O divórcio da humanidade e da natureza

Uma pesquisa recente mostrou que a maioria das pessoas não sabe como a natureza cria condições para elas viverem. Em termos utilitaristas, elas não sabem para que serve a natureza em suas vidas. Antes, pelo menos, ensinava-se que a galinha nos dava ovo e a vaca nos dava leite. A pesquisa só confirmou o que, empiricamente, alguns estudiosos já sabem. E o que mais espanta é que, mesmo pessoas com formação universitária e pós-universitária, também revelam a mesma ignorância.
Sem tecnologia de ponta, como o telescópio Hubble e o microscópio eletrônico, as sociedades arcaicas do Paleolítico e do Neolítico, reconheciam a importância da natureza em suas vidas. Da mesma forma, a sabedoria das sociedades urbanas antigas incluía principalmente o conhecimento dos segredos da natureza. A humanidade passou mais de 95% da sua existência considerando a natureza como a mais perfeita tecnologia.
Houve abusos, é claro, mas eles nunca chegaram perto dos abusos cometidos pela civilização ocidental, que impôs seu modo de vida às outras sociedades do planeta. O humanismo, a filosofia mecanicista e o iluminismo elevaram de tal modo a preeminência do ser humano que ele se divorciou da natureza. Ele, o ser humano, comportou-se como um marido arrogante que se considerava muito superior em inteligência e cultura à sua esposa natureza. Assim separados, o marido colocou a ciência e a tecnologia no lugar da ex-esposa. Ele tinha tudo para ver os encantos e os saberes da mulher, mas não viu. Sua nova esposa ciência/tecnologia pode mostrar que a ex-esposa natureza tem segredos. O mais importante de tudo é que ela cria condições para a existência do ex-esposo. Sem e la, não haveria uma atmosfera respirável, água purificada, organismos que garantem a produção de alimentos e a recuperação da saúde, decompositores que fazem a limpeza da casa e tantas outras tarefas essenciais gratuitamente.
O ex-marido estudou e chegou ao grau de pós-doutor. Mesmo com tanto conhecimento, não percebeu que a tecnologia mais complexa foi pacientemente construída pela ex-esposa. A tecnologia humana não consegue se ajustar às mudanças em sua volta, qualidade denominada resiliência e que está na moda. A natureza consegue. Um computador e um acelerador de partículas não conseguem se reproduzir. Os seres vivos conseguem. Um moderno avião de guerra não consegue reparar os danos que sofre. A natureza consegue. Ela é um autômato que se autocriou, enquanto a tecnologia humana depende do seu criador.
Um náufrago que conseguiu se salvar e viver solitário numa ilha gostaria de ter um celular, um telefone, um computador, uma televisão, um rádio para, de alguma forma, se comunicar com o mundo exterior e dele saber informações. No entanto, não consegue viver sem respirar, sem beber água, sem comer e sem dormir. Um náufrago com pós-doutorado não saberia sobreviver numa ilha deserta. Sendo assim, o problema não parece estar na educação, mas numa determinada forma de educação. O saber ensinado nas escolas e nas universidades não nos basta mais porque continua antagonizando sociedade e natureza. Precisamos de outros conhecimentos.
Precisamos mudar nossa maneira de ver o mundo. Precisamos criar tecnologias adequadas a cada realidade ambiental. A ciência e a tecnologia padronizadas não nos permitem compreender a diversidade da natureza. Quando aplicadas a esta diversidade - outro grande segredo da ex-esposa -, ciência e tecnologia revelam seu desejo de dominar e de uniformizar. Não que a natureza sucumba totalmente diante da arrogância humana. Porém, ela se empobrece e não presta mais os mesmos serviços à humanidade.
Ricos e pobres, ignorantes e cultos leem nos jornais o anúncio da separação de humanidade e natureza, mas não se interessam pelo conteúdo anunciado. Tocam em frente. Contudo, felizmente, começam a emergir vozes dissonantes tentando mostrar ao ex-marido os fascinantes mistérios da ex-esposa. Pode ser que ele se apaixone por ela novamente.

 

 

 

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