pelas emissões de carbono e o valor de pedágios sobre os oceanos e o ar pela circulação de navios e aviões. Os países que compartilham os mesmos biomas devem agir de forma cooperativa.
9- Utopia ou ruína. Sachs é taxativo: ou mudamos a civilização antropocena que criamos e na qual vivemos ou vamos à falência.

 

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